Fundação Lauro Campos
Marcelo Freixo"Por que o Sr. Rodrigo Bethlem é testemunha de defesa dessa máfia que está colocada no Rio de Janeiro? Porque essa máfia tem tentáculos políticos e são políticos ainda atuantes dentro do Poder público. (…) Quando interrogamos aqui o Sr. Cristiano Girão, esse facínora que está preso e foi vereador do Rio de Janeiro, ele mesmo disse que já tinha ocupado um cargo importante no Governo Rosinha, colocado lá pelo Sr. Rodrigo Bethlem. Essas relações são antigas e precisam ser investigadas", disse Marcelo Freixo, nesta quarta-feira (19/10), na ocasião da suspensão do julgamento de milicianos por conta da ausência de Bethlem.
Leia, a seguir, o a íntegra do pronunciamento do deputado Marcelo Freixo (PSOL), no plenário da ALERJ, em 19 de outubro de 2011.
"Sras. e Srs. Deputados, o que me traz a esta tribuna foi o ocorrido ontem no Rio de Janeiro e que me chamou muito a atenção, tanto a cobertura da imprensa hoje (19/10) como o fato em si. Ontem, teríamos no Rio de Janeiro um julgamento muito importante, o julgamento de uma parte poderosa das milícias em nosso Estado. Teríamos, inclusive, o julgamento de um ex-deputado, de um ex-vereador, enfim, de uma quadrilha que conhecemos bem, pois esta Casa contribuiu para que ela fosse desmontada e presa.
"Ontem (18/10), ocorreria o julgamento de um dos episódios criminosos envolvendo essas pessoas. Mas o que me chamou a atenção é que o julgamento não ocorreu. Não ocorreu, fundamentalmente por um conflito – e é essa a leitura que a imprensa fez – entre a Defensoria Pública e a juíza. Fato: ocorreu esse desentendimento. Todas as matérias de todos os veículos se referem ao conflito entre a defensora e a juíza. E eu acho, e quero aqui trazer, como parlamentar, que o mais importante do fato não foi o conflito entre a juíza e a defensora, mas o que levou ao conflito. Porque a defensora disse que não faria a defesa se uma determinada testemunha muito importante, da defesa, não aparecesse. E não apareceu. A testemunha se chama Sr. Rodrigo Bethlem. Esse é o debate mais importante: por que o Sr. Rodrigo Bethlem é testemunha de defesa dessa máfia que está colocada no Rio de Janeiro?
"Sabe por quê? Porque essa máfia tem tentáculos políticos e são políticos ainda atuantes dentro do Poder público. Aliás, diga-se de passagem, ele não apareceu porque disseram que ele estava no México – já não é mais no México, é Orlando -, mas ele, hoje de manhã, participou de uma Audiência Pública na Câmara. Então, para ir à Audiência Pública na Câmara deu tempo, para ser testemunha ontem não deu.
Eu estou atento para saber qual vai ser o seu testemunho. Eu vou acompanhar para saber qual é o seu testemunho; se vai mais uma vez alimentar a máfia no Rio de Janeiro; se vai mais uma vez ser conivente com essa pouca vergonha no Rio de Janeiro. Porque tem a vida de muita gente; não é só a minha vida, não. E eu quero agradecer a solidariedade de diversos Deputados e Deputadas desta Casa em relação ao que estou passando. Mas não é só a minha vida, não. É a vida de milhares e milhares de pessoas que não podem ter a defesa que eu tenho; que não podem ter a visibilidade que eu tenho; que são massacradas no dia a dia do Rio de Janeiro. E o que alimenta isso, essa pouca vergonha política, que se abastece desse domínio territorial e eleitoral; sempre fez isso.
"Quando interrogamos, aqui, o Sr. Cristiano Girão, esse facínora que está preso e foi vereador do Rio de Janeiro, quando o interrogamos aqui, o Sr. Cristiano Girão, ele mesmo, disse que já tinha ocupado um cargo importante no Governo Rosinha, colocado lá pelo Sr. Rodrigo Bethlem. Ele e os seus comparsas, muitos com cargos importantes na Prefeitura do Rio de Janeiro, sempre se alimentaram dessas relações espúrias lá em Jacarepaguá e Recreio, de onde vêm como subprefeitos. Essas relações são antigas e precisam ser investigadas; precisam ser ditas. Nós não podemos esconder o mais importante.
Vou concluir, Deputado.
"A Operação Guilhotina, que prendeu diversos policiais, mostrou onde esses policiais estavam lotados: na Secretaria de Ordem Pública. É muita coincidência esse conjunto de relações envolvendo pessoas de vida pública. É disso que a milícia se alimenta e é por isso que tem tanta gente morrendo e essa máfia crescendo no Rio de Janeiro.
"Eu não vou ficar me escondendo. Isso é um absurdo! Esse é o principal debate que tem que ser feito pelos meios de comunicação: não a briga entre a defensora e a juíza, mas por que uma personalidade política é testemunha de defesa. Porque ele estava dentro do carro, cercado de milicianos, como subsecretário ou secretário – não lembro o cargo que ocupava na época -, essas pessoas saíram do carro para tentar executar uma pessoa e voltaram para o carro. Isso foi testemunhado por diversas pessoas. Testemunhado por diversas pessoas que estão mudando o seu testemunho porque estão ameaçadas. É uma pessoa que tem vida pública, tem responsabilidade e isso vai ser cobrado. Isso foi cobrado na CPI e vai continuar sendo cobrado agora.
"Obrigado, Sr. Presidente."