Cerca de 300 pessoas lotaram o Auditório Teotônio Vilela da Assembleia Legislativa de São Paulo, na manhã desta quarta-feira, para assistir à Convenção Nacional Eleitoral do PSOL, que homologou a candidatura de Plínio Arruda Sampaio para a presidência da república. O evento teve início às 10h30 com a fala de parlamentares do PSOL e diversos intelectuais apoiadores que estavam presentes. Participaram ainda militantes, representantes de movimentos sociais e dirigentes estaduais do partido de diversas regiões do país.
“Ninguém está aqui à toa. Todos têm um sonho e eu agradeço por ser o portador dele”. Assim Plínio deu início à sua fala. O candidato destacou a resistência dos brasileiros, afirmando que ela já dura mais de 500 anos. “Nosso povo é oprimido, mas nunca aceitou a opressão, sempre houve resistência”, afirmou.
Segundo ele o PSOL nasceu para fazer a reconstrução da esperança, que o PT representava, mas que se perdeu pelo caminho. “Estamos em outro contexto, diferente da época em que o PT surgiu. Estamos diante de uma sociedade contente, conformadas com o capitalismo, que acha que muito mais do que isso não pode melhorar”, avaliou Plínio, dizendo que as eleições de 2010 serão tão duras quanto a travessia de um deserto. “Não esperemos facilidade e sucesso imediato. Nossa conquista será a da consciência de dever cumprido”, alertou.
Plínio reafirmou que as candidaturas do PT, PSDB e PV representam a mesma ordem e que o PSOL quer acabar com a mesma. “Somos a candidatura da transgressão da ordem estabelecida”, destacou, lembrando que o partido tem em seu programa de governo ações que a burguesia não tem o interesse e nem coragem de empreitar, como as reformas agrária da educação e da saúde públicas; o fim à criminalização da pobreza e do movimento de desendustrialização pelo qual o país passa; uma reforma urbana que ataque a especulação imobiliária; e a redução da jornada de trabalho. “A reforma agrária não vai melhorar a produção agrícola, mas sim a vida do povo pobre. A redução da jornada de trabalho não é apenas para gerar mais emprego, mas para proporcionar tempo de lazer ao trabalhador, tempo para que ele possa pensar!”, explicou o candidato.
Plínio reafirmou seu compromisso com o socialismo e fez questão de colocar que sua candidatura é do PSOL e que fará a campanha em conjunto com o partido. “Unidos vamos restabelecer e liberar essa esperança e esse sonho que o brasileiro quer colocar para fora!”, concluiu Plínio legitimado pelos aplausos da plateia.
Parlamentares e apoiadores
Em sua fala, o deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) ressaltou a história e trajetória política de Plínio e convocou a militância a furar o bloqueio da mídia e a fazer uma campanha animada, com muita coragem e movimento. “Existe um espaço à esquerda para ser ocupado e ele é do PSOL”, afirmou Valente. Ele relembrou ainda as conquistas mais recentes do partido na câmara federal “É uma grande vitória um partido com apenas três deputados conseguir instalar uma CPI da dívida pública”, destacou. A fala do deputado empolgou os ouvintes e levantou gritos de luta da plateia, que cantou “É socialista, é coerente, Plínio de Arruda presidente!”
De acordo com o deputado estadual Carlos Giannazi (PSOL-SP), a candidatura de Plínio é a única que poderá fazer um debate crítico do sistema atual. “Isso porque ela rompe com a falsa polarização entre PT e PSDB”, disse ele. O deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ) complementou afirmando que a convenção estava sendo a celebração do contraponto. “ É preciso mostrar que o país não está tão bem quanto dizem. Nossa nação é uma loteria biológica, onde dois em cada três brasileiros não terão uma vida digna e decente. Nosso Índice de Desenvolvimento Humano ainda é muito baixo!”, salientou. O senador José Nery (PSOL-PA) também destacou problemas como o trabalho escravo e infantil e o desemprego que infestam todo o país. “Não podemos manter o povo na situação de miséria e violência a que está submetidos. Mas é preciso dizer para as pessoas que o Brasil tem jeito e é somente com Plínio na presidência da república”, declarou.
Já a deputada federal Luciana Genro (PSOL – RS) afirmou que a luta nessas eleições será muito difícil. “Começando pelo boicote da mídia, que só considera três candidaturas”. Ela destacou ainda a falta de recursos do partido frente às máquinas eleitorais milionárias do PT e do PSDB, financiadas pelos maiores bancos do país. “Mas em contraposição temos um grande patrimônio que construímos com nossas ações políticas, como na luta contra a corrupção. Dessa marca não podemos abrir mão e Plínio representará tudo isso muito bem”, concluiu ela arrancado aplausos da plateia.
Com o fim da fala dos parlamentares, os intelectuais presente também manifestaram seu apoio a Plínio. “Nosso atual presidente é um síndico do capital. Vamos nessa eleição em romaria, com Plínio à nossa frente. Plínio, você tem nossa bênção”, anunciou Dom Tomás Balduíno, bispo emérito de Goiás. O geógrafo Aziz Ab’Saber fez questão de destacar o equilíbrio e a sensibilidade de Plínio. “Ele não pensa no outro, ele pensa nos outros. Estou com muito fervor em termos desta candidatura”, declarou emocionado. Waldermar Rossi, membro da Pastoral Operária, também destacou a unicidade de Plínio nessas eleições. “Só ele pode mostrar ao povo que esse modelo vigente não serve. Isso porque fala de forma simples, mas com muita profundidade. Não posso negar apoio a este homem, conhecendo sua história”, disse. O cineasta Silvio Tendler e os sociólogos Chico de Oliveira e Heloísa Fernandes, também marcaram presença no evento e declararam seu apoio ao candidato do PSOL.
Trajetória:
Ex-deputado federal constituinte e um dos fundadores do PT, Plínio de Arruda Sampaio dedicou mais de 50 de seus 79 anos à vida pública. Duas vezes candidato ao governo de São Paulo, a última delas em 2006, pelo PSOL, é a primeira vez que Plínio concorre à Presidência.
Promotor público aposentado e mestre em desenvolvimento econômico internacional pela Universidade de Cornell (EUA), Plínio tem sua história política marcada pela atuação junto à Igreja Católica e pela defesa da reforma agrária. Atualmente, ele é presidente da Abra (Associação Brasileira de Reforma Agrária).
Em seu primeiro mandato como deputado, na década de 60, relatou o programa de reforma agrária do governo do presidente João Goulart. Após o golpe limitar que institui a ditadura, em 1964, teve seus direitos políticos cassados e foi para o exílio. O cargo de promotor, que exercia desde 1954, também foi cassado, só voltando a ser reconhecido em 1984, quando Plínio foi anistiado e aposentado.
Veja a repercussão do lançamento da candidatura Plínio:
R7
Plínio é lançado candidato à Presidência
pelo PSOL e chama Dilma de “poste”
Ele prometeu fazer a reforma agrária e defendeu um sistema de saúde 100% público
José Henrique Lopes, do R7.Texto: ..
Plínio disse que o PT perdeu o rumo e que o PSOL representa
a reconstrução da esperança que surgiu com seu ex-partido.
O PSOL oficializou nesta quarta-feira (30) em São Paulo a candidatura do promotor público aposentado Plínio de Arruda Sampaio à Presidência da República, com a qual o partido tentará se consolidar como a “legítima alternativa de esquerda” no Brasil. A convenção nacional do PSOL foi realizada na Assembleia Legislativa de São Paulo.
Ao discursar, Plínio fez críticas ao PT, legenda que ajudou a fundar e com a qual rompeu em 2005, em meio a denúncias sobre o escândalo do mensalão, e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo ele, Lula “humilhou” o partido ao se aproveitar de seu alto índice de popularidade para impor o nome de Dilma Rousseff para ser sua sucessora. O candidato do PSOL se referiu à ex-ministra da Casa Civil como um “poste”.
“Não há solução no capitalismo”, diz Plínio
– Quando falo em poste, refiro-me não à figura pessoal da candidata, mas à figura política. Quando a gente diz que fulano é tão forte que ele elege um poste, o que a gente quer dizer é que ele é tão poderoso que pode humilhar o partido, e colocar a pessoa que ele quer embora não tenha nem tradição do partido, nem tradição na política.
Para Plínio, a escolha de Dilma representou um “escárnio aos petistas”. Ao recordar a trajetória do PT, disse que foi o “primeiro grande partido nacional que não nasceu nos salões entapetados”, mas lamentou que a legenda tenha “perdido o rumo” nos últimos anos.
– A tragédia é que ele [PT] se desviou, perdeu-se no caminho, perdeu a sua chama de classe e se tornou um partido da ordem.
Para Plínio, o PSOL pode preencher o espaço deixado pelo PT.
– Somos a reconstrução dessa esperança.
O candidato disse que, a exemplo de Dilma, os outros dois presidenciáveis, José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV), “são do campo da ordem estabelecida”.
Ao falar de propostas, o ex-promotor afirmou que colocará em prática, se eleito, um “programa anticapitalista”, que teria como foco a redistribuição da riqueza e da renda. Plínio prometeu fazer as reformas agrária e urbana. Além disso, defendeu a redução da jornada de trabalho, sistemas 100% públicos de saúde e educação e o fim do regime de superávit primário.
Participaram da convenção os três deputados federais eleitos pelo PSOL – Chico Alencar (RJ), Ivan Valente (SP) e Luciana Genro (RS), além do senador José Nery (PA). A ausência ficou por conta da presidente nacional da sigla, Heloísa Helena, que foi a candidata do PSOL ao Planalto em 2006 e para este ano havia defendido o apoio ao nome de Marina Silva, do PV.
Vice
Plínio foi oficializado candidato sem saber ainda quem será seu companheiro de chapa. Há a possibilidade de que o PCB indique um nome caso os dois partidos formalizem uma aliança. O tema será discutido na tarde de hoje pelas siglas.
Portal Terra:
Plínio diz que candidatura de Dilma é um “escárnio aos petistas”
O candidato do Psol à presidência da República, Plínio de Arruda Sampaio, afirmou nesta quarta-feira (30), durante a convenção de seu partido, que a candidatura de Dilma Rousseff (PT) é um escárnio aos petistas. Segundo ele, a indicação de Dilma feita por Lula é um desrespeito aos membros de seu antigo partido. Plínio deixou o PT em 2005 após as denúncias de envolvimento do partido no escândalo do mensalão.
“Vivemos uma realidade ambígua. A crise econômica financeira mundial favoreceu o governo Lula e com a popularidade que ele tem, Lula se acha no direito de colocar como candidata dele um poste político. Não é nada pessoal contra ela, mas Lula humilhou o partido dele. É um escárnio aos petistas”.
Plínio disse que não espera um sucesso imediato do Psol nas eleições de outubro, mas afirma que irá disputar a eleição com a consciência do dever cumprido. “O Brasil vive um período de enfeitiçamento. O povo brasileiro parece estar dopado. Ele percebe que há algo de errado, mas não sabe exatamente o que é”.
Segundo Plínio, o PT se transformou no partido da ordem, se igualou aos outros. “Somos aqueles que pulamos fora. Quem traiu o povo e os petistas foi a cúpula do partido. Nós somos a reconstrução da esquerda”, afirmou Plínio em seu discurso”.
A deputada Luciana Genro foi outra que bateu forte no seu ex-partido. “Não podemos nos aliar com aqueles que sistematicamente denunciamos”.
O deputado federal Chico Alencar (Psol), lembrou que na eleição de outubro o partido irá adotar apenas o nome Plínio e o número 50.
“Vamos suprimir temporariamente o Arruda para que não haja confusão com o mensalão do DEM. Campanha milionária é a porta de entrada do mensalão”, disse. Alencar se referiu ao ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda, que renunciou ao cargo após denúncias de recebimento de dinheiro ilícito.
O Psol define nesta tarde a possibilidade de formalizar uma aliança com o PCB, que indicaria o nome do vice na chapa.