A Universidade de São Paulo é hoje considerada pelos rankings internacionais a melhor Universidade da América Latina, é a maior Universidade Pública do país com seus 92 mil estudantes, 17 mil funcionários técnicos administrativos e 6 mil docentes.
Magno de Carvalho
A USP é responsável por mais de 30% da pesquisa científica do país nas mais diversas áreas do conhecimento humano. USP, Unesp e Unicamp somam mais de 50% do total da pesquisa científica do Brasil.
Seu financiamento é público, isso é, bancado pelos impostos pagos pelo povo.
Nesse momento a Universidade de São Paulo encontra-se ameaçada de sofrer a mesma deterioração que sofreu a escola pública de 1º e 2º grau no nosso país.
A política que levou a destruição da qualidade do ensino fundamental e médio no país é exatamente a mesma que a reitoria, certamente apoiada pelo governo do Estado, quer implantar na Universidade de São Paulo. A corrosão dos salários dos professores e funcionários o que leva a evasão dos recursos humanos combinada com o corte orçamentário, já efetuado de 30%, agravada com a suspensão por tempo indeterminado de contratação de professores e funcionários, mesmo para substituir os que saem, se aposentam ou morrem.
Todas essa medidas acabam de ser anunciadas pelo atual reitor Marco Antonio Zago, que na data-base dos funcionários e professores, 1º de maio, quando a maioria das categorias de trabalhadores do país, com luta, têm obtido índices de reajustes acima da inflação, anuncia reajuste zero. Os reitores da Unicamp e Unesp que juntamente com o da USP formam o Cruesp (Conselho de reitores das universidades estaduais paulistas) declararam que para manter a isonomia e “em solidariedade ao reitor da USP” acordaram com o zero como posição do Cruesp para as 3 Universidades (USP, Unesp e Unicamp).
Com um caixa de 2 bilhões e 300 milhões aplicados no mercado financeiro, com o rendimento médio de 10% equivalente a 230 milhões anuais (suficiente para cobrir o reajuste de 10% reivindicado pelos trabalhadores, o reitor da USP, alegando problemas financeiros, tenta impor sua política desastrosa para Universidade.
Para justificar o arrocho salarial, o corte de verbas e a suspensão da contratação, a reitoria da USP divulga dados falsos, que têm sido divulgados na grande imprensa, por exemplo: o salário de um professor titular (grau máximo de um professore universitário) é 13.656,62 a reitoria divulga que esse é o salário médio dos professores, assim como que o salário médio de um técnico administrativo é de mais de 8.000,00 o que tem levado a indignação dos trabalhadores. Ou que nos últimos 4 anos os funcionários tiveram reajustes de 74% quando esse foi o ganho de muito poucos que tiveram ascensão no plano de carreira ao longo dos últimos anos, somando aos reajustes anuais.
A falta de democracia e transparência na Universidade e o poder absoluto do reitor juntamente com alguns poucos privilegiados que o cercam levam aos desmandos com o dinheiro público, como ocorreu na última gestão do reitor João Grandino Rodas que executou obras faraônicas, algumas das quais agora foram paralisadas, tais como um Anfiteatro de luxo para mais de 1.000 pessoas, além de compras de prédios em locais caríssimos, mudança da reitoria para um prédio, cuja reforma custou um absurdo, etc. Nenhuma obra para ampliar salas de aula, laboratórios ou leitos no Hospital Universitário.
Lutar pela democracia e transparência das contas da universidade é fundamental e, para isso, defendemos a convocação de uma estatuinte livre, democrática e soberana na USP.
A última grande reforma dos estatutos da universidade se deu em plena ditadura militar no seu período mais truculento, o início dos anos 70. E é bom lembrar que a USP e a UNB (de Brasília) foram as duas universidades mais atingidas pelo Golpe Militar com prisões, tortura, exílio forçado e morte de muitos estudantes, professores e funcionários.
A nossa luta pela Universidade pública, gratuita, democrática, autônoma e de qualidade não pode ser apenas dos trabalhadores e deverá ser também do povo brasileiro.
O Brasil tem 80%dos estudantes universitários em estabelecimentos privados e apenas 20% na universidade pública. Grande parte das universidades privadas são de qualidade ruins ou péssimas. O Brasil tem importado mão de obra especializada de vários países, inclusive de países muito pobres.
Defender 10% do PIB para a educação, 33% do ICMS de São Paulo para a educação pública do Estado, sendo 11,6% para as universidades estaduais paulistas, deve ser uma prioridade para os trabalhadores e povo pobre.
Para USP, Unesp e Unicamp lutar para que o governo do Estado não tungue as Universidades, sonegando o repasse da quota parte do ICMS, expurgando a verba para habitação, multas por não pagamento de impostos, para então fazer o cálculo do percentual da quota parte, que hoje é apenas 9,57%.
Agora que a reitoria da USP vai para mídia falar da crise financeira começam a aparecer as propostas de cobrança de mensalidade rumo à privatização, de intervenção do governo, isso é o fim da autonomia e outras.
Nós, funcionários, estudantes e professores da USP, juntamente com os companheiros da Unesp e Unicamp decidimos em grandes assembleias pela greve por tempo indeterminado a partir de 27 de maio, por entender que nossa luta se insere no bojo da luta maior do povo, por educação e saúde pública, moradia de qualidade e contra os absurdos gastos com a Copa do Mundo e por isso, estaremos somando forças com os companheiros nos Atos e Manifestações.
Magno de Carvalho
Diretor do Sintusp
Membro da Executiva Nacional da CSP-Conlutas (Central Sindical e Popular)