25 de julho é dia de saudar a resistência das mulheres negras que – embora estejam mantidas à margem da história oficial – combateram firmemente os longos anos de regime escravocrata, lutaram contra a ditadura, contra a esterilização em massa e estão na luta contra o genocídio do povo negro, contra a redução da maioridade penal, pela garantia e ampliação de direitos trabalhistas e sociais, pelo direito à terra, por maior participação política, por respeito. É momento de olhar com atenção para realidade dessas mulheres que ainda continuam ocupando os espaços mais desprivilegiados e explorados da sociedade.
No Brasil a vida das mulheres está marcada pela opressão patriarcal, pela violência (de ordem física, moral, psicológica, patrimonial, sexual), pelos ataques aos direitos sexuais e reprodutivos entre outras chagas. Agir diante desse cenário requer a compreensão da complexidade cultural, étnico-racial, social e econômica que existe por trás do termo “mulheres”. E em um país que não superou as mazelas deixadas pela escravização do povo negro e onde as mulheres negras correspondem a cerca de um quarto da população ser mulher e negra é algo ainda mais perigoso.
Prova disso: de acordo com o IPEA, a expectativa de vida das mulheres negras é menor em comparação às brancas, o que provavelmente está relacionado às menores condições (ou falta) de acesso a serviços de saúde e assistência e maior exposição a situações de violência. É sabido também que a mortalidade materna é maior entre as negras, assim como o analfabetismo; são as mulheres negras que recebem os menores salários; uma em cada quatro jovens negras entre 15 e 24 anos não estuda nem não trabalha; além disso, as negras são as mais atingidas pelo desemprego. Em tempos de crise e ajuste fiscal são elas as mais afetadas com os novos critérios de acesso ao seguro-desemprego, à pensão por morte e outros benefícios trazidos pelas Medidas Provisórias nº 664 e 665 e com as tentativas de retiradas de direito da classe trabalhadora, como o Projeto de Lei 4330/2004 (a PL da Terceirização).
Esses são alguns dos fatores que evidenciam a necessidade de forjar um feminismo a partir das experiências afro-latino-americanas. Sim, um feminismo afro-latino-americano, pois afinal as proximidades regional e histórica impõem que a luta contra o machismo e o racismo ultrapasse as fronteiras dos territórios nacionais. Assim, mais uma importante tarefa trazida pelo 25 de julho é fortalecer os laços de solidariedade entre as mulheres negras da América Latina e do Caribe.
No âmbito do partido, o III Encontro de Mulheres do PSOL, que expressou a diversidade de suas filiadas, deu um passo importante: a aprovação do indicativo de paridade étnico-racial na composição da nova direção do Setorial de Mulheres. Um partido que luta pela transformação da ordem societária vigente, buscando um mundo mais justo e igualitário, precisa ter o firme compromisso de construir um feminismo classista e com cor, porque a revolução não será feita sem as mulheres negras.
Viva Dandara! Viva Tereza de Benguela! Viva Aqualtune! Viva Thereza Santos! Viva Lélia Gonzalez! Viva a Marcha das Mulheres Negras! Viva a luta das mulheres negras!