Até a mídia mais conservadora, que ontem exortava a polícia a “retomar a Paulista” ou a construir a “hora do basta” contra os protestos pela redução das tarifas em São Paulo foi obrigada a denunciar a violência fascistoide da polícia contra tudo e contra todos, inclusive vários de seus jornalistas.
Maurício Costa
Momentos antes do início da barbárie promovida pela polícia – após a bela demonstração de força e unidade do movimento na caminhada pacífica – eu estava cumprindo a tarefa de comunicar ao Tenente-Coronel BenHur, chefe da operação, a nossa intenção de continuar o ato até o Ibirapuera. Escapou dele a resposta “Realmente, vocês estão de parabéns. Sou favorável ao seu percurso, mas preciso consultar meus ‘superiores’”. Imediatamente depois disso as bombas estouraram enquanto os manifestantes gritavam “Sem violência”.
A promessa de repressão anunciada por PT e PSDB como tentativa de ganhar credibilidade de investidores para a realização da Expo 2020 em São Paulo, cumpriu-se, mas não convenceu ninguém. São revoltantes as imagens que pipocam nas redes sociais como as das prisões indiscriminadas, da jornalista da Folha atingida por bala de borracha e de um policial quebrando a própria viatura para forjar a tal ação dos “vândalos”.
Sem dúvidas, a extrema violência da ação policial dessa quinta-feira estava premeditada e também ocorreu em outras cidades que atenderam à convocação desse “dia nacional de lutas contra os aumentos”. Seu sentido era tentar acabar com o movimento antes do começo da Copa das Confederações, quando os olhos do mundo estarão voltados ao Brasil e outras cidades do país, que sofrem do mesmo ou outros problemas urbanos decorrentes da realização dos megaeventos, não se sentissem estimuladas a sair às ruas.
Na imprensa internacional também caiu a máscara brasileira. As manchetes estampam a violação das liberdades de manifestação e imprensa ao lado das remoções forçadas de famílias e do desrespeito generalizado às legislações e direitos adquiridos, regras da “ditadura da Copa”. O ministro José Eduardo Cardozo é o principal responsável por garantir, além da criminalização dos protestos, o amplo leque de violações de direitos humanos, a começar pelos conflitos indígenas.
Contudo, mesmo com jornalistas, trabalhadores e estudantes feridos e presos, telefones grampeados, policiais (muitos) infiltrados no movimento, o clima de terror construído por Haddad, Alckmin e Cardozo após a manifestação da última terça-feira não vingou e a ação brutal da polícia nessa quinta terminou com o fortalecimento público de que a legitimidade e a história estão nas ruas do lado dos manifestantes, não dos governos. Está evidente que o desfecho dessa questão não pode ser outro senão a redução das tarifas e liberação dos detidos.
A adesão da população às manifestações é nítida e os atos ganham cada vez mais peso. A proposta de negociação feita Ministério Público de suspensão do reajuste por 45 dias até que uma comissão analise a legalidade e legitimidade do decreto da prefeitura foi aceita pelo movimento, mas negada pela prefeitura, que continua intransigente. Enquanto isso o movimento segue. E amanhã será maior. Imagina na Copa…
*Geógrafo, Presidente do Diretório Municipal do PSOL São Paulo