25 de abril de 2012
INTERSINDICAL
Encontro Nacional de Lutadoras/es – Contra a criminalização dos movimentos sociais e da pobreza
Aconteceu entre os dias 20 e 22 de abril o Encontro Nacional de Lutadoras/es – Contra a criminalização dos movimentos sociais e da pobreza, evento realizado pela Intersindical que aconteceu na cidade do Rio de Janeiro e reuniu mais de 500 militantes.
Organizados em delegações vindas de muitas cidades do Brasil, contou com representação de diversos setores da esquerda como Movimento Avançando Sindical (MAS), Trabalhadores na Luta Socialista (TLS), MTL, Movimento de Esquerda Socialista (MES) e Unidos Para Lutar.
Segundo Arlei Medeiros, da Coordenação Nacional da Intersindical, esse foi um importante encontro, pois estamos em um momento em que os diversos lutadores, sejam sindicalistas, trabalhadores sem terra ou defensores de direitos humanos, estão sendo criminalizados e atacados pelo Estado brasileiro. “Além deste fator, este encontro reuniu os setores combativos que não estão organizados em centrais e tivemos como resolução construir uma mesa de dialogo permanente”, afirmou.
Grandes obras e criminalização da pobreza
A primeira noite de debates contou com a participação de Marcelo Freixo, que abriu o evento com o tema “Grandes obras e criminalização da pobreza”. Com a aproximação da Copa do Mundo de 2014 e Olimpíadas em 2016, os Governos Federal, Estadual e Municipal estão promovendo, por meio das obras preparativas, uma verdadeira barbárie em termos de exclusão social e violação de direitos em várias áreas do país onde serão realizados os jogos.
Segundo Freixo, a década de 1990 foi um período que marcou a vitória do modelo de Estado mínimo, que é amparado por um Estado máximo de repressão. “O Estado não é ausente, o que existe é um projeto de Estado que é mínimo no que diz respeito à sua capacidade de interferir na sociedade, mas, é máximo no controle desta mesma sociedade. E para isso um processo de criminalização, sobretudo dos mais pobres, é decisivo”, explicou. E concluiu: “Nesse Estado democrático iniciado na década de 1990 o inimigo é quem está fora do processo de consumo. E a ‘cidadania do consumo’ não é para todos”.
Para ele, com a chegada dos grandes eventos, o esporte é um instrumento para se alicerçar um modelo elitizado de cidade voltada para os grandes negócios. “É o que estamos chamando de cidade empresa. Não se tem o interesse público investido pelo poder público, mas se tem a lógica do interesse privado sendo operada pelo Estado", concluiu.
Abertura do Encontro
A abertura oficial do evento foi no sábado, com a fala de representantes de todas as entidades envolvidas na organização do encontro. Com discursos muito contundentes, os presentes na mesa debateram a necessidade de resistir ao processo de criminalização em curso, seguir a luta para garantir os direitos trabalhistas, sociais e previdenciários e reafirmar a necessidade de uma sociedade justa e igualitária.
Índio, representante da Coordenação Nacional da Intersindical, iniciou sua fala saudando as várias delegações que vieram de muitas partes do Brasil em um momento tão importante e que visa construir um projeto para o país. Também chamou atenção para o fato de que, no Brasil, a repressão aos movimentos que estiveram à frente das lutas pelos direitos dos oprimidos sempre foi parte de nossa história. “Mas é muito importante entendermos que estamos vivendo um momento particular no processo de criminalizações. Porque há em curso, no mundo, uma regressão das condições de vida, pois o capitalismo, para sair da crise, precisa impor medidas que aumentam a exploração sobre a classe. E, para isso, não pode permitir reação dos explorados”.
Pelo direito de organização dos trabalhadores da Segurança Pública
A segunda mesa tratou de trazer ao debate, policiais que representam aqueles que travam verdadeiras batalhas em seus próprios meios. Cládio Wohlfahrt, do sindicato dos policiais civis do Rio Grande do Sul, Amauri Soares, sargento e deputado estadual de Santa Catarina, Cabo Daciolo, bombeiro e a Deputada Estadual Janira Rocha, do Rio de Janeiro.
Para Cládio Wohlfahrt, temos de nos apropriar deste debate. Depois de uma expressiva intervenção finalizou: “queria dar mais um dado sobre a minha carreira (…) nesses 17 anos de polícia, estou a quatro ou cinco anos no sindicato, os outros doze anos foram em uma delegacia e eu nunca prendi um ‘rico’ na minha vida. Nunca”.
O Deputado Amauri Soares, dirigente da Associação de Praças de Santa Catarina e do MAS, de forma muito qualificada e com muitos dados e conhecimento de causa, defendeu a desmilitarização das polícias e o controle social deste aparato, além de defender o direito de organização sindical desta categoria, vilipendiada em seus direitos pelos sucessivos governos, em todos os estados da federação.
Na sequencia o Cabo Daciolo, que em fevereiro deste ano foi expulso da corporação por liderar a greve do Corpo de Bombeiros do RJ, fez um contundente relato sobre a situação da sua categoria, superexplorada dentro dos quartéis, e fez um chamado para o próximo 20 de maio em Copacabana, um dia de luta em defesa das reivindicações e da dignidade de bombeiros e servidores da polícia militar.
Por último, a Deputada Estadual, Janira Rocha (PSOL), chamou atenção para o fato de que muitas vezes o ritmo de trabalho de um Policial Militar no Rio é análogo ao trabalho escravo. “Um policial ou bombeiro, que vai fazer a segurança de um evento, às vezes vai ficar 24h de pé, com fome e, sem poder sair do local. 24 horas depois, o coronel ordena-lhe que dobre a jornada sob pena de ser preso por desobediência”.
Criminalização das lutas e estrutura sindical
A terceira mesa do sábado foi composta pelas representações das diversas entidades presentes. O debate girou em torno da criminalização das greves, do interdito proibitório, da demissão de grevistas e dirigentes sindicais e de como a estrutura sindical brasileira ainda interfere no processo de organização sindical. Com a participação no debate da plenária, foi sendo construído os termos de uma resolução sobre a estrutura sindical, outra resolução propondo uma ampla campanha pelo direito de lutar, além de outras resoluções que foram aprovadas ao final do encontro.
Cúpula dos povos e destruição ambiental
No último dia do evento, os debates giraram em torno da importância da Cúpula dos Povos, em que diferentes povos, classes trabalhadoras e movimentos sociais se reunirão para discutir os rumos para as lutas em defesa dos recursos naturais que consiste, neste momento, enfrentar o modelo econômico vigente.
Encaminhamentos
Após os debates, os presentes votaram por unanimidade diversas resoluções que serão divulgadas brevemente. O Encontro foi encerrado com os presentes cantando a Internacional Socialista e reafirmando a luta por uma sociedade sem exploradores e sem explorados.