A demissão do ministro da Defesa Nelson Jobim até parece os melhores momentos do Big Brother Brasil – pelo alto nível intelectual e político. Substituído hoje pelo ex-chanceler Celso Amorim (já com publicação no Diário Oficial da União), Jobim capitaneou inúmeros retrocessos políticos no País, inclusive a defesa da impunidade para os torturadores da Ditadura Militar.
Por Hamilton Octavio de Souza
Não dá para dizer que Dilma Rousseff tenha demitido Nelson Jobim pela inapetência ou vocação direitista num governo que se quer marcar como sendo progressista. Nem dá para dizer que o ministro, o mais tucano dos peemedebistas no governo – depois de Michel Temer, tenha saído por alguma incompatibilidade insuperável diante do rumo esquerdizante da atual gestão.
Nada disso. O boquirroto apenas achou que a costa-larga – cota de Lula, PMDB e dos milicos – lhe dava alvará amplo e irrestrito para dizer o que bem entendesse sobre o governo, a presidente, colegas de ministério e que tais. A não ser que esteja sofrendo de alguma doença que afeta o discernimento, o que vociferou nos últimos tempos é digno da arrogância típica dos impunidos do Brasil.
Há evidentemente quem diga que o agora ex-ministro queria mesmo despedir-se de Brasília e do ninho que o acolheu, onde foi tratado com honrarias desde 2007, no governo Lula. Na verdade, ele nunca sofreu desconforto por ter adentrado o poleiro alheio. Ao contrário, sempre ficou bem à vontade para defender suas posições retrógradas e abusar dos impropérios. Com certeza, Jobim deixou o Ministério da Defesa, depois de quatro anos, como sendo o sujeito mais perdoado do alto escalão.
A grande imprensa neoliberal-burguesa deu grande contribuição para a atribulada passagem do peemedebista tucano pelos governos do PT. Inicialmente, toda a mídia tratou o “jurista” gaúcho, especialista no copydesk da Constituição de 1988, como o salvador da aviação e do sistema aeroportuário. Foi devidamente colocado nos céus como o grande propulsor da privataria generalizada do patrimônio público.
Na correspondência da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, divulgada pelo site WikiLeaks, o ministro Jobim era citado como grande colaborador e de confiança do governo estadunidense. Em várias conversas com os diplomatas estrangeiros ele fez comentários reveladores sobre assuntos reservados e membros do governo. Um vende-pátria de primeira hora.
Depois, foi novamente carregado nos braços da gorilada quando peitou o Programa Nacional de Direitos Humanos para defender os torturadores da ditadura militar e o esquecimento dos crimes do Estado. Tanto azucrinou o ex-ministro Paulo Vannuchi, dos Direitos Humanos, que o ex-presidente Lula retirou do programa original os pontos atacados por Jobim. Na contramão da história, ele ajudou a colocar a Comissão da Verdade no congelador – até hoje.
Mais recentemente, essa mídia que serve ao capital passou a dar destaque aos desabafos mais íntimos e sinceros do ministro – tais como ele dizer que o governo é dominado pelos imbecis, ou que votou no Serra (e não na Dilma) na eleição de 2010, e, agora, que as novas ministras da cozinha do Planalto são fracas e despreparadas.
O gozado dessa história toda é que a mídia que se identifica politicamente com ele, estava contando com o seu super-alvará para estimular a intriga palaciana e tentar fragilizar ainda mais a titubeante presidente. Pode ser até que essa mídia tenha conseguido alguns pontos de seu objetivo, mas perdeu um forte aliado no coração do governo.
Mais gozado ainda é que o fato derradeiro que fez o tucano bicudo cair do poleiro não passou de um factóide contido numa revista do sistema (“Piauí”), que ainda nem estava nas bancas, mas que foi alardeado aos quatro ventos para criar uma situação irreversível para a presidente Dilma. Jobim foi para o paredão não porque seja um quadro qualificado da direita, mas porque não resistiu a uma fofoca que ele mesmo criou.
Hamilton Octavio de Souza é jornalista.
Site da Revista Caros Amigos