O artigo de Noblat publicado em O Globo (13.2, p. 15) impõe esclarecimentos urgentes: para o PSOL, poder é uma relação que se estabelece, e não um lugar que se ocupa. Como partido político atuante na vida brasileira, defendemos os valores da democracia representativa, na qual já conquistamos mandatos que nos orgulham.
Chico Alencar
Afirmamos também que nossa combalida República necessita da seiva da democracia participativa, com a organização consciente da população na luta por seus direitos, e da energia vivificadora das ruas: os partidos já não incorporam as muitas demandas da sociedade, que também quer se fazer ouvir por outros canais.
Isso está a anos-luz de “querer chegar ao poder a qualquer preço”. Essa é, isso sim, a prática de algumas grandes legendas, com seus financiamentos milionários e seus esquemas empresariais tantas vezes mascarados.
É absolutamente improcedente afirmar, como foi feito, que nos interessa “a ação de vândalos que destroem o que encontram pela frente e até matam de propósito ou sem querer” ou que “alguns dos nossos integrantes chegam ao ponto de financiar” essas iniciativas.
O fato de defendermos, com entusiasmo, as mobilizações populares, não nos coloca em patamar de concordância com tudo o que nelas ocorre. Por diversas vezes já manifestamos nossa divergência com essas táticas que, costumeiramente, reforçam o que supostamente dizem combater, e que têm esvaziado os próprios atos públicos, para alegria dos conservadores, negocistas e beneficiários do conformismo geral.
Por dever de racionalidade, o PSOL só estabelece acordos com aqueles com quem pode dialogar, cara a cara, em torno de princípios, ideias e causas. Com grupos que rejeitam partidos, ritualizam a agressividade e não aceitam diretrizes coletiva e democraticamente debatidas, não temos qualquer interlocução.
A quem interessa esse jogo político baixo, eivado de acusações levianas destituídas de qualquer fundamento, que desrespeitam a própria dor da família de Santiago Andrade e das de outros vitimados – inclusive em decorrência de truculência policial – desde junho do ano passado?
Certamente aos que querem o imobilismo, a aceitação passiva de ‘tenebrosas transações’ que os megaeventos propiciam e a rotina de patrimonialismo, caciquismo, hipocrisia e mentira que as forças dominantes na política brasileira reproduzem.
Chico Alencar, é deputado federal, PSOL/RJ.