Comissão Nacional da Verdade e centrais sindicais criam Grupo de Trabalho (GT) para apurar as graves violações aos trabalhadores e ao movimento sindical
Foi lançado nesta segunda-feira, dia 15/04, em São Paulo, no âmbito da Comissão Nacional da Verdade (CNV) um GT para apurar as diversas e graves violações, perpetradas pela ditadura militar contra os trabalhadores. O GT, integrado pela CNV e diversas centrais, como a CUT, INTERSINDICAL, CTB, UGT, Força Sindical, Conlutas entre outras, deverá se debruçar sobre os fatos que se deram no período da ditadura militar contra a classe trabalhadora e suas organizações.
As centrais sindicais apresentaram um documento unitário com onze propostas de investigação que nortearão os trabalhos do grupo. Levantamento dos sindicatos que sofreram invasão e intervenção, apuração dos dirigentes sindicais cassados e ou presos pela ditadura, tortura e assassinatos de trabalhadores, demissão e repressão às greves, vinculação das empresas aos serviços de segurança para entregar trabalhadores para a repressão. Também serão objeto de levantamento as políticas do regime que feriram direitos conquistados, como a lei de greve, do arrocho salarial, do fim da estabilidade no emprego. Essas são linhas de investigação que o GT buscará seguir para levantar as violações e graves prejuízos causados aos trabalhadores e suas entidades, a fim de buscar reparação moral, política e material às vítimas da ditadura.
Levantamento parcial dá conta de que quatrocentos sindicatos sofreram intervenção imediatamente após o golpe, além de 300 outras entidades invadidas e tuteladas pela intervenção no período subsequente.
Segundo Rosa Cardoso, integrante da CNV, além das graves violações de direitos humanos de trabalhadores, o GT apurará situações que provocaram desemprego e insubsistência, como as causadas por medidas e políticas da época e também as listas-negras em que foram colocados líderes sindicais e outros.
No ato de instalação do GT, os dirigentes das centrais lembraram que o golpe de 1964 foi, sobretudo, uma medida contra a classe trabalhadora que se mobilizava pelos interesses da maioria do povo brasileiro à época.
Ivan Seixas, da Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva, SP, apontou que 52% dos mortos ou desaparecidos nos porões da ditadura eram trabalhadores, desnudando o caráter de classe do golpe militar. Sebastião Neto, do Projeto Memória da Oposição Metalúrgica de São Paulo e do IIEP, lembrou que muitas empresas mantinham agentes infiltrados nos locais de trabalho para delatar trabalhadores e lideranças ao regime.
Expedito Solaney, da CUT, lembrou que o prazo para a conclusão dos trabalhos da CNV é insuficiente e reivindicou a prorrogação dessa data, prevista para maio de 2014. Rosa Cardoso, Coordenadora substituta da CNV, corroborou o pedido de alteração desse prazo.
A INTERSINDICAL, representada pelo dirigente Edson Carneiro Índio, da Coordenação Nacional, saudou a instalação do Grupo de Trabalho e salientou que, para a INTERSINDICAL, é fundamental que o GT reúna as condições para apurar e elaborar um relatório consistente, apoiado na verdade dos fatos, que estabeleça a responsabilização dos agentes da ditadura e dos financiadores das barbáries do governo autoritário, como banqueiros e empresários. “Que esse processo de apuração, no âmbito da Comissão da Verdade, seja um passo fundamental para retirar o entulho autoritário incrustado no Estado brasileiro e nas diversas dimensões da sociedade, como as empresas. Restaurar a verdade dos fatos, reparar os danos causados aos trabalhadores e demais vítimas da ditadura é uma condição necessária para avançar na construção de um país livre, democrático, justo e igualitário”, concluiu Índio, da Coordenação Nacional da INTERSINDICAL.
O Grupo de Trabalho foi formalizado e será integrado por todas as centrais sindicais presentes. No próximo dia 06 de maio, o GT voltará a se reunir, momento em que será definida a metodologia de trabalho e os demais encaminhamentos necessários.
Para a INTERSINDICAL, o momento é de divulgação dessa medida, para que entidades, vítimas, familiares e companheiros dos que de sofreram graves violações de direitos se apresentem para relatar os fatos. Além disso, devemos incentivar a instalação de Comissões da Verdade nos sindicatos, movimentos, bairros, universidades, igrejas, câmaras municipais, etc.