A senadora Marinor Brito (PSOL-PA) afirmou nesta quarta-feira (23), em discurso no Plenário, que 70% dos candidatos das eleições de 2010 enquadrados na Lei da Ficha Limpa foram “barrados nas urnas” por vontade dos eleitores brasileiros.
– Apenas 30% deles, as raposas da política, os mais eficazes na roubalheira e corrupção, na utilização do Congresso Nacional e das estruturas de poder nos estados, conseguiram mais uma vez driblar a vontade do povo e alcançaram um percentual razoável de votos, com o mesmo abuso do poder econômico, com a mesma utilização da máquina pública, e recorreram à Justiça brasileira – disse.
Marinor iniciou seu pronunciamento logo depois de o ministro Luiz Fux declarar voto contrário à aplicação dessa lei para as eleições do ano passado. Ele acompanhou o entendimento do relator, ministro Gilmar Mendes, no julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a validade da Lei Complementar 135/10 para o pleito de 2010.
A senadora lembrou que a Lei da Ficha Limpa foi oriunda de iniciativa popular com o apoio de movimentos sociais que combatem a corrupção no país. Ela afirmou que a iniciativa popular da proposta espelhou a vontade da população brasileira para enfrentar questões como a corrupção e o abuso do poder econômico na política.
– A Lei da Ficha Limpa surgiu para barrar corruptos e desonestos, para barrar os que historicamente têm deixado o povo no abandono, para barrar politicamente os que têm representado a fome, a miséria, a prostituição infanto-juvenil, os que têm respondido pelo trabalho escravo, os que respondem pela visão de desenvolvimento macroeconômico neste país que tem deixado o povo da minha região e o povo brasileiro na mais desesperadora situação – afirmou.
No Plenário do Senado, os deputados federais Jean Wyllys, Ivan Valente e Chico Alencar prestigiaram o discurso emocionado e indignado de sua correligionária.
– Nós queremos ver fortalecida a democracia direta neste país, nós queremos ter um Judiciário transparente, nós queremos ver varridos da política brasileira os corruptos como Jader Barbalho. Queremos ver varridos da política brasileira os Roriz da vida, os Malufs da vida e muitos outros que contribuíram para matar o sonho de milhares e milhares de crianças – declarou.
De acordo com a senadora, o estado do Pará vem sendo historicamente “saqueado por essa elite podre e sórdida”, o que se reflete na precariedade do transporte coletivo e da saúde do estado, exemplificou. Na opinião de Marinor, o voto de Fux não acompanhou os anseios do povo brasileiro.
– Queria ver o senhor Jader Barbalho conquistar votos sem a concessão pública dada por este governo, na sua emissora de rádio, de televisão, fazendo auto- propaganda diuturnamente. Queria ver se essas raposas da política, se não tivessem as benesses do governo, as facilitações das estruturas públicas, o aporte financeiro de quem cobra a conta na hora da votação estariam com algum percentual de voto, se teriam a possibilidade de fazer essa disputa no Judiciário – opinou.
Em apartes, os senadores João Pedro (PT-AM), Cristovam Buarque (PDT-DF), Pedro Taques (PDT-MT), Wellington Dias (PT-PI), Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), Paulo Davim (PV-RN), Inácio Arruda (PCdoB-CE) e Paulo Paim (PT-RS) solidarizaram-se com a colega.
João Pedro disse que, caso Marinor viesse a perder o mandato em virtude da decisão do STF, mesmo assim ela não perderia a voz nem seus compromissos populares.
– Vossa Excelência pode até sair daqui, mas vamos continuar lutando por um Brasil melhor, verdadeiramente democrático. A luta continua, minha companheira – disse João Pedro.
Paulo Davim destacou a coragem e coerência da colega. Randolfe afirmou que Marinor “é dura contra os inimigos do povo, mas carinhosa com os companheiros” e disse que, se a colega tiver de sair do Senado, o Pará perderá “a melhor senadora que já teve em toda a sua história”. Pedro Taques avaliou que a decisão do Supremo reflete “o relativismo ético” da cultura brasileira.
Cristovam afirmou que, caso Marinor perca o mandato, “vai fazer muita falta” ao Senado, devido à “coerência ideológica e compromisso com prioridades relacionadas ao povo brasileiro” que a senadora mostrou.
– O cargo é uma coisa passageira. Permanente é a nossa luta. E nessa luta, ninguém vai tirar o seu mandato; nessa luta, a sua coerência e a sua história vão continuar determinando o que a senhora vai fazer e onde vai fazer – disse Cristovam.
Paim lamentou a possível decisão do STF contra a aplicação da Lei da Ficha Limpa no pleito de 2010 e garantiu que ajudará a colega a “lutar até a última instância”. Inácio Arruda declarou a solidariedade do PCdoB a Marinor. Wellington Dias declarou sua solidariedade e admiração pela colega.
Fonte: Agência Senado