Por Milton Temer
Conjuntura complexa a que vivemos. Um dos principais quadros do grande capital internacional, e de seus cúmplices no Brasil, Antonio Palocci, consegue ser também, por força de guinada programática da corrente majoritária na cúpula do partido, um dos “intocáveis” do Partido dos Trabalhadores. O que lhe permite operar como eficiente quinta-coluna das classes dirigentes junto até a alguns militantes de boa-fé. Militantes que, na conjuntura atual, encontram motivo para ver, nos ataques a Palocci, uma manobra do famigerado PIG (partido da imprensa golpista).
Mas é interessante que o próprio autor da sigla – o bem informado e combativo jornalista Paulo Henrique Amorim, com o seu @conversafiada – é um dos principais contestadores da bizarra decisão do Procurador Geral da República, ao se negar a abrir investigação contra Palocci. De minha parte, prefiro ler pelo lado positivo, para continuar o embate contra esse embuste. Ele diz não haver indícios para investigar, no Código Penal, mas admite a legitimidade da iniciativa do Ministério Público do Distrito Federal, que investiga Palocci por improbidade administrativa.
E é para isso que têm que atentar os não cooptados pelo pragmatismo palaciano que contaminou amplos segmentos privilegiados do PT. Para isso têm que atentar os que não compõem o PT da “boquinha”, e seguem convictos de que opor-se ao avanço do neoliberalismo com roupagem nova, que essa corrente defende, constitui tarefa fundamental.
Qual o grande prejuízo que a esquerda tem com a defesa de Palocci assumida por Lula e lideranças maiores do PT? É o de abrir um campo de ação falacioso para o “udenismo moralista”. É abrir para bancadas do PSDB-PFL e seus sucedâneos, a possibilidade portar bandeiras com as quais nada têm a ver, por seus passados muito mais identificados com “folhas corridas” do que com currículos de vida airosa.
Esses farsantes, todos financiados pelos parceiros de Palocci, não querem por fim às práticas criminosas de privatização do bem público, porque é nessa prática que sempre encontraram os recursos para encher suas burras. Apenas se aproveitam do momento, para dar luz ao embate parlamentar. Para poder substituir o próprio Palocci nas práticas que o levam a ser investigado pelo MP de Brasília.
Nesse contexto, o que cabe à esquerda? Carlar-se para não se misturar com essa escumalha reacionária? Nem de perto. Cabe denunciar os dois como produtos inerentes do caráter essencialmente predatória dessa ordem econômica que oprime maiorias para enriquecer privilegiados. Dessa ordem capitalista.
É isso que temos que deixar claro permanentemente. Embora estejamos táticamente coincidentes, até juntos, não estamos misturados. Estamos contra os dois: os que se venderam, como Palocci e seus aliados – dos maganos do PT aos cardeais desprezíveis do PMDB -, e os que sempre estiveram cúmplices dos que corrompem e degradam as instituições, ditas, republicanas – PSDB,PFL e seus sucedâneos.
E é por aí que fazemos a diferença. É por aí que nos fazemos imprescindíveis.
Milton Temer é jornalista