Por Isabela Goes e Luciete Silva, do Setorial de Mulheres do PSOL.
Na sociedade em que vivemos, toda palavra dita tem poder. Poder de convencer, poder de se multiplicar, de invadir as redes midiáticas e sociais. Mas, o valor da palavra é pesado pelo sexo de quem a pronuncia?
Quando uma mulher denuncia com palavras, e até mesmo com provas, que sofreu violências, como assédio ou mesmo tentativa de estupro, sabemos que tais situações não se restringem apenas na esfera investigativa policial e judiciária, no sentido da proteção com a vítima e a preservação de sua imagem e dignidade, não se basta em denúncias e averiguações dos fatos e consequentemente na punição do “culpado”. Como assim? Ora, a mulher que faz a denúncia tem sua palavra e sua vida colocadas em dúvida, muitos casos a imprensa, mídias alternativas como espaços de reprodução de senso comum, as rodas de conversas a desqualificam moralmente, enquanto a palavra do acusado agressor reverbera quase que justificando a agressão, quando não o inocenta sem mesmo ter as investigações apontado tal resultado. Ou seja, a palavra das mulheres não alcança a veracidade dada a palavra do homem, nem mesmo num caso em que as circunstâncias e o arcabouço de evidências demonstram que a mulher não estava no ataque e sim usando todas as suas forças para se defender. Para defender sua vida! Vivemos num país em que, a depender do lugar social, a vítima precisa provar sua inocência.
No inicio desse mês, uma jovem de 22 anos, militante da juventude do PSC de Brasília, veio a público através da Coluna Esplanada, denunciar tentativa de estupro e agressões físicas cometidas pelo pastor e deputado federal Marcos Feliciano (PSC-SP). Desde então existe um bombardeio de informações contra e favoráveis a vitima. Das provas existentes, áudios, registros telefônicos confirmados pela assessoria de Feliciano, ameaças de morte, cárcere privado e coação cometidos pela cúpula do partido da jovem, inclusive pelo assessor-chefe do mandato do deputado acusado, Talma Bauer, que afirmou, em áudio gravado, para a jovem que ela deveria colocar “uma pedra por cima” dessa história, numa nítida tentativa de intimidação. A jovem registrou Boletim de Ocorrência no 3° Distrito Policial de São Paulo e alegou que Bauer chegou a ameaçá-la, dizendo que um “mal maior” poderia acontecer com ela se levasse o caso adiante.
Mesmo com todos esses indícios existe uma intensa e desesperada tentativa de mostrar que ela, mulher jovem e até pouco tempo também congregante da mesma igreja que o Deputado, é uma “puta”, ou que de alguma forma “merecia”, que “está querendo aparecer”, entre outras coisas que sempre ouvimos em casos como esse. O que vemos é umaextrema difamação da jovem. Existem matérias, as quais mostram “prints” onde a jovem mulher se “oferece” para o pastor. Perguntamos, o que essa mulher, estudante, trabalhadora ganharia se expondo dessa forma, a não ser que esteja falando a verdade? Também não esqueçamos as evidências e as prováveis tentativas de forjar provas para tornar a vítima culpada.
O que está dado, inclusive, com silencio da imprensa, é o poder politico que Marco Feliciano tem, principalmente usando de sua influência religiosa.
Não podemos nos calar diante de tais fatos, é fundamental a continuidade das investigações feitas pela policia, mas também é necessária a abertura do processo na Comissão de Ética da Câmara Federal, afinal é obrigação do parlamento lutar contra a violência, inclusive dentro da própria casa.