A revista Caros Amigos está nas bancas com uma reportagem instigante. A repórter Lúcia Rodrigues expõe que embora a ditadura militar tenha acabado a perseguição aos que ousam se levantar contra as injustiças sociais neste país continua regra. E a criminalização da luta dos ativistas do campo e da cidade, uma constante. Além de utilizar a polícia para perseguir os lutadores sociais, agora, os poderes do Estado movem processos jurídicos para intimidar os ativistas.
O Juiz Rubens Roberto Rebello Casara, que conhece por dentro o Judiciário
brasileiro, é um dos entrevistados dessa matéria. Ele trabalha na 43ª Vara Criminal do Rio de Janeiro. Magistrado de uma nova safra de juízes sabe que a Justiça não é cega, surda e tão pouco muda, mas que tem lado, e é o do mais forte. “Não há neutralidade no Poder Judiciário. Todo mundo julga a partir de valores, de uma visão de mundo”.
Casara explica também por que e como se dá a repressão dos movimentos pelos meios legais: “o Poder Judiciário tem a função histórica de manter o status quo. A criminalização dos movimentos sociais tem esse objetivo, quer evitar que o movimento produza mudanças. É uma proposta conservadora de sociedade. Por isso Desqualifica os
movimentos, descontextualiza seus protestos, retira a dimensão social e a motivação coletiva e trata como se fossem atos individuais, que precisam ser punidos pelo Estado”.
Inclusive, o Juiz Casara por ir contra as incursões militares, no final do ano passado no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, foi acionado pelo Ministério Público. “A coisa mais revolucionária que eu disse, é que não se combate ilegalidade com ilegalidade”.
Na reportagem são usados diversos exemplos desse tipo de prática. Um deles é do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). A advogada Giane Álvares conta que só no Estado de São Paulo estão em curso aproximadamente 50 processos contra militantes.
Giane afirma também que a mídia cumpre papel de destaque nessa orquestração contra os movimentos sociais e ilustra com um fato real: o tratamento que foi dado à ocupação das terras da União, invadidas pela Cutrale. A Rede Globo deu o pontapé inicial no massacre, que foi replicado nos demais veículos da grande mídia. Como sempre, a concessão dos Marinho, obteve informações privilegiadas para chegar ao local antes, e dar a sua versão, que rapidamente se transformou na “versão oficial” dos fatos. Em nenhum momento foi informado que o verdadeiro o invasor era a empresa Cultrale.
A reportagem, em quatro páginas da edição da Caros Amigos traz, ainda, casos de líderes estudantis, a perseguição aos militantes do Movimento Passe Livre, em SP, e a criminalização da luta dos que atuam contra os megaprojetos, como
a batalha para barrar a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará.