Estamos vivendo uma crise de grandes proporções, mas é necessário entender quais interesses estão em jogo, tendo como ponto de vista a melhoria de vida do povo brasileiro. A crise política é turbinada pela econômica, por isso seguimos sendo oposição programática e de esquerda ao governo Dilma.
Continuaremos combatendo suas políticas regressivas e questionando as concessões feitas ao grande capital. Diante da atual crise, do ajuste fiscal e da retirada de direitos, é inegável que este governo está afastado dos reais anseios da maioria da população.
Nosso partido, o PSOL, não considera, porém, correto o processo de impeachment movido contra a presidenta Dilma. Esse instrumento, que só pode ser usado quando comprovado crime de responsabilidade, tornou-se uma saída golpista para negar o resultado das urnas, com o propósito de retirar Dilma do poder, buscando um “acordão” para salvar outros citados nas investigações da Operação Lava Jato.
Além disso, está evidente que a troca de governo não significa correção de rumos no enfrentamento da crise. Pelo contrário, vai representar a aceleração dos ajustes pretendidos pelos poderosos, retirando direitos dos trabalhadores e atingindo nossa soberania.
Nosso partido, especialmente nossa aguerrida bancada na Câmara dos Deputados, é conhecido por sua coerência no combate à corrupção em nosso país. Somos favoráveis a toda e qualquer investigação, desde que respeitado o Estado democrático de Direito, sem seletividade ou interferências externas.
É preciso desvendar todas as relações promíscuas entre os Poderes e o grande empresariado, que foram mantidas ao longo de décadas pelo financiamento privado de campanhas eleitorais. No entanto, o que temos presenciado, especialmente com as atitudes do juiz Sergio Moro, é um claro uso político da Justiça, ações que comprometem o trabalho desenvolvido pela Lava Jato.
Atitudes que possuem objetivos midiáticos, rompem regras democráticas básicas e favorecem a estratégia de um golpe institucional.
Temos certeza de que a maioria das pessoas que se mobilizam de forma contrária ao impeachment, inclusive ocupando ruas e demais espaços de luta, não o fazem por acreditar que Dilma faz um governo de esquerda. A maioria não pactua com a promiscuidade que o PT manteve com o empresariado, seguindo os passos e a política dos partidos tradicionais. Diante de clara ameaça ao Estado de Direito gritam bem alto: não vai ter golpe!
O que o Brasil precisa é de uma saída pela esquerda para as crises econômica e política. É necessário promover uma reforma política profunda, com ampla participação popular, que seja eficiente para impedir a privatização dos interesses do Estado brasileiro.
É preciso mudar radicalmente os rumos da economia do país, auditar a dívida pública, taxar as grandes fortunas e baixar a taxa de juros de forma consistente. Propostas não faltam, mas é preciso ter coragem para contrariar os interesses do grande capital.
Não queremos o impedimento de Dilma porque é a materialização de um golpe institucional, mas não queremos também a continuidade da política de austeridade implementada pela presidente. Uma mudança radical de rumos econômicos e políticos é também exigência dos que saem as ruas para evitar o impeachment.
*Artigo publicado originalmente no jornal Folha de São Paulo desta sexta-feira (08/04)