Com a afirmação de que, se eleito, vai fazer auditoria em contratos da prefeitura, como o de transporte.
O BOM DIA dá início hoje às sabatinas com os cinco candidatos a prefeito de Rio Preto. A ordem das publicações foi definida por sorteio e o primeiro entrevistado é o candidato do PSOL, Marcelo Henrique. Ele afirma que se for eleito em outubro irá fazer auditoria em contratos da prefeitura, como o de transporte coletivo e o de coleta de lixo. Também reclama que o Executivo age com “prepotência” em favor de aliados na Câmara. A sabatina foi realizada na quinta-feira, na redação do BOM DIA. Marcelo respondeu a perguntas do editor-chefe, Wilson Gasino, e dos repórteres Luciano Moura e Vinícius Marques. Leia abaixo, os principais trechos.
BOM DIA – O senhor foi candidato a prefeito em 2008 e teve 2.376 votos. O que o faz pensar que neste ano o resultado será diferente?
Marcelo Henrique– Uma campanha eleitoral, principalmente do PSOL, por ser partido de esquerda, é muito limitada em questões de recursos por não receber dinheiro de grupos econômicos, principalmente ligados a empreiteiras, empresas ou concessionárias. A comunicação da nossa campanha com o público tem maior dificuldade. Nossa caminhada passou por uma candidatura a senador da República em 2010 e consegui na nossa cidade mais de 20 mil votos e 249.600 no estado. Somos opção para o povo, que tem um candidato diferente, que vai honrar, vai fazer bem, que vai agir com honestidade, seriedade ética. Não temos faculdade para ser prefeito. Temos de superar o senso comum de que é impossível. Não é. Depende de nós, depende do povo. Se o povo quiser manter como está, a vontade vai ser dele. Nos continuaremos de cabeça erguida. Porque existia uma opção e vai continuar sempre existindo.
O senhor diz na propaganda eleitoral em desinchar a prefeitura. Como vai fazer isso?
É por conta dos apadrinhados. Temos os cargos em comissão na prefeitura. Hoje a administração traz pessoas de fora, normalmente surgidas durante a campanha eleitoral para ocupar esses cargos, com acréscimo na folha de pagamento sendo. Cargos que poderiam ser ocupados por servidores concursados, treinados e aprovados para o exercício. Quando falo em inchaço, falo desse mal relacionado aos apadrinhados.
Há um abismo hoje entre os servidores e o governo atual?
Hoje tratamos os problemas pelas causas. O governo do município é formado pelos poderes Legislativo e Executivo. Hoje, o Legislativo segue a reboque do Executivo. E isso prejudica o funcionamento do próprio Executivo. O prefeito, para atender reclamações dos vereadores da base, aceita nomear pessoas para ocupar os cargos em comissão. Essas pessoas começam a chefiar e gerenciar os concursados, que se sentem desmotivados de prestar serviço de qualidade porque não têm plano de cargos, carreira e salários. A partir daí, esse serviço não tem qualidade e eficiência. Com isso, há distanciamento entre o prefeito e os concursados, que são maioria, mais de quatro mil servidores. Falta diálogo em razão da prepotência do chefe do Executivo com os servidores, em favor da base de vereadores que ocupa o Legislativo.
O senhor vai revogar a lei para cargos em comissão?
Primeiro, precisamos analisar, uma vez que não temos muita clareza sobre cada cargo e quais as suas atribuições. Os cargos devem ser ocupados por servidores concursados. Claro que tem alguns cargos, sei lá, dez, 15, no máximo 20, que são cargos de confiança daquele que chefia o Executivo. Para mim é muito claro que esses cargos devem ser ocupados por concursados. Temos a informação de que na Inglaterra são 90 cargos em comissão para o país inteiro.
O senhor fala muito sobre ser socialista, faz críticas pesadas ao capitalismo, mas é um dos candidatos com maior patrimônio, de mais de R$ 1 milhão, com oito casas, inclusive. Não é contradição?
Não. Não vejo nada disso. Os nossos ideais serão pregados e isso não significa que cada um, em razão de sua vida, pela condição que conquistou… Essa pergunta é repetitiva porque parece que nós, socialistas, queremos tirar de quem tem. Queremos aumentar de quem não tem. Queremos reduzir a desigualdade social. Não significa que todos vão ter um milhão, vão ter menos ou vão ter mais. Temos de fazer com que o estado assuma a sua responsabilidade de dar equilíbrio nessa desigualdade social, proporcionando serviços públicos com qualidade àqueles que mais precisam para que possam alcançar, sonhar em ter patrimônio maior também. Não é uma questão de tirar de quem tem como, às vezes, a imprensa e a sociedade nos acusam para criar uma situação de que somos contra o desenvolvimento.
Como é diariamente essa prática socialista do Marcelo Henrique, no trato com seus funcionários, por exemplo?
Primeiro queria dizer que nasci no sítio. Estudei até o terceiro ano em escola rural. Depois fui estudar na cidade. Trabalhei no sítio e pedi a meu pai para conseguir emprego na cidade. Consegui num bazar. Entrei para limpar vitrine. Fiquei um ano, lá em Macaubal. Lá, apreendi princípios, como ética, honestidade, que devemos sonhar com algo maior para a vida, ter metas. Tudo isso fez com que eu viesse para Rio Preto sonhando com a cidade maior. Morei no fundo de uma fábrica por nove anos. Nessa fábrica, três meses antes da minha formatura de direito, minha mãe faleceu. Eu morava sozinho. Me tornei advogado, me casei. Fui morar num bairro, nesse bairro houve tentativa de furto do veículo de minha esposa. E aí, então, falei vamos nos unir, conversar, criar uma associação de moradores. Depois, fui presidente do fórum de associações de bairro. Na época, por volta de 2001, havia 30 associações. O [então] bispo dom Orani incentivou os moradores a se organizar e indicar candidato a vereador em cada bairro, em 2004
. Aí, escolhi um partido, o PHS, do qual fui advogado. Elegemos dois vereadores. Por volta de 2005, surgiu o PSOL. Coloquei meu nome à disposição. Fui candidato a deputado federal em 2006. Fiquei em terceiro lugar, na suplência. Em 2008, fui candidato a prefeito, numa eleição muito difícil. Em 2010 fui candidato a senador. Meu relacionamento com as pessoas que trabalham comigo é de muita transparência. Não tenho senha em computador. Não tenho chave em mesa de escritório. Sempre fui muito aberto no meu dia a dia.
Se o senhor for eleito, qual considera a primeira medida a ser tomada na administração?
Três pontos. Tem de ter liberdade, primeiro. E liberdade para tomar uma medida depois de eleito tem de conquistar no processo eleitoral. Essa liberdade você conquista com o povo, e não com quem financiou sua campanha. Segundo: transparência. Temos de abrir as caixas-pretas. Temos de fazer com que as pessoas saibam onde é gasto o dinheiro público. Terceiro é o diálogo com a sociedade.
Quais são, em sua opinião, as caixas-pretas do governo atual?
Os processos licitatórios. Essa é a origem de toda a dificuldade para se saber o que é feito do nosso dinheiro, o dinheiro do povo. Contratações de empresas e também de apadrinhados são as outras.
O senhor citou em debate o nome de Alcides Barbosa, apontado como ex-sócio do ex-procurador Luiz Tavolaro, e que disse que havia fraudes em Rio Preto. Há inquéritos no Ministério Público que investigam contratos e licitações. O senhor vai fazer auditorias sobre isso?
Auditoria temos de fazer, sim. Em especial nos contratos de maior valor. Entre os quais, nós temos o do transporte coletivo, no que se refere à qualidade e à eficiência do serviço. O prefeito tem de auditar para ver se essa cláusula está sendo exigida. Não em favor do interesse do lucro das concessionárias, mas em prol do usuário desse serviço. Essa é uma primeira atitude que tomarei. Segundo, o contrato de lixo. O valor que estamos pagando pela coleta de lixo é extraordinariamente preocupante. Tivemos aumento enorme nos últimos anos com pagamento desse serviço. Esses dois contratos talvez sejam os primeiros que vamos fazer auditoria. E conforme for aparecendo, e se eleito formos, não tenho dúvidas que surgirão muitas denúncias. Porque qualquer outra candidatura que for eleita não haverá auditoria na prefeitura.
pinga-fogo
Bíblia é livro de cabeceira; Plínio
de Arruda, um líder
BOM DIA_ Um livro de
cabeceira?
Marcelo Henrique_ A Bíblia.
Um líder em que o senhor
se espelha?
Plínio de Arruda Sampaio.
Uma frase?
“Temos de ter fé e ação.”
Qual a qualidade do seu
candidato a vice?
Companheiro, ativo e fiel.
Uma cidade que o senhor considera exemplar?
Quero fazer de Rio Preto uma cidade de referência
Agência BOM DIA