Em ato-caminhada que reuniu cerca de mil pessoas no centro da capital paulista, feministas de todo o estado homenagearam as mulheres socialistas que estiveram na origem da luta por igualdade, autonomia e liberdade cem anos atrás. Militantes do PSOL, da Secretaria de Mulheres do partido e o deputado federal Ivan Valente também marcaram presença.
Paulina Rosa de Souza Jacinto tem 50 anos e é motorista de ônibus e de caminhão. Herdou a profissão do pai e conta que ainda sofre muito preconceito entre os colegas de trabalho, que não aceitam uma mulher entre eles. “Já usei muito banheiro masculino nas garagens, porque simplesmente não há feminino”, conta. Nesta segunda, Paulina se juntou a suas companheiras do Sindicato dos Condutores e participou, ao lado de cerca de mil mulheres, da manifestação do 8 de Março em São Paulo. Este ano, a data é marcada por um simbolismo especial: em 2010, comemora-se o centenário do Dia Internacional da Mulher.
Em fevereiro de 1910, a socialista alemã Clara Zetkin propôs, na 2a Conferência Internacional das Mulheres Socialistas, a criação do Dia Internacional da Mulher. A ação das operárias russas no dia 8 de março de 1917, precipitando o início das ações da Revolução Russa, é a razão mais provável para a fixação desta data como o Dia Internacional da Mulher.
“A ação das mulheres socialistas no processo da revolução colocou as feministas em outro patamar de luta organizativa”, avalia Luka Franca, da Secretaria Estadual de Mulheres do PSOL. “Desde então, apesar de tantas conquistas, as mulheres têm mostrado que ainda é preciso resistência”, completa Laura Cymbalista, também integrante da secretaria e membro da comissão organizadora do 8 de Março em SP.
Caminhando pelas ruas do centro de São Paulo, foram muitas as bandeiras de luta reafirmadas pelas feministas, da luta pela legalização do aborto ao combate à violência e a todas as formas de opressão.
“Vivemos em um país onde as mulheres são discriminadas e as mulheres negrais, ainda mais. A mulher negra ganha sempre o menor salário, e muitas vezes não tem acesso à escola porque precisa começar a trabalhar cedo”, explica Rosa Anacleto, da Unegro. “A maioria dos pobres também são as mulheres negras. É só olhar pra quem foram as principais vítimas das enchentes em São Paulo: as mulheres que vivem na periferia da cidade”, disse.
E nesta luta pelo combate à opressão e às desigualdades, a busca pela construção de uma sociedade socialista foi reafirmada em diversas falas. “Muitas mulheres morreram para estarmos aqui. Então hoje não é dia do comércio nos oferecer flores. É dia de luta e de guerra para construir um mundo melhor, e este mundo será socialista”, concluiu Berna, da Intersindical.
O deputado federal Ivan Valente participou da manifestação do 8 de Março, que também marcou o início das atividades da Jornada de formação feminista, organizada pela Secretaria de Mulheres do PSOL. A jornada contará com atividades como cine-debate sobre religião e violência contra a mulher, debate sobre o Programa Nacional de Direitos Humanos, sarau em homenagem a Iara Iavelberg, uma oficina sobre a imagem da mulher na mídia e o planejamento dos eixos de luta da Secretaria Estadual de Mulheres do PSOL.