Estamos em total desacordo com as tomadas de posição de Hugo Chávez, Daniel Ortega e Fidel Castro. Não nos opomos ao imperialismo apoiando os ditadores que massacram os seus povos, porque isso é reforçá-lo. Declaração do Bureau da IV Internacional.
As ondas de choque das revoluções egípcias e tunisinas continua a espalhar-se pelo mundo árabe e para além dele. Durante estes dias, é a Líbia que está no centro do turbilhão revolucionário. Os acontecimentos evoluem a cada dia, a cada hora, mas hoje tudo depende da mobilização extraordinária do povo líbio. Centenas de milhares de líbios ergueram-se para atacar a ditadura de Khadafi, muitas vezes apenas com a força das suas mãos desarmadas. Cidades e regiões inteiras caíram nas mãos das populações insurgentes. A resposta da ditadura foi impiedosa: repressão sem piedade, massacres, bombardeamento das populações com armamento pesado e ataques aéreos. Hoje, é uma luta até à morte entre o povo e a ditadura. Uma das características da revolução líbia, comparada às da Tunísia e do Egipto, é a fragmentação do aparelho policial e militar. Há confrontações dentro do próprio exército, uma divisão territorial, que opõe as regiões e cidades controladas pelos insurgentes à área de Tripoli, onde está a base da força militar da ditadura. A ditadura líbia representa demasiadas injustiças sociais e democráticas, para além da repressão e ataques aos direitos e liberdades elementares. Tem de ser afastada.
A revolução líbia é parte dum processo que abarca o mundo árabe no seu conjunto e vai para além dele, no Irão e na China. Os processos revolucionários na Tunísia e no Egipto estão a radicalizar-se. Na Tunísia, os governos caem um após o outro. A juventude e os trabalhadores estão a levar mais longe os seus movimentos. Todas as formas de continuidade do regime estão a ser postas em causa. A reivindicação de uma assembleia constituinte, oposta a todas as operações de salvamento do regime, está a ganhar força. Em ambos os países, Tunísia e Egipto, o movimento dos trabalhadores reorganiza-se no lume da vaga de greves pela satisfação de necessidades sociais vitais. Este ascenso revolucionário tem formas particulares e distintas consoante os países: confrontos violentos no Iémen e Bahrein, manifestações na Jordânia, Marrocos e Argélia. O Irão está novamente a braços com uma explosão das lutas e das manifestações contra o regime de Ahmadinejad e pela democracia.
É neste contexto que a situação na Líbia adquire uma importância estratégica. Este novo ascenso já traz consigo mudanças históricas, mas o seu desenvolvimento pode depender da batalha da Líbia. Se Khadafi tomar de novo o controlo da situação, com milhares de mortes, o processo poderia abrandar, ser contido ou mesmo bloqueado. Se Khadafi for derrubado, o movimento será por consequência estimulado e amplificado. Por esta razão, todas as classes dominantes, todos os governos e todos os regimes reaccionários no mundo árabe estão mais ou menos a apoiar a ditadura líbia.
É também neste contexto que o imperialismo norte-americano, a União Europeia e a NATO estão a multiplicar-se em manobras para tentar controlar este processo que está em marcha. Apesar dos discursos de uns e de outros, as revoluções em curso enfraquecem as posições dos imperialismos ocidentais. Por isso, como sempre, o imperialismo usa o pretexto da “situação de caos”, como lhe chama, ou da “catástrofe humanitária” para preparar uma intervenção e voltar a controlar a situação. Que ninguém se engane sobre os objectivos das potências da NATO: elas querem confiscar as revoluções em marcha aos povos da região, e tirar vantagem da situação para ocupar novas posições, nomeadamente no controlo de regiões petrolíferas. É por esta razão fundamental que é necessário rejeitar qualquer intervenção militar do imperialismo norte-americano. É o povo líbio, que começou este trabalho, que o deve agora terminar com o apoio dos povos da região e todas as forças progressistas à escala internacional devem contribuir, através da sua solidariedade e apoio.
Deste ponto de vista, estamos em total desacordo com as tomadas de posição de Hugo Chávez, Daniel Ortega e Fidel Castro. Fidel Castro denunciou o risco duma intervenção do imperialismo norte-americano em vez de apoiar a luta do povo líbio. Quanto a Chávez, reiterou o seu apoio ao ditador Khadafi. Estas tomadas de posição são inaceitáveis para as forças revolucionárias, progressistas e antiimperialistas do mundo inteiro. Não nos opomos ao imperialismo apoiando os ditadores que massacram os seus povos, porque isso é reforçá-lo. A tarefa fundamental do movimento revolucionário, à escala internacional, é defender estas revoluções e de se opor ao imperialismo, apoiando as revoluções em vez dos ditadores.
Estamos ao lado do povo líbio e das revoluções árabes em marcha. A nossa solidariedade incondicional deve exprimir-se pelos direitos cívicos, democráticos e sociais que emergem nesta revolução. Uma das prioridades consiste em apoiar todas as ajudas ao povo líbio – ajudas médicas vindas da Tunísia e do Egipto, ajuda alimentar necessária –, a exigir a rescisão de todos os contratos comerciais com a Líbia e o fim de todo o fornecimento de armas. É preciso impedir o massacre do povo líbio.
Solidariedade com as revoluções árabes!
Apoio ao povo líbio!
Não à intervenção imperialista na Líbia!