1. Há algumas semanas, setores do PT passaram a atacar de forma violenta o PSOL, sem motivo aparente.
2. Primeiro foram blogueiros das franjas petistas – que podem ter ligações com o aparato de segurança do governo – como Paulo Henrique Amorim, Eduardo Guimarães e Antonio Lassance. Essa primeira investida tentava vincular a morte do cinegrafista da Bandeirantes, Santiago Andrade, em manifestação pública no Rio de Janeiro, ao deputado Marcelo Freixo.
Gilberto Maringoni
3. A manobra saiu pela culatra. Largos setores da sociedade e até mesmo partes do PT se solidarizaram com o parlamentar e repeliram insinuações contra o partido.
4. De alguns dias para cá, o curto-circuito chegou às redes sociais. Foram ataques articulados.
5. Primeiro, correntes internas ao PSOL, de forma equivocada, saudaram o golpe de Estado na Ucrânia como sendo uma “revolução”. A responsabilidade da avaliação não é do partido, que não aprovou resolução a respeito, mas dessas correntes minoritárias.
6. Foi o que bastou para a enxurrada de calúnias vicejar, apontando que o PSOL apoiava o nazismo. Evidente forçação de barra.
7. Em seguida, um filiado de Cubatão defendeu um golpe militar no Brasil. O indivíduo foi desautorizado pela direção e enfrentará comissão de ética, podendo ser expulso.
8. De nada adiantou. Para a histeria petista, o PSOL defende um golpe de Estado. Não se dão ao trabalho de ler as resoluções do partido ou ver que vários militantes sofreram prisão, tortura e exílio durante a ditadura. Nada vale. Vale a política do tacape cego.
9. A catilinária não tem fim. Como diria o barbeiro Porfírio, em O Alienista, de Machado de Assis, “preso por ter cão, preso por não ter cão”. Faça o que fizer, o PSOL, nessa conjuntura será atacado por setores mais exaltados do petismo.
10. A grande questão é: por que isso acontece agora?
11. Por um motivo que começa a ficar claro. O PT está sem lugar no espectro político para se apresentar no embate de projetos contra Eduardo Campos ou Aécio Neves, dois representantes da fina flor da direita. Com uma política macroeconômica baseada nos mesmos pressupostos dos dois – juros altos, câmbio valorizado e superávits primários elevados -, o famoso tripé, Dilma tem a exaltar feitos seus e dos governos Lula.
12. Em 2006 e 2010, tanto Lula como Dilma bateram corretamente na privataria tucana. No entanto, um pequeno detalhe ocorreu.
13. Nesse meio tempo, o deputado Marco Maia (PT), ex-presidente da Câmara dos Deputados, inviabilizou a CPI da privataria tucana. E o PT no governo adotou como prática a privatização de estradas, portos, aeroportos e de parte do pré-sal. Ou seja, o diferencial pela esquerda acabou.
14. Dilma faz um governo medíocre. Recebeu um país que crescia a uma média de 4,5% ao ano e o entrega com uma expansão de 2%. Recuou num dos pontos positivos da gestão de seu antecessor, a política externa. Dilma foi omissa em relação á possível invasão da Síria pela Otan, esfriou relações com o Irã, a presença brasileira na Venezuela murchou e seu governo recusou-se a conceder asilo a Edward Snowden.
15. O PT precisa varrer para baixo do tapete o fato de patrocinar o endurecimento de leis contra as manifestações, o de travar as propostas de regulação da mídia, o de favorecer monopólios com desonerações milionárias etc. O PSOL vem a calhar para isso, pois Dilma precisa se apresentar como a única à esquerda.
16. Os militantes petistas celerados na rede não atacam o PMDB, o PTB, o PDT, o PP ou o PSC com a fúria que agridem e caluniam o PSOL. Por que?
17. O PSOL ameaça o PT em votos ou as outras candidatura à direita? Basta ver os financiamentos de 2010. O PT e o PSDB amealharam mais de R$ 100 milhões cada um, em financiamentos de campanha, dinheiro oriundo de bancos, empreiteiras e grandes monopólios. O PSOL não levantou meio centésimo disso. O PSOL teve 1% dos votos.
18. Então onde a ameaça?
19. O PSOL mostra que é possível fazer uma campanha pela esquerda. Mostra que é possível agir diferente e pregar isso na campanha.
20. O PT quer se apresentar na campanha como cobrindo todo o espectro que vai do centro direita á esquerda, alegando ser de esquerda. É vital, nessa fase de campanha, eliminar qualquer ruído nesse espaço político. Pode ser o PSOL, o PCB ou o PSTU. Esquerda vale se for folclórica ou desmoralizada.
21. Por isso é vital dar uma estocada certeira numa candidatura que mostrará à sociedade brasileira que existem posições à esquerda. É vital para os petistas limpar essa área já.
22. Para isso, o PSOL será “preso por ter cão e preso por não ter cão”.
23. Em tempo: o PSOL não é antipetista. O PSOL quer construir uma alternativa à esquerda do PT