Desde que ficou claro que o segundo mandato de Dilma representaria uma guinada violenta à direita, cujos primeiros sinais apareceram quando da composição ministerial e do pacote de ajuste fiscal, os movimentos sociais buscam se recuperar do baque. Depois de uma campanha polarizada no segundo turno, onde o discurso da esquerda teve como centro os riscos de perda de direitos, ver as conquistas democráticas sendo atacadas pela candidata apoiada pela esquerda no segundo turno é de difícil explicação para muitos.
Luiz Araújo
O fortalecimento da agenda conservadora, destravada pela falência prematura do governo e pelas seguidas concessões feitas para manter Dilma na Presidência, tem sido usada como refúgio para a não solução desta contradição. Mobilizar a base social contra um possível golpe, mesmo que ele esteja sendo imposto a partir do próprio governo (vide o acordão que está sendo costurado na chamada “Agenda Brasil”, com aval da Fiesp, Firjan, Rede Globo e tendo como avalista Renan Calheiros), tornou-se uma tábua de salvação.
A construção de uma frente de movimentos sociais, coordenada pelo MTST, mas que conseguiu atrair para uma pauta mínima de unidade diversos movimentos sociais foi a melhor notícia da recente e complexa conjuntura. Garantir unidade dos setores de esquerda em um ato tendo como eixo uma combinação de luta contra o ajuste e combate ao avanço do conservadorismo possibilitaria sair da paralisia e colocar os movimentos como protagonistas da construção de um caminho à esquerda para a crise.
Infelizmente, numa atitude desesperada, a direção do PT, contando com apoio de parte da direção dos movimentos sociais, decidiu sequestrar o caráter do ato do dia 20, inclusive provocando cisões em vários estados. A produção de chamadas televisivas que transformam o ato em evento de defesa do governo soa como um novo estelionato político. Desta feita, tenta atrair para um navio que está afundando um conjunto bastante relevante de militantes do movimento social, que mesmo tendo sido base do atual governo durante doze anos, são críticos dos rumos atuais, sofrem pressão de suas bases para combater o ajuste fiscal e demais medidas regressivas e sofrem com os efeitos das políticas de austeridade.
Que setores sociais relevantes podem, em sã consciência, sair às ruas para defender um governo que decidiu apostar a sua permanência num acordo com as elites, no qual não só entrega os anéis, mas também abre mão de governar e de cumprir qualquer item que defendeu na campanha eleitoral? Ao tentar o referido sequestro, o PT comete um crime contra a autonomia dos movimentos sociais comprometidos com os eixos previstos originalmente para os atos do dia 20, esvazia e fraciona as manifestações. Os que aceitam tal estelionato se afastam dos anseios de suas bases sociais.
O PSOL apoia os eixos construídos pelas entidades do movimento social e orienta a sua militância a participar de atos que reforcem a luta combinada contra o ajuste e contra o avanço conservador, duas faces da mesma moeda da crise econômica e política que vivemos. Não se construirá alternativa de esquerda sem forte mobilização social com estes dois eixos. E, obviamente, manteremos distância e criticaremos de forma veemente as tentativas de realizar atos pró-Dilma, dos quais poucos militantes conscientes se prestarão a participar.
Luiz Araújo é presidente nacional do PSOL