Texto do mandato Ivan Valente apresenta questões sobre o aumento da tarifa de água proposto pela Sabesp, como forma de garantir o lucro dos acionistas, onerando cada vez mais a população.
Sabesp quer aumento de tarifa acima da inflação
Mesmo em meio a maior crise de abastecimento da história de São Paulo, a Sabesp estuda propor um aumento tarifário extraordinário além do reajuste pela inflação previsto para abril. O problema é que a Sabesp teve uma queda brutal no seu faturamento com a redução do consumo causado pela crise hídrica, além disso a empresa está endividada em dólar e sem proteção para a desvalorização cambial. O aumento seria uma saída para mitigar a forte deterioração de sua situação financeira. Ou seja, a população, além de arcar com a falta d ́água ainda terá que pagar mais caro por seu consumo para sanar os erros cometidos pela administração da empresa e pelo governo Alckmin.
Nos últimos anos a Sabesp navegou em céu de brigadeiro, remunerou seus acionistas com cerca de R$ 5 bilhões em dividendos, viu o valor de suas ações crescer e não se preocupou com planejamento e investimentos para possibilidade de períodos longos de estiagem e queda no nível dos reservatórios e perda de água na rede. Foram só lucros. E lucro fácil. Explorando ao máximo e sem nenhum controle o sistema de bastecimento, em especial o Cantareira, o mais lucrativo de todos. Gastando mais do que tinha nos reservatórios, para manter o lucro dos acionistas e as ações em alta, e sem nenhuma campanha séria de incentivo para a economia no consumo. Economizar pra quê, se na lógica capitalista quanto mais consumo mais lucro.
Agora a situação se modificou por completo, forçada pela crise hídrica a provocar a redução do
consumo com cortes no fornecimento e queda na pressão na rede e ao mesmo tempo tendo que conceder desconto aos clientes que conseguem economizar, a Sabesp viu suas finanças também entrarem em crise. A queda das ações na Bolsa, e a pressão dos acionistas e credores por medidas urgentes leva a empresa a jogar a conta nas costas da população.
Para se ter uma ideia, quase 40% da dívida da empresa, que somava R$ 9,6 bilhões no terceiro
trimestre de 2014, é denominada em moeda estrangeira, principalmente dólar. Com as frequentes desvalorização do real no último período essa dívida só tem aumentado. O mais preocupante é que a Sabesp tem feito cortes nas suas despesas para evitar descumprir cláusulas contratuais com os credores, ou seja, num momento de crise em que a empresa deveria estar voltada para resolver o problema da população a principal preocupação tem sido atender às exigências de mercado.
A Sabesp é um dos exemplos mais ilustrativos, porém trágico, de que o interesse público não combina com o privado. Uma empresa que trata de um bem fundamental que é a água, direito básico para a população, não pode ser guiada pelos interesses de mercado. As consequências são as mais desastrosas possíveis e a população de São Paulo tem sentido isso na pele. Mas como sempre, a lógica é não admitir o erro e jogar a conta para o lado mais fraco.
É preciso que a população reaja. O povo de São Paulo tem dado demonstração de cidadania, de
respeito ao bem público e à coletividade com uso racional da água, encontrando formas alternativas para economizar, mas é preciso também que os verdadeiros responsáveis respondam pelos seus erros e que haja transparência e respeito à população.
A população também tem saído às ruas e protestado, tendo claro a consciência do problema, desmascarando o engodo do governador Alckmin, que no período eleitoral minimizava o problema para não perder votos.
Deputado Federal Ivan Valente – PSOL/SP