DIÁRIO DE MOCOCA: O senhor por um longo período pertenceu ao Partido dos Trabalhadores PT, onde exerceu seu mandato como vereador na cidade de Campinas, por qual circunstância saiu do PT?
Porque o PT esgotou-se enquanto instrumento de luta da classe que vive do trabalho, por melhores condições de vida, trabalho e dignidade. Suas principais lideranças, nos governos e parlamentos fizeram a opção política, de adaptá-lo aos interesses das classes abastadas e oligarquias, abandonando totalmente suas raízes socialistas e humanistas, sob o argumento de não existir outro caminho possível. Há muita gente valorosa no PT, que foi uma grande experiência de construção coletiva, mas isso já não faz mais a diferença na realidade concreta da política. O governo Lula é de direita.
DIÁRIO DE MOCOCA: Em sua história política, o senhor esteve sempre à frente das lutas sociais, em defesa dos professores. Como o senhor analisa a política pública de educação no governo José Serra?
Serra está “coroando” a tragédia da educação pública estadual, resultado de quase duas décadas de governos tucanos em São Paulo. Abandonaram totalmente os valores humanistas da educação em nome dos interesses de mercado. Demitiram trabalhadores, precarizaram as condições de trabalho, sucatearam escolas públicas e criaram mecanismos de desmoralização e punição dos professores com base na “meritocracia”, para justificar a queda da qualidade. Para eles os trabalhadores são responsáveis pela destruição da escola pública!
Por exemplo, no Centro Paula Souza, onde sou professor desde a década de 90 quando o ensino técnico ainda era integrado, os salários estão totalmente defasados e o excesso de burocracia e a vigilância atrapalham no projeto pedagógico. Além disso, uma suposta expansão de vagas de ensino técnico, em convênios fora de unidades do Centro, serve de propaganda do pré-candidato deles. Dizem que ampliaram 180 mil vagas com isso, quando na década anterior fecharam 200 mil vagas de ensino técnico no estado.
DIÁRIO DE MOCOCA: Em São Paulo já faz dezesseis anos de PSDB a frente do governo. Como enfrentar uma campanha milionária polarizada entre Alckmin e Mercadante?
É uma falsa polarização, por isso, tentarão evitar discussões de projetos, pois são semelhantes e atendem aos mesmos interesses. Costumo dizer que o debate entre eles é “samba de uma nota só”. Querem discutir apenas o melhor condutor da máquina. Seus financiadores de campanha, por exemplo, serão os mesmos, como construtoras, empreiteiras e o agronegócio que depois cobram suas faturas e são remunerados.
Furar este bloqueio requer colocar na pauta, em toda oportunidade questões que atingem diretamente a população e que suas soluções necessitam opções políticas e coragem que eles não possuem. Como é o caso de temas como construção de uma educação pública de qualidade, da defesa do Sistema Único de Saúde, das privatizações ou do combate à criminalização da pobreza e dos movimentos, cujo resultado é o extermínio de jovens negros nas periferias das cidades.
É importante que os eleitores(as) percebam como os partidos desses candidatos, vão adaptando suas opiniões e compromissos conforme o “humor do mercado” e os interesses de seus financiadores de campanha.
DIÁRIO DE MOCOCA: O seu apoio ao candidato Plínio de Arruda Sampaio para ser o candidato do PSOL à presidência da República causou certo desconforto dentro do partido, o senhor acredita que existe um racha dentro da legenda? Se este existe, qual a maneira de reconstruir uma nova união para disputar uma campanha saudável sem ressentimentos?
Sou pré-candidato aprovado por unanimidade do diretório do PSOL, delegado pela Conferência Eleitoral que teve importante participação da militância de todo o estado. Serei candidato de todo PSOL. Como um partido democrático e socialista, debatemos com seriedade, acumulamos com nossas divergências e vamos unidos prá luta. Neste momento unitariamente, fazemos o chamado ao PCB e ao PSTU pela construção de uma frente e um projeto alternativo e unitário da esquerda.
DIÁRIO DE MOCOCA: A cidade de Mococa é extremamente conservadora nas urnas, nas últimas eleições o candidato a presidência Geraldo Alckmin obteve mais de 70% de votos válidos aqui, sendo um dos únicos municípios em que a onda do lulismo não conquistou o eleitor. Como a sua candidatura pode reverter esta situação e conquistar os eleitores mocoquenses?
A sociedade mocoquense, assim como a sociedade brasileira até aqui, é chamada às urnas para decidir, porém, depois vê os candidatos e partidos que votou, figurando nas páginas policiais pela corrupção ou com projetos que contrariam aquilo que prometeram, retiram direitos e aumentam despesas.
No caso específico citado, veja as obras de Alckmin como Secretário de desenvolvimento do governo Serra em relação ao Centro Paula Souza. Como já citei anteriormente, faz propaganda oportunista, aproveitando da falta de repercussão de terem fechado 200 mil vagas de ensino técnico em uma década.
Nosso empenho será para fazer o contraponto às mentiras que falam prá população. O PSOL demonstrará alternativas e fará o chamado à participação direta da população no processo de mudanças, sem o que elas não virão.
DIÁRIO DE MOCOCA: Como o senhor observa a política neoliberal privatista do governo José Serra?
A privatização de tudo aquilo que interessar ao mercado é um princípio dos governos neoliberais e da chamada administração pública “moderna”. Portanto, privatizações, em suas diferentes formas, estão para Serra e Alckmin, assim como estão para Dilma e Mercadante ou Marina e Feldman e para todos(as) que representam este projeto.
O importante é salientar que sempre será a população que pagará direta ou indiretamente pelos lucros das empresas seja nos pedágios rodovias ou nos hospitais privatizados, conveniados ou concedidos.
DIÁRIO DE MOCOCA: O Diário de Mococa lhe permite fazer algumas considerações sobre suas propostas para o Governo do Estado de São Paulo, caso seja eleito:
Nosso compromisso será com os interesses da maioria do povo paulista, aquela parcela da população que vive do seu próprio trabalho, não temendo os conflitos.
Reforma agrária e reforma urbana.
Combate a toda forma de discriminação.
Auditoria imediata das dívidas públicas estaduais e dos contratos de concessão.
Fim das privatizações de rodovias e hospitais.
Compromisso com a educação pública de qualidade social. Supressão imediata da meritocracia e da aprovação automática na educação básica paulista e fim das privatizações das universidades públicas.