Sindicalista, que é candidato pelo PSOL, defende também o fim das terceirizações no Município
Sindicalista e militante há 30 anos, Arlei Medeiros (PSOL) tenta chegar pela primeira vez ao posto de prefeito de Campinas. O concorrente garante que, se eleito, vai acabar com as terceirizações no Executivo, promover concurso público e aplicar auditorias em contratos e na dívida do Município. Arlei defende um governo com ampla participação popular para levar transparência aos atos administrativos. Confira trechos da entrevista.
16/09/2012
Se eleito, qual a primeira medida a ser adotada?
A primeira medida é instituir uma comissão de auditoria na Prefeitura. Auditoria dos contratos vigentes. Nós entendemos que eles são imprecisos, onerosos e caros. Junto com isso, queremos fazer uma auditoria na dívida da Prefeitura. A dívida consome quase R$ 300 milhões por ano. Assim nós vamos conseguir ter uma dimensão exata do quanto de recursos nós podermos poupar para investir na cidade. Nós não imaginamos uma gestão sem transparência. Nós queremos governar com os formadores de opinião da cidade de Campinas e com a população. Portanto, precisamos dar transparência total. Esses contratos, nós vamos rever. Hoje se você for olhar para os recursos, eles estão comprometidos. Mas em estudos preliminares, podemos fazer sobrar 25% dos recursos de um Orçamento de R$ 3,5 bilhões.
Qual a experiência que o senhor tem em gestão?
Eu tenho 30 anos de militância política. Eu já administrei várias entidades, toquei projetos bastante importantes com montantes financeiros altos. Minha formação acadêmica é em Saneamento Ambiental e pós-graduado em Economia. Então, tenho vários cursos, inclusive de gestão de empresas. Sou negociador com os patrões da Fiesp dos químicos e farmacêuticos há mais de 15 anos. Enfrento uma pedreira. Não só em condições estáveis, mas em condições de tensão. Em greves. Então estou acostumado a lidar com os melhores negociadores desse País. Disso a gente entende. Nós queremos ser o paradigma de boa gestão pública com transparência e participação popular.
Como resolver os gargalos no setor da Saúde?
Nós vamos chamar a população para debater. Vamos fazer um combate pesado à terceirização. Saúde é direito básico. Nós queremos restabelecer o direito da população em ter acesso à Saúde. Não apenas a população pobre. O triste hoje no nosso País é que a classe média paga 27% de imposto e tem que ter esses serviços todos privatizados. Ou seja, pagando convênio, escola pública. Estamos construindo uma lógica perigosíssima, de que o serviço público é coisa de pobre. Serviço público é o que tem mais qualidade. O problema de Campinas é o acesso. Quando você tem o acesso ao serviço médico, você é bem tratado. Mas leva oito meses para conseguir uma consulta. Saúde não é você colocar uma pessoa dentro do hospital e fazer uma cirurgia. É preciso uma equipe com psicólogo, enfermeiro, fisioterapeuta. O médico é a ponta da cadeia. Então, nós queremos investir na Saúde preventiva, e não na curativa, que é muito cara.
A demanda da Região Metropolitana de Campinas (RMC) atrapalha?
O sistema SUS é universal. Toda a população teria direito de usar esse sistema. O que precisa ficar claro é que Campinas não é uma ilha. Nós não vamos cercar Campinas, botar muro e olhar para a população de Hortolândia ou Sumaré e dizer: ‘Não entre aqui’. Pelo contrário. Queremos ser pró-ativos.
O prefeito cassado Hélio de Oliveira Santos (PDT) fez promessas para zerar o déficit nas escolas e creches, mas não conseguiu. Como administrar esse problema?
Primeiro precisamos acabar com a terceirização. As naves-mãe são caras. Custam cinco vezes mais que uma creche do Município. Uma creche consome R$ 12 mil a cada três meses, a nave-mãe gasta R$ 56 mil por mês. Eles contratam uma pessoa pela metade do salário das creches. Em vez de contratar pedagogo, contratam pessoas com menor qualificação para pagar menos e lotar as salas de aulas. Temos um déficit de 5 mil vagas em creche. Temos que construir outras creches. Contratar gente. Queremos enfrentar, fazer um plebiscito perguntando à população se ela prefere a Lei de Responsabilidade Fiscal ou a responsabilidade social. Nós vamos fazer esse debate. Eu não vou dizer que vou brigar pelo dinheiro do Alckmin ou do Lula, porque eles só vão dar o que é obrigação. Nós vamos ter de arrancar no tapa. Nós temos o direito. Aqui a gente arrecada IPVA, o ICMS é altíssimo. Mas para isso precisa dar condições para a máquina. De pronto, a nossa prioridade é qualidade da Educação, reverter as terceirizações, assumir o que é responsabilidade nossa e colocar a creche em período integral. Esse é o centro de nossas ações dos primeiros dois anos de governo.
A população reclama de falta de infraestrutura e serviços. Administrações regionais estão sucateadas e são cabides de emprego. O senhor manteria essa estrutura?
Manteria as estruturas e ampliaria radicalmente a participação popular nas ARs. Hoje, as ARs estão sucateadas e isso tem uma lógica, que é neoliberal e privatizante. É pegar o dinheiro de todo mundo e dar para a iniciativa privada. Muitos são sócios dos gestores públicos. A forma de fazer isso começa com serviços da Prefeitura, as máquinas, veículos, equipamentos, pelos trabalhadores. Então, tem uma verdadeira corrupção. A Lei de Responsabilidade Fiscal acaba incentivando isso. Bate no teto eu não posso contratar gente, mas eu posso contratar uma empreiteira precarizada, pagando mal, dando balão, como acontece com as merendeiras, e o dono da empresa engorda, distribui o dinheiro para os políticos, financia eleições. Tem que ter trabalhador de carreira, concursado, com plano. Comissionados só serão secretários e nem sei, talvez um ou outro. Nós temos que ter uma força maior, um plano de carreira. Nós queremos investir os recursos no Município. Nas ARs estamos pensando em quem deve administrar. Hoje quem indica é um vereador. Aí ele faz uma extensão do seu gabinete. Só isso já é motivo de impeachment de um prefeito. Porque ele pega a máquina da AR, o cargo público, e dá para o vereador fazer curral eleitoral. Ainda uniformiza. Tem vereador que estampa seu nome na camiseta dos presidiários que trabalham nos serviços públicos.
A cidade é carente de projetos culturais e há sucateamento no setor…
No Castro Mendes, mais de R$ 10 milhões enterrados e sete anos fechado. Centro de Convivência fechado. Nós temos uma juventude do PSOL que tem um sarau. Eles se organizam e fazem um sarau. Como o Centro de Convivência está fechado, eles fazem ali na marquise e usam uma tomada. Se a juventude for para a Prefeitura não pode também. O jovem na cidade não pode fazer nada mais. A Prefeitura não gerou possibilidade para eles de cultura e lazer e se eles ocupam um espaço público eles estão fazendo desordem, baderna. Nós vamos abrir a cidade. Todo mundo tem que criar nessa cidade. A iniciativa privada tem que criar. Agora, se você me pergunta se eu vou dar dinheiro para a iniciativa privada fazer criação, não. Eu vou incentivar as criações populares, os projetos populares. Eu vou abrir o espaço público, criar espaços. Eu não quero colocar teatro a R$ 200,00. Quem quer fazer peça privada pode fazer e não vejo problema. Queremos trazer artistas de nome. Quem não gostaria de ver Chico Buarque em Campinas? O Caetano Veloso, Wagner Moura? Quem não tem o sonho de ver esses artistas. Nós temos que incentivar isso.
Campinas tem muitos moradores vivendo em áreas de risco. Quais são as suas políticas para a habitação?
O prefeito pode pegar várias áreas e decretar de utilidade pública. Eles não fazem porque contrariam os negócios. Vou dar um exemplo. Nós estamos numa luta em Barão Geraldo para construir um parque numa área linda. O lago que tem lá é quatro vezes a lagoa do Taquaral. Por que o prefeito não pega a caneta e declara a área de utilidade pública. Primeiro que ele vai contrariar o interesse dos poderosos. Segundo, aquilo não dá nada para ele e não vai gerar negócio. Nós vamos fazer isso. Isso vai gerar uma indenização, vai. Mas o ganho que tem isso é muito grande. Nós vamos ter uma área imensa de lazer num setor que precisa. Nós podemos fazer um corredor verde na cidade ligando a mata Santa Genebra, ribeirão das Pedras. Agora, para ter essa mentalidade, precisa ter uma mentalidade sustentável. Áreas para construção tem. No Campo Grande tem muitos vazios urbanos. Por que precisa jogar a pessoa depois do Parque Floresta? Ali já tem serviços, tem tudo. Aquela terra é de um sócio de um gestor público aqui de Campinas. Então, ele espera a terra engordar, crescer, valorizar.
O morador de Campinas está irritado com os radares. Qual a sua política sobre isso?
Hoje, os radares, boa parte dos valores da multa vão para as empresas. Toda a lógica montada hoje no Município é para favorecer o setor privado. O radar, se bem feito, ele é um educador de trânsito, não como é hoje. Hoje ele é um caça-níquel e em verdadeiras pegadinhas. Eu prefiro trabalhar com pessoas nas ruas, nesse trabalho de educação no trânsito e multar quem precisa. Não acho que precisa multar uma pessoa que parou por 10 minutos numa vaga, sem nenhum perdão. Alguém que não tem histórico de multa. Precisa dotar de inteligência a Emdec. Colocar um palm top para que o fiscal veja o histórico do motorista. Agora se a pessoa tiver muitas multas, dobrar o valor da infração.
O trânsito em Campinas já está saturado. Como o senhor pretende resolver isso?
Defendemos o passe livre para quem está matriculado numa escola pública ou em um curso profissionalizante. Hoje Campinas paga R$ 28 milhões para a Transurc por ano pelo serviço. Se o Hélio e o PT não tivessem dado 15 anos de concessão nós teríamos um outro transporte na cidade. Eu aposto na municipalização do transporte coletivo. Então, o problema do trânsito tem só um nome. Tenho que mudar a consciência do campineiro, de carrões na rua como sinônimo de status. A ditadura da indústria automobilística não resolve o problema do trânsito nunca. Por que tem carros nas ruas? Não é só porque as pessoas gostam do carro. É porque não tem um transporte público descente, de qualidade.
Há problemas a resolver, como o embargo de obras e os camelôs. O que fazer?
Camelôs? Vamos chamá-los de empreendedores. O embargo? Precisa estudar cada caso e resolver o mais rápido possível. A diferença nossa com os outros governos é que vamos cuidar do convívio, a nossa gestão será igual a de um prefeito do Interior de cidade pequena. Se bobear ele vai na casa da família porque o filho não está indo para a escola, dá um “pito” na mãe e um puxão de orelhas e manda o garoto para a escola. Temos que pensar nisso, a equipe tem que ter essa preocupação. Tem gente esperando essa obra para casar. A relação corre risco, tem preocupação. É de responsabilidade da Prefeitura. Cada embargo precisa ser analisado. Agora, os comerciantes informais, eles precisam trabalhar, ganhar a vida, e tem certas coisas em Campinas, produtos legais, que ajudam a complementar o nosso mercado. Agora, precisamos dar uma cara bonita para a nossa cidade. Nós não vamos reprimir o comerciante informal. Vamos propiciar que eles trabalhem. Vamos criar espaços. Existem vários prédios no Centro abandonados e potencializar a economia de Campinas.
Quais são seus projetos para a área de Viracopos?
Viracopos é importante. Assim como teve um papel importante no início do século 20 a estação ferroviária que hoje está abandonada, uma estação moderna, um centro de distribuição por trilho, Viracopos, dadas as proporções cem anos depois, temos a mesma realidade. Agora, aqui tem gestão pública, ninguém vai fazer esculhambação em Campinas. Nós vamos enfrentar. Hoje, linhas aéreas passam por cima da cidade com aviões imensos, perturbando a vida de quem mora em prédio e correndo risco. Vamos discutir com o governo federal e dizer que não vamos tolerar isso. Vamos preservar a qualidade de vida, sem deixar que Viracopos se transforme em Guarulhos, uma verdadeira perturbação para a população local.
Muitos dos problemas são decorrentes da corrupção. Como garantir um governo livre desses atos?
Os corruptos inovam. Mas é fácil perceber. Quando o Hélio entrou, os empreendimentos aqui era um coletivo que liberava. O que ele fez? Ele concentrou nas mãos de uma pessoa, que se chamava Hélio Jarreta. Então, ele passou a ter o monopólio nas decisões de quem constrói na cidade. A velocidade do projeto dependia da generosidade do empreendedor. Nos últimos 15 anos de abertura política foi construída uma máquina de corrupção no Brasil na área do lixo, asfalto, resíduos sólidos.