Esta foi a primeira semana de oitivas na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira. Foram ouvidos os delegados da Polícia Federal Raul Alexandre Marques de Souza e Matheus Mella Rodrigues, na terça-feira 8 e na quinta-feira 10, respectivamente.
Apesar de não ter revelado dados novos em relação aos já divulgados pela imprensa, o delegado Raul de Souza confirmou o envolvimento de parlamentares com a organização criminosa comandada pelo empresário, conforme avaliação de senadores e deputados.
“Estou convencido: o senador Demóstenes era o braço político da organização, um dos principais braços políticos da organização”, afirmou Randolfe Rodrigues. Para ele, não há “possibilidade nenhuma” de que o Senado mantenha Demóstenes Torres (sem partido-GO) no cargo, depois do que foi revelado pelas operações da Polícia Federal.
Além do nome de Demóstenes Torres, o delegado Raul de Souza também confirmou o envolvimento dos deputados Sandes Júnior (PP/GO) e Carlos Alberto Leréia (PSDB/GO) no esquema de Cachoeira, além da ligação entre o contraventor e a construtora Delta.
O depoimento do delegado Matheus Mella Rodrigues trouxe muitos elementos sobre agentes públicos e privados que merecem uma investigação mais aprofundada, segundo o senador Randolfe Rodrigues. Ele fez menção à existência de duas listas de nomes citados nas conversas de integrantes do esquema do bicheiro Carlinhos Cachoeira, cada uma com 82 pessoas.
“Existem 82 pessoas citadas, não significa que foram indiciadas, o que necessita de maior detalhamento. Os 82 indicados [em uma lista] não coincidem com os outros 82 citados. É só o número que coincide”, afirmou o senador.
O delegado Rodrigues deu detalhes sobre a venda da casa do governador Marconi Perillo, de Goiás, para Carlos Cachoeira. O imóvel teria sido vendido ao sobrinho de Cachoeira, Leonardo de Almeida Ramos, que pagou com dois cheques de R$ 400 mil cada e mais um de R$ 600 mil.
Procurador-geral
Ao longo da audiência, os parlamentares evitaram lançar suspeitas sobre o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, em razão da falta de continuidade da Operação Vegas, interrompida por envolver acusados com prerrogativa de foro. Houve, porém, cobranças de explicações da Procuradoria-geral da República (PGR).
A Operação Vegas foi iniciada em 2008 e, em setembro 2009, foi enviada à PGR em razão do foro por prerrogativa de função de pessoas que apareceram nas investigações. Um mês depois, a subprocuradora da República Cláudia Sampaio, esposa de Gurgel, teria respondido à Polícia Federal que não havia elementos suficientes para denunciar os envolvidos com foro privilegiado.
Segundo o relator Odair Cunha, o tema merece reflexão, e uma decisão sobre a convocação de Gurgel pode ser tomada na próxima reunião administrativa da CPI, marcada para 17 de maio. O senador Randolfe Rodrigues se manifestou contra a proposta de convocação do Roberto Gurgel. “A convocação [de Roberto Gurgel] não pode ser sequer uma possibilidade. Ele não pode atuar como testemunha em processo em que será parte”.
Próxima semana
Na terça-feira 15, está programado o depoimento de Carlos Cachoeira, que está preso no presídio da Papuda, em Brasília. Na quinta-feira 17 serão ouvidos os procuradores da República Daniel de Rezende Salgado e Léa Batista de Oliveira.
Informações da Agência Senado e Agência Câmara.
Do site da Liderança do PSOL na Câmara dos Deputados