Depois do Rio de Janeiro, Recife, Belo Horizonte, Fortaleza, Brasília e Porto Alegre, num auditório repleto de militantes e que contou com a presença de parlamentares, convidados e de quase toda a Executiva Nacional do partido, foi a vez dos três pré-candidatos do PSOL à Presidência da República debaterem suas propostas na cidade de São Paulo. Na noite da última segunda-feira (15/03), Babá, Martiniano Cavalcante e Plínio de Arruda Sampaio expuseram suas idéias para a estratégia eleitoral em 2010 e os temas que devem nortear a intervenção do PSOL na disputa presidencial deste ano. Veja também os vídeos e as fotos do debate.
Plínio de Arruda Sampaio, cuja candidatura é defendida por quatro teses do Congresso Nacional do partido, foi o primeiro a falar. Para ele, o socialismo vive uma das conjunturas mais adversas de sua história, mas que não requer desespero, e sim uma atitude tranqüila, porque o socialismo é eterno e tem uma enorme capacidade de se reinventar. “Nossa responsabilidade é fazer com que ele ressurja assim que houver uma condição objetiva para tal”, disse.
Nesta conjuntura, o PSOL teria três tarefas, na avaliação de Plínio: ser o contraponto da alienada campanha que a direta fará; expandir o partido, garantindo sua presença na vida institucional do país; e unificar a esquerda. “O discurso da direita é que o país está bem, que a crise externa foi uma marolinha e que não há alternativa: o capitalismo está aí e o que temos que fazer é melhorá-lo, dar a ele uma face mais humana. E é este discurso que temos que desconstruir. A vulnerabilidade da economia brasileira é cada vez maior e se houver um agravamento da crise a coisa desmorona como um castelo de cartas. Temos que demonstrar na campanha que há uma alternativa ao capitalismo, que não estamos vivendo o fim da história. Que a história está aberta e há um pedaço dela para o socialismo”, avaliou Plínio.
A estratégia para a campanha, em função do nível de consciência da classe trabalhadora, é apostar em reformas radicais que provoquem um desequilíbrio e desencadeiem mudanças no sistema capitalista, como impor limites à propriedade da terra, estatizar a saúde e garantir escola para todo brasileiro. “É aí que vamos aflorar os conflitos. Nosso discurso vai chocar as pessoas, mas não temos que ter medo disso, porque é o choque que vai despertar a consciência de uma massa hipnotizada. Temos que sair do senso comum para o bom senso. Convivemos com um povo que está atemorizado de ter aspirações. E os que estão sentados aqui não renunciaram aos seus sonhos mais legítimos. É esta força, destas ambições e expectativas, que vai fazer com que a massa desperte e possa sentir o que representa uma candidatura de contraponto”, disse Plínio.
Uma grande vitória para o PSOL
Martiniano Cavalcante iniciou sua fala afirmando que o PSOL já teve uma grande vitória com o processo de prévias no partido. “Já não estamos discutindo uma anti-candidatura. Trabalhamos com a idéia de que a campanha do PSOL tem como centro e objetivo principal uma campanha para nuclear os socialistas dispersos no país e que não se trata de apresentar à população um conjunto de medidas de caráter diretamente socialistas. Houve uma reorientação do debate e quero saudar isso”, disse.
Na avaliação de Martiniano, vivemos uma correlação de forças amplamente favorável ao capital, apesar de toda a crise da sociedade capitalista, a ponto de não ter-se identificado a face visível, em nível mundial, de um movimento unificado em oposição ao capital neste início de século XXI. Estamos dispersos e fragmentados e há uma ampla e profunda confusão na mente dos trabalhadores, marcada pela derrocada do leste europeu e a conversão dos Estados do socialismo real de outrora ao capitalismo. “Está disseminada a idéia de que a alternativa de emancipação da humanidade fracassou”, apontou.
Neste contexto de impasse, os socialistas devem enfrentar alguns desafios, como a reivindicação da democracia e a defesa da liberdade, rompendo com a associação do passado que identificava socialismo com ditaduras; e assumir o compromisso com a nova estratégia do ecossocialismo.
“Também é forçoso reconhecer que a grande maioria dos sujeitos políticos transpôs o muro que nos separava dos inimigos de classe e se juntou às forcas do capital, o que provocou uma alteração profunda na correlação de forças que não será vencida do dia pra noite e nos impõe uma capacidade de diálogo e a necessidade de reconstruir um programa”, explicou Martiniano, reivindicando o processo de surgimento do PSOL e sua história de intransigente combate à falsa polarização PT-PSDB. “Não há possibilidade de uma campanha ser vitoriosa se ocultar o confronto direto com essas forças. Não há possibilidade de promover o socialismo e ocultar o crime promovido pelo PT de entregar o acúmulo de décadas de luta socialista às classes dominantes”, acrescentou.
Como temas a serem trabalhados na campanha, Martiniano Cavalcante defendeu, entre outros, o combate à corrupção, a radicalização democrática – com a maior aproximação possível da democracia direta e a convocação de uma nova constituinte -, o fortalecimento do papel do Estado e a convocação de um plebiscito nacional sobre o não pagamento da dívida.
Em defesa da frente de esquerda
Mesmo reconhecendo que a conjuntura não é a mesma dos anos 80, a fala inicial do candidato Babá destacou as inúmeras lutas travadas no período recente pelos trabalhadores no Brasil, em resposta aos ataques sofridos em seus direitos pela política de submissão ao capital financeiro e que desvia recursos públicos para o pagamento de juros da dívida.
“90% das categorias que entraram em greve conseguiram aumento acima da inflação. E é isso que os professores estão fazendo aqui em São Paulo, lutando contra o governo Serra. Se o Arruda está na cadeia, a juventude vai entender que a ocupação da Câmara Distrital chamou atenção nacional para o tema. Não foi a Justiça que conseguiu isso. Os servidores públicos também começam a reagir porque Lula apresentou um projeto, já aprovado no Senado, de congelar por dez anos o salário dos servidores públicos. Ou seja, a situação está começando a mudar e temos um grande espaço a ocupar. Esperamos retomar a frente de esquerda, porque estamos no mesmo lado que PCB e PSTU”, defendeu Babá.
Na opinião do pré-candidato, é preciso se aliar a partidos que estão no mesmo campo que o PSOL – e que neste momento estão juntos na construção de uma nova central – e denunciar aqueles que estão por trás dos governos Lula e Serra. Neste sentido, parabenizou a posição do partido de não aceitar a aliança com o PV de Marina Silva, considerado linha auxiliar de transmissão da polarização PT-PSDB. “Mesmo depois de lançar a candidatura de Martiniano, Heloísa Helena continuou apoiando Marina e dizendo que lutava pela vitória dela. Agora é hora de nos jogarmos nas plenárias para eleger uma candidatura que defendeu candidatura própria do PSOL e não apoio à candidatura de Zequinha Sarney”, criticou.
Babá defendeu como temas centrais da campanha a suspensão imediata do pagamento da dívida pública, a Amazônia, a reestatização de empresas como a Vale e a defesa da mobilização popular. Defendeu ainda o fim do Senado e o financiamento público exclusivo de campanha.
Debate
No momento do debate, outros pontos foram levantados pelas pré-candidaturas, que responderam a questões feitas pelos presentes e comentaram intervenções que defenderam os três nomes colocados em disputa.
Martiniano defendeu a concepção de um programa de transição, que dialogue com os milhões de votos que o PSOL teve, com os setores que ainda estão dentro do PT, com a igreja e os movimentos sociais. “O que faz as massas despertarem não é o choque, é o diálogo. Não é a revolução socialista ou a ditadura do proletariado, são as lutas democráticas que dialogam com as falências deste regime”, acredita. “Seria uma conquista importante pro povo brasileiro se a Marina tivesse assumido bandeiras da esquerda, porque permitiria uma polarização importante que infelizmente não se concretizou”.
Para Babá, ou se serve aos trabalhadores ou se seve ao capital. E para ele o programa democrático popular não deu certo. “Temos que dizer claramente para esta sociedade que queremos pegar este dinheiro usado para salvar bancos para a luta dos trabalhadores. Prefiro ser um radical do que dialogar com a companheira Marina, que foi favorável a toda a política do governo Lula. Como não acredito em conto da carochinha desde criança, não poderia nunca achar que a Marina viesse pra cá”, disse.
Plínio de Arruda Sampaio reforçou a importância de ampliação do partido, através do fortalecimento dos núcleos de base e com a reeleição dos atuais três deputados federais e a ampliação da bancada do PSOL no Congresso. Também defendeu a unidade da esquerda e dentro do partido: “Uma vez terminada a eleição interna, é preciso haver confiança política para enfrentar os inimigos de fora”.
Concluiu deixando clara a estratégia que o PSOL deve adotar a partir de agora, na sua avaliação. “Temos que começar a pedagogia da ação com uma intervenção na lógica fria do capitalismo. Algumas dessas reivindicações são tão radicais que desencadeiam um processo de conflito que leva a classe a ter consciência. Temos que criar uma dinâmica de luta que leve a classe trabalhadora a cumprir o seu papel histórico, que é derrotar o capitalismo. A grande adversidade da nossa conjuntura é que o nosso povo não acredita mais que é possível mudar. Mas não devemos deixar este discurso ser absorvido. O que vai ganhar estas eleições é o testemunho da coragem. Ninguém deve ter vergonha em falar de socialismo”, finalizou.
Para o deputado federal Ivan Valente, que acompanhou o debate na quadra do Sindicato dos Professores e apóia a candidatura de Plínio, a energia do partido já deveria estar nas ruas, porque o PSOL tem um programa para trabalhar. “Estamos ainda numa luta interna. Temos o desafio de escolher o candidato que tenha maior diálogo e visibilidade pública para botar o partido pra fora imediatamente. A militância do PSOL terá a sabedoria de escolher aquele que será capaz de falar aos corações e mentes. E aí vale a experiência, sabedoria e trajetória política”, concluiu.
Plínio de Arruda Sampaio (Fala final):
Martiniano Cavalcante (fala final):
Babá (fala final):