A cada dia, dez policiais militares de SP são afastados. Programa é voltado aos policiais envolvidos em ocorrências de alto risco; PMs dizem que atendimento é precário
O número de policiais militares afastados do patrulhamento nas ruas do Estado de São Paulo para tratamento psicológico subiu 46% neste ano. São dez baixas por dia.
Dados da Corregedoria da PM (órgão fiscalizador) apontam que 907 policiais foram encaminhados para o Programa de Acompanhamento e Apoio ao PM, no primeiro trimestre de 2010. No mesmo período de 2009 foram 622 – sete a cada dia.
O programa psicológico da PM é voltado principalmente para os policiais envolvidos no que o comando da corporação classifica como “ocorrências de alto risco”, quando ocorre troca de tiros nos chamados casos de “resistência seguida de morte” no horário de trabalho do PM.
A denominação “resistência seguida de morte” não existe no Código Penal. Quando usada pela Polícia Civil para registrar supostas trocas de tiros envolvendo PMs, quem morreu figura como investigado e quem matou (o policial) é a vítima. O atual aumento de inserções de PMs no programa psicológico coincide com o crescimento da letalidade policial no Estado.
A comparação entre o primeiro trimestre de 2009 e o deste ano revelou alta de 40%: subiu de 104 para 146 mortos, isso nos casos de “resistência seguida de morte”.
PMs que já passaram pelo setor psicológico relatam que o atendimento é precário, com profissionais improvisados na função e rejeitados pelos “praças” (soldados, sargentos e cabos), os que estão nas ruas no dia a dia. Procurada, o comando da PM não comentou.
PERDA FINANCEIRA
Quando o PM é inserido no programa psicológico, ele fica praticamente 30 dias fora das ruas e cumpre escala de segunda a sexta-feira. No programa psicológico para os PMs da capital, por exemplo, os policiais passam os 30 dias de afastamento das ruas em atividades físicas, de relaxamento, passeios a museus, atividades lúdicas, cursos de orçamento doméstico etc.
Há também conversas com os psicólogos do programa, que decidem quando eles voltarão às ruas. “Não existe corpo de psicólogos na PM de São Paulo. Tudo é feito com improviso”, diz o deputado estadual Sérgio Olímpio Gomes, o Major Olímpio (PDT), um dos que têm a defesa do policial como bandeira política.
“Cada batalhão devia ter o seu psicólogo. Isso evitaria que muita coisa ruim acontecesse, mas não é o que se vê nos 102 batalhões da PM no Estado. Muitas vezes, o policial sai às ruas à beira de um ataque de fúria e ninguém está lá para ver isso”, afirmou.
662 MORTOS PELA PM
Durante todo o ano passado, ainda segundo a Corregedoria da Polícia Militar, 662 pessoas foram mortas no Estado por policiais, seja no horário de trabalho ou no período de folga – média diária de 1,81 vítimas. Foram 82 PMs mortos em 2009 -66 na folga e 16 no horário de trabalho. (ANDRÉ CARAMANTE, para a Folha de S. Paulo – 24/05/2010)