No último dia 16 de novembro, os trabalhadores da Saint Gobain, multinacional francesa que produz no Brasil embalagens, produtos para construção, vidros e materiais de alta performance, entraram em greve por tempo indeterminado. Líder nos ramos em que atua, a Saint Gobain teve lucro líquido de 1,3 bilhões de euros (mais de 3 bilhões de reais) em 2010. A multinacional tem quase 200 mil funcionários em 64 países e seu lucro operacional cresce cerca de 5% ao ano. Desde 1998, a receita de vendas da empresa cresce 7% ao ano. Somente no Brasil, o faturamento Bruto das 56 unidades industriais foi de mais de 6 bilhões de reais no ano passado.
Tamanho poder econômico contrasta brutalmente com a situação de vida e trabalho de seus
funcionários diretos e indiretos. As três unidades da empresa em Vinhedo, que produzem abrasivos, plástico e cerâmica, oferecem condições insalubres aos trabalhadores. Além de não receberem o adicional a que teriam direito, os funcionários dessas unidades não vêem perspectivas de melhoria nas condições do seu local de trabalho.
Outro problema enfrentado é em relação à jornada de trabalho. A Saint Gobain foi uma das primeiras empresas a tentar reduzir jornada com redução de salário, o que não foi aceito nem por trabalhadores nem pela direção do Sindicato dos Químicos Unificados de Campinas, Osasco e Vinhedo. Atualmente, a empresa francesa mantém uma jornada irregular e ilegal, sem acordo assinado com o sindicato; reduz o intervalo intrajornada de trabalhadores, sem qualquer respeito pela saúde e segurança de quem produz seus lucros. Também não paga adicional por trabalho em domingos e feriados, desrespeitando a convenção coletiva de trabalho. E os terceirizados, que recebem 60% do piso da categoria dos químicos, tem seu horário de trabalho alterado ao bel prazer da em presa.
Diante dessa realidade, a quase totalidade dos trabalhadores da produção e uma parcela dos terceirizados das três unidades de Vinhedo estão parados desde o dia 16 de novembro último. Eles reivindicm aumento real de 6% nos salários, o fim das metas que acabam com a vida e a saúde do trabalhador, maior valor do PPR, cesta básica de R$ 150,00 sem custo para os trabalhadores, implantação de plano de cargos, salário igual paratrabalho igual, redução da jornada para 40 horas sem redução do salário, sábados e domingos livres, e convênio médico e odontológico.
A greve atinge os setores de cerâmicas, plásticos e de abrasivos. São mais de 300 trabalhadores dos dois turnos com os braços cruzados, senhores deputados.
Mesmo assim, a resposta da empresa às reivindicações dos trabalhadores só veio no dia 20, através de uma carta de ameaças, que falou de uma reunião de negociação apenas no final do mês. Antes disso, a empresa ameaçou individualmente os grevistas, através da chefia e da polícia, pressionando-os a voltar ao trabalho. A direção da Saint Gobain chegou a telefonar para cada trabalhador dizendo que a greve havia sido declarada ilegal pela Justiça, o que não era verdade.
Na segunda-feira, em reunião com a direção do sindicato, um dos gerentes da empresa afirmou contar com o apoio do Comandante da PM local para “colocar os trabalhadores para dentro”. Na manhã desta terça-feira, foi exatamente isso o que aconteceu: 10 viaturas policiais estacionadas na entrada da empresa ameaçaram o movimento pacífico dos trabalhadores. Foi preciso negociar com o subtenente presente para que os sindicalistas tivessem o direito – que lhes é assegurado por lei – de conversar com os trabalhadores e informá-los de que todos eram livres para decidir se entravam ou não no local de trabalho. Todos se recusaram a trabalhar.
A situação se agrava a cada momento diante da truculência da direção da Saint Gobain em negociar com o Sindicato dos Químicos Unificados e com a represetação dos trabalhadores. Manifestamos assim nossa solidariedade à luta dos químicos em Vinhedo e à resistência dos trabalhadores que não devem se calar diante do ataque a seus direitos.
É inadmissível que em pleno estado de direito uma empresa se comporte dessa forma repressiva e truculenta. Também não é papel da PM impedir a livre atividade sindical e a liberdade de organização e manifestação dos trabalhadores. Reprovamos e repudiamos esse tipo de atitude. Pela abertura do diálogo e das negociações imediatamente.
Muito obrigado.
Ivan Valente
Deputado Federal PSOL/SP
Pronunciamento no Plenário da Câmara dos Deputados – 23/11/2011