Cesta básica mantém tendência de alta
Dezesseis capitais brasileiras registraram, em fevereiro, alta no preço dos gêneros alimentícios essenciais, de acordo com dados da Pesquisa Nacional da Cesta Básica, realizada mensalmente pelo DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos. Apenas em Goiânia houve queda, de 4,55%. Os aumentos mais significativos ocorreram em Recife (6,84%), Salvador (6,71%), Belo Horizonte (5,26%) e João Pessoa (4,25%). Pequenas variações ocorreram em Belém (0,15%), Aracaju (0,26%), Fortaleza (0,59%) e Porto Alegre (0,81%).
Apesar do pequeno aumento registrado em fevereiro, a cesta básica mais cara foi encontrada em Porto Alegre (R$ 238,46). O segundo maior valor ocorreu em São Paulo (R$ 229,64), sendo seguido por Vitória (R$ 224,74), Manaus (R$ 223,90) e Rio de Janeiro (R$ 221,80). Os menores custos foram apurados em Aracaju (R$ 169,57), Fortaleza (R$ 176,89) e João Pessoa (R$ 179,28).
Com base no valor da cesta observado em Porto Alegre, e levando em consideração a determinação constitucional que estabelece que o salário mínimo deveria suprir as despesas de um trabalhador e sua família com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência, o DIEESE estima mensalmente o valor do salário mínimo necessário. Para fevereiro, o menor salário deveria corresponder a R$ 2.003,30, o que corresponde a 3,92 vezes o piso vigente (R$ 510,00), um pouco mais do que o registrado para janeiro, que ficava em R$ 1. 987,26, ou 3,90 vezes o mínimo. Em fevereiro de 2008, o mínimo necessário era de R$ 2.075,55, o que representava 4,46 vezes o piso de então (R$ 465,00).
Variações acumuladas
Nos dois primeiros meses deste ano, o custo da cesta básica subiu em 14 das 17 cidades pesquisadas. As maiores variações acumuladas foram anotadas em Salvador (8,24%), Recife (7,45%) e João Pessoa (5,07%). As três localidades onde o preço da cesta caiu foram: Brasília (-2,40%), Goiânia (-0,14%) e Fortaleza (-0,04%).
Em comparação com fevereiro de 2009, 13 capitais registraram queda no custo da cesta, com destaque para Goiânia (-9,70%), Brasília (-6,16%), Aracaju (-5,96%) e Curitiba (-5,59%). Recife (2,31%), Belém (1,64%) e Salvador (0,59%) apresentaram aumento. Em João Pessoa, a variação foi nula.
Cesta x salário mínimo
Com a predominância de aumento no custo da cesta básica – parte deles bastante elevada – a jornada de trabalho necessária na média das 17 capitais para a compra da cesta básica pelo trabalhador remunerado pelo salário mínimo subiu de 86 horas e 48 minutos, em janeiro, para 88 horas e 52 minutos, em fevereiro. Há um ano, o tempo de trabalho necessário chegava a 100 horas e 21 minutos.
Estas diferenças também aparecem quando se considera o percentual do salário mínimo líquido – após o desconto da parcela correspondente à Previdência – comprometido com a aquisição dos produtos básicos. Em fevereiro, a compra da cesta demandava 43,91% do valor líquido recebido pelo trabalhador, enquanto em janeiro exigia 42,88%. Em comparação com fevereiro de 2009, a diferença é maior, já que naquele mês era comprometida praticamente a metade (49,58%) do rendimento.
Comportamento dos preços
Os preços dos produtos da cesta básica apresentaram variação mensal positiva generalizada, e apenas três itens tiveram retração na maior parte das capitais pesquisadas. O arroz encareceu em 15 localidades, e as principais elevações ocorreram em Vitória (6,90%), Florianópolis (6,19%), João Pessoa (5,85%), Rio de Janeiro (5,81%) e Salvador (5,26%). Em Goiânia não houve alteração de preço e apenas em Belém foi anotada retração (-0,56%). Em 12 meses, o arroz ficou mais barato em 13 cidades, com destaque para Aracaju (-26,61%), Belém (-18,63%), Goiânia (-12,75%) e Vitória (-11,43%). Os aumentos foram apurados em São Paulo (8,16%), Porto Alegre (2,01%), Rio de Janeiro (0,79%) e Belo Horizonte (0,49%). Apesar de o produto estar em período de safra, a alta mensal foi decorrência de fatores climáticos em várias regiões, com chuvas que alagaram áreas de plantio e escoamento prejudicado por falta de estradas em condições de tráfego.
Também em 15 capitais foi verificada alta no açúcar, com os maiores aumentos apurados em Aracaju (17,98%), Rio de Janeiro (15,84%), Manaus (15,76%), Curitiba (14,51%) e Florianópolis (14,47%). Em Fortaleza (-2,34%) e Brasília (-2,12%), os preços caíram. Em comparação com fevereiro de 2009, o açúcar ficou mais caro em todas as 17 regiões pesquisadas, com taxas extraordinárias, variando entre 25,56%, em Fortaleza e 79,33%, em Florianópolis. A crise financeira chegou a propiciar a redução dos preços devido à queda nas exportações. No entanto, agora com o aumento das vendas para o exterior, os produtores voltaram a praticar preços mais elevados.
O tomate, com alta em 14 capitais, tem seu preço regulado pelo clima. A diminuição das chuvas e aumento do calor provocou o amadurecimento mais rápido, com perdas na colheita e no armazenamento agravadas pelas más condições das estradas, e redução da oferta. As maiores elevações foram observadas em Recife (53,08%), Belo Horizonte (43,50%), Vitória (39,77%) e Rio de Janeiro (39,34%). As três capitais onde os preços caíram foram Goiânia (-6,06%), Belém (-4,24%) e Fortaleza (-1,37%). Em comparação com fevereiro do ano passado, os aumentos atingiram 12 regiões, mas com taxas menores.
Os aumentos mais significativos ocorreram em Vitória (41,38%), Salvador (27,94%) e Recife (23,60%). Entre as cidades onde houve recuo sobressaíram-se Aracaju (-25,81%) e Goiânia (-19,69%). O leite (assim como seu derivado, a manteiga) encareceu em 12 localidades. As maiores altas do leite foram anotadas em Natal (6,25%), Vitória (5,07%), Curitiba (4,85%) e Florianópolis (4,59%). Os preços permaneceram estáveis em Brasília e João Pessoa e caíram em Manaus (-2,95%), Belém (-1,94%) e Fortaleza (-0,56%). Nos últimos 12 meses, o leite teve aumento em 11 capitais, principalmente em Vitória (26,26%), Porto Alegre (21,88%), e Florianópolis (15,05%). Seis outras regiões apresentaram recuo nos preços, com as maiores taxas em Belém (-8,60%) e Recife (-6,60%). Há um ano, o leite teve forte alta, que não se sustentou, pois foi contestado pela população. Atualmente o aumento está novamente sendo provocado, sem, no entanto haver justificativa, uma vez que é época de safra e as pastagens estão em boas condições.
Após sucessivas quedas, o feijão teve alta em 10 capitais, em especial em Porto Alegre (10,64%) e Belém (4,88%). Em Curitiba, não houve alteração e as maiores retrações ocorreram em Salvador (-9,78%) e Aracaju (-5,94%). Na comparação anual, o produto barateou em todas as cidades, com variações entre -18,60%, em Belém e -49,39% em Florianópolis e -49,88%, em Vitória. A queda de produção do feijão, em 2008, fez com que seu preço tivesse forte alta. A safra seguinte foi boa e a grande oferta derrubou os preços do produto. Em fevereiro começou a entrar no mercado uma nova safra com preço elevado, mas ainda há feijão mais barato no comércio.
Dez cidades registraram alta no preço da carne, mas com taxas relativamente pequenas, como ocorreu em João Pessoa (1,87%) e Natal (1,60%). Em Recife e Vitória a variação foi nula. As retrações anotadas em sete capitais também foram relativamente baixas, apenas com uma queda acentuada em Goiânia (-6,26%). Em comparação com fevereiro de 2009, o preço da carne caiu em 15 localidades, com as reduções mais acentuadas observadas em Goiânia (-15,99%), Brasília (-13,13%), Florianópolis (-12,22%) e Vitória (-12,07%). Aracaju (3,96%) e Belém (1,30%) registraram alta no período. As oscilações no preço da carne resultaram de grande oferta, já que as pastagens têm condições de manter o ga
do pronto para o abate, atendendo ao mercado interno mesmo com bom volume sendo exportado.
O óleo de soja foi o produto que mais se destacou dentre os que tiveram predomínio de queda nos preços em fevereiro, com retração em 14 localidades, as principais apuradas em Salvador (-7,06%) e João Pessoa (-6,57%). Os aumentos ocorreram em Fortaleza (1,40%), Aracaju (0,78%) e Manaus (0,38%). Também em 12 meses, o óleo de soja teve recuo de preço em 14 cidades, em especial em João Pessoa (-8,16%) e Salvador (-8,14%). As altas foram apuradas em Aracaju (2,80%), Fortaleza (1,05%) e Manaus (0,38%).
São Paulo
São Paulo registrou, em fevereiro, o segundo maior valor para a cesta básica entre as 17 capitais acompanhadas pelo DIEESE, com o conjunto de 13 produtos alimentícios essenciais custando R$ 229,64. Este valor representou uma alta de 2,05%, em relação a janeiro. Nos dois primeiros meses do ano, na capital paulista, o custo dos produtos básicos subiu 0,64% e em relação a fevereiro de 2009 houve um recuo de 3,24%.
Dos 13 produtos que compõem a cesta básica pesquisada em São Paulo, sete tiveram aumento, dois permaneceram estáveis e quatro caíram. As altas foram apuradas para o tomate (17,03%); açúcar refinado (10,20%); arroz agulhinha tipo 1 (4,95%); manteiga (2,03%); leite in natura integral (1,50%); carne bovina de primeira (0,48%) e café em pó (0,32%). Para a banana nanica e o pão francês, os preços permaneceram estáveis. Os recuos ocorreram nos preços de óleo de soja (-2,52%); batata (-2,42%); feijão carioquinha (-2,17%) e farinha de trigo (-0,38%).
Em comparação com fevereiro de 2009, oito itens apresentaram variação negativa: feijão (-42,79%), café (-19,01%), farinha de trigo (-18,75%), banana (-13,84%), manteiga (-8,02%), óleo de soja (-6,45%), pão (-3,02%) e carne (-2,69%). Os outros cinco produtos subiram: açúcar (58,82%), batata (19,80%), tomate (11,20%), leite (10,14%) e arroz (8,16%).
O trabalhador paulistano que ganha salário mínimo comprometeu, em fevereiro, 99 horas e 04 minutos na aquisição dos produtos alimentícios essenciais. Em janeiro, a mesma compra necessitava o cumprimento de uma jornada de 97 horas e 04 minutos, enquanto há um ano era preciso trabalhar 112 horas e 17 minutos para adquirir os mesmos itens.
A mesma situação é observada quando se leva em conta o valor do salário mínimo líquido – após o desconto da parcela referente à Previdência Social. Em fevereiro, a compra da cesta comprometia 48,94% do rendimento líquido, enquanto em janeiro eram necessários 47,96% do valor recebido pelo trabalhador. Em fevereiro de 2008 a compra demandava 55,48% do salário líquido.
Fonte: Dieese