Esta quinta-feira, o Chile foi novamente marcado por protestos e por uma forte repressão por parte das forças policiais. Os manifestantes anunciaram que continuarão com as mobilizações e convocarão uma nova greve nacional para o dia 19 de Outubro. A reportagem é de Christian Palma, directo de Santiago.
Postado: ESQUERDA.NET
Foto publicada na Carta Maior.
Apesar de não terem sido autorizados pela prefeitura para marchar pela capital chilena, os estudantes reuniram-se assim mesmo, quinta-feira, na Praça Itália, tradicional ponto de encontro nestes cinco meses de ocupações e greves, para iniciar uma nova caminhada denunciando a intransigência do governo de Sebastian Piñera, sobretudo na última reunião entre ambas as partes, que culminou com a saída dos estudantes da mesa de diálogo, após o Ministério da Educação reafirmar que a educação no Chile não pode ser grátis.
A líder universitária, Camila Vallejo, junto com um grupo de dirigentes e estudantes, encabeçava a marcha levando um lenço com a frase “Unidos com + força”. No entanto, poucos minutos após o início da marcha, os manifestantes foram reprimidos por um carro com jactos de água, dos polícias, que acabaram com a manifestação que estava apenas a começar.
Esse facto deu início a duros confrontos entre estudantes e forças policiais em diferentes pontos de Santiago, sobretudo em frente à Universidade Católica, à Universidade do Chile, ao Instituto Nacional (colégio secundário mais importante do Chile) e nos arredores do Palácio de La Moneda, em pleno centro de Santiago, onde um grupo de jovens com o rosto coberto instalou barricadas na principal avenida da capital, a Alameda, provocando a aparição imediata da polícia que os esperava para entrar em acção. E fez isso utilizando a força. A polícia reprimiu a todos por igual, aos que faziam desordens, aos estudantes inocentes e às pessoas comuns que passavam pelo lugar naquele momento. Foram cinco horas de luta contínua que deixou 150 detidos e vários feridos, entre civis e policiais.
A ruptura da mesa de diálogo pela educação, que não apresentou nenhum avanço na direcção de uma educação gratuita e de qualidade, segue unificando os jovens que ontem também condenaram a repressão aplicada pelo governo contra os manifestantes.
Neste cenário, a Confederação de Estudantes do Chile (Confech), representada pelos porta-vozes Camila Vallejo e Camilo Ballesteros, juntamente com o presidente da Central Unitária dos Trabalhadores (CUT), Arturo Martínez, e o presidente do Colégio de Professores, Jaime Gajardo, anunciaram que continuarão com as mobilizações e convocarão uma nova greve nacional para o dia 19 de Outubro.
“Resolvemos convocar para a próxima semana todas as organizações sociais, culturais, sindicais, ecologistas e profissionais para uma mobilização. Convocamos a todas as organizações que estão contra a repressão”, disse Martínez.
A respeito do balanço sobre a jornada de quinta-feira, a totalidade dos dirigentes que convocaram a greve geral nacional coincidiram em classificar a acção do governo como uma das mais violentas e repressivas até agora. “Lamentamos novamente como o governo decidiu enfrentar o movimento. A prefeitura deu-lhes liberdade absoluta para reprimir, para evitar reuniões nos espaços públicos e essas coisas são inaceitáveis, porque violam a liberdade constitucional”, assinalou Camila Vallejo.
Do outro lado, a prefeita de Santiago, Cecília Perez, qualificou os dirigentes do movimento como “responsáveis pelos desacatos”. Nesta linha, Camila Vallejo respondeu que a “prefeitura não só deu à polícia, conscientemente, absoluta liberdade para reprimir e não permitir que a manifestação avançasse pela Alameda, como também para impedir que as pessoas se reunissem nos espaços públicos”. A dirigente estudantil apelou a todos os chilenos “para apoiarem o movimento e para manifestarem o seu repúdio contra essa repressão”.
Na noite de quinta, na televisão, o ministro do Interior, Rodrigo Hinzpeter, defendeu o Projecto de Lei denominado “antitomas”, firmado pelo presidente Sebastian Piñera no domingo passado, que estabelece sanções para aqueles que tomem de forma violenta edifícios públicos e privados, ou que participem de saques e desordens públicas. “Estamos seguros que representamos a grande maioria dos chilenos e chilenas. Aqueles que saqueiam com força e violência um pequeno armazém, uma escola, um hospital, uma igreja, estão cometendo um delito”, afirmou.
A quinta-feira terminou ao som de panelas em protestos ao contra a nova jornada de repressão que fez lembrar os piores momentos da ditadura de Pinochet. Enquanto isso, outra vez, as barricadas acendiam no meio da noite, dando conta de um movimento que vai mais além da mobilização dos estudantes e que envolve toda uma sociedade que reclama mudanças em modelo que está a dar problemas não só no Chile, mas no mundo inteiro.
Tradução: Katarina Peixoto