Misteriosamente, a Líbia desapareceu da “grande mídia” nos cinco meses transcorridos após o assassinato de Muamar Kadafi e a tomada do poder por seus inimigos, com a decisiva ajuda de milhares de bombas lançadas por aviões da Inglaterra, França e EUA. Agora, o país volta à cena com uma iniciativa para a formação de um governo autônomo em Benghazi, na região leste, em desafio ao Conselho Nacional de Transição, instalado pela Otan em Trípoli. Os temores de que, por trás da operação militar, existisse um plano para dividir a Líbia em três entidades políticas separadas – Cirenaica, no leste; Tripolitânia, no oeste; e Fezzan, no sul – ganham, assim, uma dimensão real.
Igor Fuser
Há fortes interesses estrangeiros em jogo. A Líbia possui as maiores reservas petrolíferas da África e dois terços delas estão concentradas na Cirenaica, atual foco do separatismo e também o reduto da sublevação anti-Kadafi . A fragmentação do país, com a instalação de um governo fantoche em Benghazi, facilitaria o controle dessa riqueza pelas transnacionais – que, aliás, já tratam de garantir a recompensa pela participação da Otan na guerra civil. Na lista das empresas a serem beneficiadas com os novos contratos para a exploração do petróleo da Líbia se destacam a Shell e a BP (da Inglaterra), a Total (da França), a ENI (da Itália) e a ConocoPhillips (dos EUA), ou seja, companhias sediadas nos mesmos países envolvidos na derrubada de Kadafi.
Enquanto isso, a Líbia vive uma situação de descalabro. O governo provisório não controla nem sequer a capital e o poder efetivo está nas mãos de centenas de milícias que mantiveram as armas após o fim dos combates. Mais de 8 mil pessoas estão presas sob a acusação de serem simpatizantes do regime deposto e se multiplicam os casos de torturas e de execuções sumárias, denunciadas por entidades de direitos humanos, como a Anistia Internacional.
O sonho da “primavera árabe”, usado pelo imperialismo para disfarçar sua ingerência em países soberanos no Oriente Médio, para os líbios está se tornando, cada vez mais, um amargo pesadelo.
Artigo originalmente publicado na edição impressa 472 do Brasil de Fato
23/03/2012