Militante histórica do PT de Minas e primeiro petista a disputar o governo mineiro, em 1982, a ex-deputada federal Sandra Starling se desfiliou ontem do partido contrariada com o PT nacional e com o presidente Lula, a quem chama de “caudilho”.
Após 32 anos de militância partidária, Starling, 66, não aceita a imposição do PT nacional ao diretório mineiro do partido, que não poderá lançar o ex-prefeito Fernando Pimentel para o governo de Minas e terá que se coligar com o PMDB do senador Hélio Costa, em nome da aliança pró-Dilma Rousseff.
Na tarde de ontem, logo após comunicar sua desfiliação ao juiz eleitoral de Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte –documento que encaminharia também ao PT do município–, ela falou à Folha.
“É lamentável que o PT acabe refém de uma pessoa, que é o Lula. [Ele] Tem os seus méritos, mas todo mundo tem algum mérito; virou caudilho no partido, manda, desmanda, decide, todo mundo obedece. Não dá!”
Advogada e cientista política, Starling disse que Lula assinou o mesmo manifesto que ela na fundação do PT e que por isso ele “sabe as regras do jogo: de baixo para cima, um partido onde o trabalhador tem vez e voz”.
Starling, que foi secretária-executiva do Ministério do Trabalho na primeira gestão Lula, declarou: “Agora, que negócio é esse? Ninguém tem vez e voz? Estou fora”.
Ela disse que participou das prévias do PT entre Pimentel e o ex-ministro Patrus Ananias porque acreditou que era um jogo sério e por acreditar na vitória. “Minas merece coisa melhor do que Hélio Costa e [o governador Antonio] Anastasia [PSDB]”.
Starling sai do partido achando que o PT-MG deveria resistir, a exemplo do que faz o PT do Maranhão pelos mesmos propósitos. “O PT de Minas tem pessoas e figuras importantes que poderiam ter se unido para fazer uma resistência. Não é possível que essas coisas passem assim sem que ninguém proteste”, afirmou. (Paulo Peixoto, de Belo Horizonte para a Folha de S. Paulo – 10/06/2010)