Em entrevista ao portal “Terra” na manhã desta segunda-feira (2 de agosto), o candidato do PSOL à Presidência da República, Plínio Arruda Sampaio, denunciou as candidaturas privilegiadas em termos de exibição pela grande mídia como parte do mesmo “modelo capitalista neoliberal, que exclui as pessoas”. Plínio fez questão de ressaltar que “a proposta do PSOL é outra, de uma economia voltada para os mais pobres. Hoje os 10% mais ricos aqui ganham 40 vezes mais que os 10% mais pobres. Isso é absurdo. Nosso modelo é de distribuição da riqueza de verdade”.
O candidato do PSOL lembrou ainda que o partido é oposição não apenas ao governo, mas “a todo esse sistema social tão perverso”. “Temos certeza que os três não vão produzir propostas que digam respeito aos problemas reais do povo brasileiro”.
Entre os problemas reais que interessam à Nação, Plínio destacou a sangria do pagamento da dívida pública. “36% do orçamento vão pro pagamento de juros da dívida, a educação 3% e a saúde [recebem] 5%. E é por isso que está desse jeito. Esperar uma operação um ano, dois anos, é um absurdo”, disse.
Perguntado sobre a política do PSOL para a dívida pública, Plínio explicou que “a primeira coisa a fazer é auditar essa dívida, não pagar o que não for divida e fazer uma diferenciação – o pequeno, pagamos, os grandes vamos alongar. Só com isso você já dobra o orçamento da saúde e da educação”.
Para Plínio, a educação é um dos principais fatores que perpetuam a desigualdade social no Brasil. E defendeu que o Estado deve garantir educação pública em todos os níveis de ensino. “A idéia é a seguinte: dinheiro público só para escola pública. Se o dinheiro público for só para a escola pública e o investimento do PIB for de 10% a educação será outra”. O candidato lembrou ainda a manutenção, por Lula, dos vetos feitos por FHC aos artigos referentes ao financiamento do ensino no Plano Nacional de Educação. A sociedade brasileira defendeu quando da aprovação do PNE que 10% do PIB fossem investidos no sistema nacional de ensino, mas o governo tucano vetou a destinação carimbada e Lula manteve os vetos. “Não temos um recurso maior para a educação por conta dos governos Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva”, destacou Plínio.
Plínio destacou a importância dos debates televisivos para que o PSOL tenha a oportunidade de apresentar seu programa de governo ao povo brasileiro e evidenciar como sua candidatura é a única de perfil efetivamente alternativo às demais. “[O debate] é crucial porque a TV é o grande mecanismo de divulgação das idéias e das campanhas. É essencial que tenhamos essa possibilidade porque o PSOL é um partido novo, muito restrito na questão dos recursos. Não recebemos dinheiro de pessoas jurídicas, só de particulares e quantias pequenas”. Plínio está confirmado no debate da Band, que acontece no próximo dia 5 de agosto, e também nos confrontos promovidos pela MTV (10/8), pelas TVs católicas (23/8), TV Gazeta (8/9), Rede TV (12/9) e Record (26/9). O candidato do PSOL tem direito legal ainda de participar do debate da Rede Globo (30/9).
“O MST civiliza a luta pela terra”
Na parte do programa que tratou sobre a questão agrária, Plínio reiterou que “o problema do meio ambiente é tão sério que o próprio capitalismo começou a tomar medidas, mas elas [as medidas capitalistas do chamado desenvolvimento sustentável] não podem tocar no lucro e por isso são insuficientes para defender a natureza. O lucro tem que se acomodar à natureza e não a natureza ao lucro”. Plínio foi enfático ainda ao afirmar que “a única condição para preservar o campo é a reforma agrária”.
Sobre o agronegócio, o candidato do PSOL defendeu que “pode ser localizado em algumas áreas do país. É o máximo. E não essa loucura de entregar para eles a Amazônia, como fez o Lula com a lei de terras (referindo-se à lei das florestas), que entrega 67 milhões de hectares para o agronegócio”.
E fez questão de novamente defender o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. “Se o MST não existisse nós já tínhamos focos de guerrilha rural no Brasil. O MST civiliza a luta pela terra. O MST ocupa terra que ele sabe que o Incra tem o dever de desapropriar. Ele apenas apressa a ação do governo”.
“Se acaso formos poder, vamos governar com o povo”
Questionado por um internauta sobre como faria para governar tendo minoria legislativa, Plínio destacou que a possibilidade de sua eleição certamente fará com que o PSOL tenha mais peso no Congresso Nacional. Mas fez questão de ressaltar que num governo do PSOL não haveria “mensalão” porque “se acaso formos ao poder, vamos governar com o povo”.
Plínio frisou ainda que essa é uma das importantes diferenças do PSOL com o atual PT – que abriu mão do projeto socialista para se adaptar à ordem estabelecida. Mas fez questão de diferenciar o militante do PT da direção do partido. “O petista sabe que o petista nessa eleição sou eu, mas eles têm medo do Serra – que é a truculência da direita”.
Temas polêmicos
Plínio também não se esquivou das perguntas sobre temas polêmicos que surgiram durante a entrevista. Destacamos abaixo alguns de seus posicionamentos sobre os temas do debate.
Aborto – “O aborto que ser legal, ou seja, submetido ao controle da lei. Não há mulher que goste de fazer um aborto. Com isso, tenho certeza de que vamos reduzir muito a questão do aborto”.
União civil homossexual – “O que se está discutindo é um contrato civil entre duas pessoas que decidem viver juntas. É legítimo”.
Drogas – “As drogas culturais tem que ser legalizadas, fora do comércio. Outra coisa são as letais, sintéticas, produzidas para o lucro. O crack, por exemplo, é inaceitável e deve ser combatido”.
Cuba – “Se a situação fosse tão ruim, a 140 km dos EUA e com uma população em Miami prontinha para entrar lá, porque não entrou até hj? O grande responsável pelo fechamento de Cuba são os EUA”.
Financiamento público de campanha – “Se eu tivesse os mesmos recursos que Serra, Dilma e Marina os ibopes estariam bem diferentes”. Plínio voltou a defender que os candidatos tenham regras rígidas sobre o que pode ou não ser feito nas eleições e recebam os mesmos recursos, não diretamente dos cofres públicos, mas por meio da prestação de gastos das campanhas, após revisão minuciosa pelo Tribunal Superior Eleitoral sobre a legalidade do gasto. O TSE seria, então, o responsável por quitar o débito com os fornecedores do que estivesse dentro dos marcos legais.
ICMS e royalties do petróleo – “O gasto ambiental que o estado tem com a produção do petróleo tem que ser indenizado. O ICMS é injusto, precisa ser modificado de ponta a ponta, precisa ser reduzido, taxar desigualmente os produtos que fazem parte do consumo da linha da pobreza”.