Por Gilberto Batista Campos –PSOL/ES e Maykon Rodrigues dos Santos – PSOL/SP.
Das candidaturas à presidência apresentadas é necessário indentificar o que representam de fato, ou seja, a que interesses estão ligadas. Dilma (PT), Serra (PSDB) e Marina (PV) disputam o protagonismo da cena política em torno de quem é o melhor gerente do cassino neoliberal. A diferença entre eles é aparente: sem penetrar nas profundezas da relação entre estado e capital financeiro, estas candidaturas tem como objetivo blindar os interesses da burguesia e do imperialismo.
A democracia é um conceito em disputa. Para as elites, os ricos e à burguesia o limite da democracia são seus interesses econômicos. Desta perspectiva, os programas eleitorais de Dilma, Serra e Marina não tocam em nenhum dos interesses da burguesia e do imperialismo. A “democracia” se converte em uma monótona escolha entre sorridentes candidatos que apenas se diferenciam pelo vermelho, azul ou verde de suas camisas. A natureza da “democracia” burguesa é anti-democrática.
No entanto, se um governo se compromete com uma plataforma de transformações populares, se coloca do lado do povo e da classe trabalhadora, logo esta mesma burguesia mobiliza seu exército de intelectuais orgânicos e seu aparato midiático contra este governo. Exemplo disso, é o que ocorre na Venezuela e Bolívia em que governos democráticos e populares são – o tempo todo – postos em suspeição e tratados como autoritários pois não cedem as chatangens e pressões da burguesia e do imperialismo. Podemos afirmar o mesmo de Cuba que, depois de 51 anos do triunfo da Revolução e da consolidação de seu sistema social e político, é alvo de uma campanha midiática orquestrada pelo Parlamento europeu e o imperialismo norte-americano contra seus êxitos e conquistas.
A “democracia” burguesa – dos mesmos que rechaçam o financiamento público de campanha e se locupletam com os “Caixas 2” e a promíscua relação com o capital privado – não serve aos interesses do povo e da classe trabalhadora. Democracia, para a classe trabalhadora, o povo e os “de baixo” significa oposição, divergência, debate de idéias, projetos e rotas alternativas de conduzir a nação e o futuro do povo brasileiro. Por isso, a candidatura de Plínio de Arruda Sampaio representa o que existe de mais vivo, pulsante e democrático na cena política nacional. Permite falar do que de fato é importante, do essencial, do que torna a política algo que interfere no destino de milhões de homens e mulheres. A candidatura de Plínio propõe um projeto alternativo de fato: que pense a globalidade da política, como projeto de nação, de esquerda e comprometido com a transformação popular e socialista da sociedade brasileira.
Hoje vivemos uma forte recolonização do pensamento social, da sociedade e do estado brasileiro. Este processo histórico-social que a intelectualidade de esquerda chamou de globalização e neoliberalismo, assume feições e contornos mais agressivos e selvagens pois não permite que a crise social em que estamos mergulhados (desemprego, pobreza, violência etc) transforme-se em um forte movimento de questionamento, oposição e rebeldia. Observamos uma militarização da questão social acompanhada da criminalização dos pobres e negros.
Junto a erosão das condições de vida da classe trabalhadora e do protelariado, urbano e rural, o imperialismo e a burguesia nacional desencadeiam um conjunto de ações no campo cultural e ideológico com o objetivo de confundir, frustrar e inviabilizar qualquer alternativa politicamente relevante e socialmente consistente. Um exército mediatizado de jornalistas, economistas, comentaristas, escritores e intelectuais – que defendem e se beneficiam das coisas do jeito que elas estão – inundam o nosso cotidiano de argumentos, informações, diagnósticos e análises em que alertam, de forma catastrófica, sobre os “riscos” da mudança. Em um outro plano, este “contágio” tem seus efeitos na vanguarda social e política brasileira que se mantém dividida ante ao inimigo comum e confinada em suas próprias trincheiras. É uma posição defensiva que não acumula e contribuiu a uma “partidarização” excessiva da luta social em nosso país.
Por outro lado, este mesmo exército de intelectuais mediatizados “exageram” as diferenças entre PT, PSDB e PV pois para eles é necessário que a sociedade brasileira continue acreditando que se tratam de diferentes caminhos (ainda que todos venham parar no mesmo “beco sem saída” da crise capitalista). Tudo isso torna a militância de esquerda e socialista mais complexa e desafiadora. É necessário colocar no centro de nossa ação mais imediata a batalha de idéias, ou seja, municiar os lutadores e lutadoras sociais de sólidos argumentos, idéias e valores que permitam “virar o jogo” em relação a burguesia e o imperialismo.
Quanto mais a candidatura de Plínio tocar nos pontos centrais da crise social brasileira – com propostas concretas para “virarmos o jogo” – mais cumprirá o seu objetivo de fortalecer os laços do PSOL com o povo brasileiro. E é impossível falar de povo brasileiro desconsiderando que negros, “pardos”, “mulatos”, “morenos” e povos originários somos a maior parte deste. Esta maioria quantitativa, infelizmente, não se converteu em maioria política. A vitória do projeto defendido por Plínio e o PSOL permitirá nos convertemos em maioria política: sair da posição defensiva sob os efeitos perversos da política neoliberal a comandantes da transformação democrática e popular da sociedade brasileira. Desta maneira, sairemos da minoridade política e nos colocaremos – como povo – no centro das grandes transformações políticas de nosso país.
A recolonização da sociedade brasileira tem efeitos pervessos sobretudo para o povo negro. Contraditoriamente, uma melhoria de nossa representatividade institucional e nas políticas de combate ao racismo veio acompanhado do aumento da pobreza, da criminalização e da faxina étnica dos territórios negros urbanos. A penetração imperialista em nosso imaginário social está atrelada a reprodução de esteriótipos racistas. O racismo e os seus efeitos na quebra da auto-estima do povo brasileiro é condição necessária à reprodução da ideologia dominante. Para que o povo brasileiro (síntese heterogênea do encontro de povos, raças e culturas) se reecontre é necessário combater o racismo e o imperialismo, colocar nos trilhos a economia brasileira, gerar empregos, fazer a reforma agrária e tonificar nossa democracia. É necessário apresentar um programa de governo que dialogue com as aspirações de realização material e espiritual de milhões. Estaremos contribuindo, através do Setorial de Negras e Negros do PSOL, na construção de propostas de governo que radicalize e amplie as ações de combate ao racismo a partir de uma concepção anti-capitalista e anti-imperialista.
Desta maneira, como ativistas do movimento social negro e militantes partidários, apoiamos com entusiamo a candidatura de Plínio de Arruda Sampaio com a certeza de que ela representa ao povo negro – base do povo brasileiro – a esperança de um governo que aponte em direção a nova sociedade sem exploração, sem faxina étnica, sem racismo e opressão.