Apoio de Maluf a Padilha embaralha as opções em São Paulo. Afinal, quem é quem?
Gilberto Maringoni
Se as eleições brasileiras ficarem resumidas ao bipartidarismo PT-PSDB, caminharemos rapidamente para um cenário de indiferenciação de projetos nas disputas nacionais.
Nas ações de governo, isso já ocorre. O PSDB tem nas privatizações sua pedra de toque. O PT no governo federal relutou, relutou, mas adentrou à prática nas concessões de aeroportos, rodovias e nos leilões do pré-sal.
A política macroeconômica também não marca muitas diferenças. Juros altos, metas de inflação e o uso do câmbio como âncora inflacionária marcam os governos dos dois partidos no âmbito federal.
Repressão aos movimentos sociais – agravadas com acordos com empresas norteamericanas de mercenários – também aproximam tristemente uma agremiação da outra.
Quem financia?
Quem financia as ações dos partidos? Se olharmos para as atas dos tribunais eleitorais, divulgadas após os pleitos a cada dois anos, veremos que as mesmas empreiteiras, bancos e outros monopólios bancam as contas das duas agremiações. Ao fim e ao cabo, ambas favorecem o grande capital em suas gestões. Há poucos dias, o governo Dilma desonerou permanentemente 56 setores empresariais do pagamento de vários tributos. É certo que o PSDB representa a direita mais truculenta, enquanto o PT se alicerça em um conjunto de forças, que engloba setores populares expressivos. Mas nada exibe mais o jogo de conveniências a aproximar PT e PSDB do que a disputa em São Paulo. O partido de Paulo Maluf, já confortavelmente abrigado nas gestões nacional e municipal, agora declarou apoio a Alexandre Padilha, do PT. O motivo é mais tempo de TV. Logo Maluf, filhote da ditadura, como dizia Leonel Brizola, sustentando a campanha do filho de um ex-exilado político… Tempos estranhos.
Dois palanques
Com tudo isso, a presidenta Dilma declara que em São Paulo terá dois palanques. Além de Padilha, ela estará nas fileiras de Paulo Skaf, candidato da Fiesp-PMDB. Fiesp, aquela velha entidade, da qual muitos membros organizaram, nos anos 1970, a caixinha da famigerada Operação Bandeirantes (Oban), holding da repressão dos porões da ditadura. E o PSDB se vê às voltas com o caos paulista, especialmente nas áreas dos escândalos do Trensalão, da pane nos transportes públicos e na situação crítica da água no estado. O PSOL busca desatar esse jogo de soma zero nas eleições de outubro. É grande a tarefa de um partido ainda pequeno. Mas é a que vale a pena nesse jogo de meias verdades dos partidos tradicionais.