Reproduzimos aqui a entrevista com o candidato do PSOL a prefeito de Ribeirão Preto, Emilson Roveri, publicada no jornal Tribuna.
O jornal Tribuna inicia neste domingo, 5 de agosto, seu ciclo de reportagens com os seis candidatos à prefeitura de Ribeirão Preto. As entrevistas serão publicadas sempre aos domingos e seguem até 9 de setembro.
As entrevista foram feitas entre 23 e 27 de julho e a ordem de publicação foi definida por sorteio, com a presença dos representantes de todos os candidatos.
Todos foram questionados sobre plano de governo, saúde, educação e transporte. O primeiro entrevistado é o engenheiro em produção e professor Emilson Roveri, do Partido Socialismo e Liberdade (Psol).
Tribuna – Candidato, como o senhor analisa a atual situação da saúde em Ribeirão Preto e o que prevê seu plano de governo para o tema?
Emilson Roveri – A agente percebe que a saúde, se comparada a outras cidades, tem um desequilíbrio de investimento no setor de atenção básica e do Programa da Saúde da Família. Então, nossa proposta é destinar mais verbas para este setor, porque investindo mais no setor a gente implanta a medicina preventiva e evita uma série de problemas. Mas tem que funcionar. O que a gente percebe é que tem que investir mais e fazer com que as ações sejam mais eficientes e mais eficazes, ou seja, ampliar essa malha de atenção básica. Essa é a nossa proposta.
Tribuna – Quais seriam os efeitos dessas medidas?
Emilson Roveri – Com isso a gente reduz tempo de fila e a demanda nas unidades de saúde cai. São ações que vão ter resultado depois de certo tempo, mas precisamos começar a fazer agora, uma hora precisamos começar a fazer isso. O SUS (Sistema Único de Saúde) é um sistema muito bem desenhado, o que precisa é fazer uma auditoria no sistema, ver como estão sendo feitos os investimentos, se o recurso que está sendo destinado está chegando mesmo e se ele está trazendo resultado. Temos que fazer uma auditoria nesse sistema de saúde e uma definição de metas realistas. Isso passa por mais investimento na atenção básica.
Tribuna – Como isso seria feito?
Emilson Roveri – Vamos negociar com as partes interessadas para melhorar a eficiência no atendimento à saúde no município. Vamos realizar uma gestão do sistema de um modo a privilegiar a atenção básica e diminuir a demora no atendimento aos pacientes. Isso passa por criar postos de atendimento de assistência preventiva e as visitas dos médicos da família nas casas, além do acompanhamento disso aí, sem deixar solto, acompanhar de perto e monitorar e sempre tomar a ação preventiva e corretiva para melhorar a eficácia e a eficiência deste sistema.
Tribuna – Qual o papel do servidor, do médico ou do atendente da área?
Emilson Roveri – Isso passa por uma nova fórmula de administrar o sistema de saúde, os procedimentos têm que ser bem definidos e vão ser definidos junto com o servidor público, as metas, indicadores de tempo de atendimento de tamanho de fila, de espera. Isso tudo a gente pretende dar autonomia, construir esse procedimentos, junto com a comunidade, com as partes interessadas, com os médicos, com enfermeiras, os dentistas, os psicólogos e definir qual o procedimento certo. A partir dessa definição, da autonomia do servidor prestar o serviço dele e aí a prefeitura ficaria responsável de acompanhar isto daí. A gente quer incentivar a criatividade e aumentar a motivação do servidor público, isto a gente só vai conseguir se a gente conseguir realmente motivar o servidor público.
Tribuna – Como está à educação no momento, principalmente o ensino municipal, e como será no seu governo, caso seja eleito?
Emilson Roveri – A educação tem uma porcentagem hoje de 25% (do Orçamento Municipal), a gente acha que isso tem que aumentar. Nós temos que criar um plano de carreira para o professor e para a comunidade que trabalha nas escolas. Um plano de carreira que não seja baseado no tempo de serviço e sim no mérito, na capacitação e nas ações que o servidor aproveitou para se cadastrar e melhorar sua competência técnica. Então a gente quer um sistema de planos de carreira baseado no mérito e não por tempo de serviço, como está sendo feito hoje.
Tribuna – O senhor vê algum problema nisso?
Emilson Roveri – Hoje é por tempo, completou dois anos tem um incentivo, completou cinco anos tem outro. A gente entende que isso não colabora para a melhoria, não incentiva, não motiva o profissional porque se ele desempenhar bem seu trabalho, ou mal, ele vai ter aquele incentivo de qualquer maneira. A gente tem que mudar isso. Também tem a questão da redução da quantidade de alunos em sala de aula, dependendo da característica de cada turma, e que deva ficar entre 25 a 35 alunos, uma média de 30 alunos por sala de aula.
Tribuna – Seria uma maneira de qualificar os professores?
Emilson Roveri – A gente entende também que os professores precisam estar capacitados com problemas como TDA [Transtorno de Déficit de Atenção] e TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade], porque ele se depara com um aluno com déficit de atenção e dá o mesmo tratamento que dá para todos os alunos, porque ele não está capacitado para diagnosticar esse tipo de caso. Precisamos também de uma equipe multidisciplinar para atuar na educação, envolvendo psicólogos e nutricionistas.
Tribuna – Quais mudanças o senhor faria no setor?
Emilson Roveri – A grande mudança que a gente quer fazer na educação mesmo é entender o setor como algo que tem que ser integrado com a cultura e o esporte. A gente propõe a criação de uma secretaria que integre cultura, esporte e educação, uma secretaria forte. Será uma das principais secretarias do nosso governo.
A agente vai conseguir uma redução de quantidade e do valor monetário envolvido nos cargos comissionados, nós vamos analisar muito bem os cargos comissionados e vamos colocar pessoas competentes para assumir essas posições e não por critério de apadrinhamento político, ou de favores que tem que ser prestados para a manutenção de certas pessoas no governo e para contemplar um arco de aliança grande que tem que ser de alguma forma remodelado em função dessa aliança que foi feita.
Tribuna – A população tem papel importante nessas decisões?
Emilson Roveri – Queremos a participação da comunidade num projeto político pedagógico da escola, a gente pensa que cada unidade vai se transformar, não apenas em uma escola, mas num centro de cultura popular, que integra essas áreas, cultura, esporte e educação, e a comunidade participando ativamente na escolha do material didático e na linha que aquela escola vai seguir, na linha pedagógica que aquela escola vai seguir. A gente entende que qualquer tentativa de massificação do ensino desconsidera peculiaridades de cada bairro, de escola, de cada comunidade, então a gente tem que customizar o ensino a cultura e o esporte. No esporte, por exemplo, propiciar condições para que talentos sejam incentivados. Futebol, basquete, quem vai definir o que vai ser ensinado naquela escola vai se a população. Queremos levar manifestações culturais para escola no período integral, buscando uma complementação cultural e esportiva na hora que não estiver sentado na carteira escolar.
Tribuna – Os professores também vão participar?
Emilson Roveri – Com relação aos professores, a gente percebe que existem muitas contratações em regime de excepcionalidade, regime de urgência. O salário do professor da rede municipal hoje é mais atrativo que o salário pago pela rede estadual, então a gente percebeu certa migração para a rede municipal com a perspectiva de ganhar um salário maior, mas isso tudo tem que ser regulamentado, a gente precisa organizar isso, esse caráter de emergência não pode continuar, a gente precisa dar um jeito de efetivar esses professores na rede municipal. A atual situação não dá segurança para nenhum projeto político pedagógico, quando você sabe que um professor pode sair dali a um ano, quer dizer, é a mesma coisa que ter uma empresa, que tem um alto índice de rotatividade. Não há condições de dar sequência a nada, porque todo o treinamento que for investido nesse profissional, dali a pouco é perdido. Então a gente pretende fazer com que estes talentos e conhecimentos fiquem incorporado na rede municipal de ensino e isso passa pela regularização dessa situação.
Tribuna – Como está a questão do transporte coletivo na cidade e como será em seu governo?
Emilson Roveri – Nós precisamos melhorar a qualidade do transporte público, precisamos reduzir o fluxo de veículos particulares, como automóveis e motocicletas, e a gente só vai conseguir isso se oferecer uma alternativa de qualidade e com preços módicos para o transporte público. Como se consegue isso? Primeiro, precisamos ter um sistema de transporte mais flexível, que contemple de maneira regularizada o transporte alternativo de vans, microônibus, etc. Como vamos fazer para chegar lá? Nos horários de pico a gente tem que organizar esse sistema para atender essa demanda, incorporando o transporte alternativo também, e, no horário de fluxo, precisamos analisar a possibilidade de retirar os veículos grandes da rua.
Tribuna – Como isso seria possível?
Emilson Roveri – Tem muito veículo grande no horário de baixo fluxo carregando três, quatro pessoas, meia dúzia, no máximo.A gente entende que isso é um desperdício de dinheiro. Nesses horários seria melhor aumentar a frequência e colocar veículos menores. Ao invés de passar de hora em hora, em horário de baixo fluxo, a gente coloca três vans passando de 20 em 20 minutos, ou três micro-ônibus passando de 20 em 20 minutos. Ele precisa ser flexível. Outro tipo de flexibilidade é a possibilidade de desviar a rota do centro da cidade em horário de alto fluxo.
Tribuna – Como monitorar esse sistema?
Emilson Roveri – Nós precisamos ter um sistema de monitoramento do transporte, da situação do trânsito e dos agentes de trânsito que trabalham na Transerp [Empresa de Transito e Transporte Urbano de Ribeirão Preto] servindo como elo de comunicação e orientação para desvio do fluxo em horário de pico. A palavra é flexibilização, que com certeza vai contrariar alguns interesses cujo0 o modelo é baseado no transporte de massa padronizado e a gente está disposto a enfrentar esse problema com seriedade e a gente só vai conseguir enfrentar esse problema se tiver participação popular, por que a gente sabe que está lidando com algumas famílias que dominam o transporte público de Ribeirão Preto e com contratos que precisarão ser revisados.
Tribuna – Se eleito, como ficará o contrato do consórcio que venceu a concorrência neste ano e deve começar a operar em 2013?
Emilson Roveri: – O contrato seria revisado, vamos renegociar, vamos revisar essa situação justamente para poder incorporar outros modais no transporte público e também ampliar linhas de transporte de bairro a bairro e os corredores estruturais de bairro para o Centro. Temos um projeto que contempla desenvolvimento e local, contempla mobilidade social e contempla o turismo. Verba tem para isso, temos o PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] de Mobilidade. Nós vamos transformar o Barracão (estação no Ipiranga) em um centro de cultura e centro gastronômico e dali utilizando um veículo leve sobre trilhos (VLT) utilizando o leito utilizado pela linha férrea que vai nascer no Barracão e segue até próximo o Jardim Paiva. Do lado desse veículo leve a gente pensa em fazer ciclovias que poderão sair do Barracão e se estender até o Campus d USP, agente entende que esse é um atrativo cultural muito interessante que desenvolve bastante aquela região do Ipiranga.