DESAFIO LENINISTA AO PSOL EM 2010
Por Kenzo Jucá - sociólogo; especialista em Desenvolvimento e Direito Ambiental; mestrando em Política e Gestão Ambiental e assessor técnico da Bancada do PSOL na Câmara dos Deputados.
Conforme ensinou o mestre Florestan Fernandes, depois de Lênin o marxismo nunca mais foi o mesmo. Avançou bastante. Mesmo com sua densa contribuição teórica – que fez compreender os processos de desenvolvimento desigual, da revolução socialista, as estruturas do Estado ou a expansão do capitalismo agrário – foi no terreno da prática revolucionária que Lênin se revelou fundamental. Atestou pragmaticamente o caráter dialético do marxismo, que antes era apenas previsão analítica. Para isso, mostrou que a fidelidade teórica ao marxismo pode se revelar temporalmente em táticas de ação que não pressuponham a mera repetição mecanicista de Marx e Engels, prática do esquerdismo e do oportunismo. O desafio é encontrar os caminhos adequados, como fez Lênin. Com dificuldade e sabedoria teórica, o PSOL busca na prática os encontrar e tem conseguido com paciência.
A cena política e a esquerda brasileira ganharam um eixo de transformação importante com o surgimento do PSOL. Avançaram. Em escala menor, o PSTU ajudou antes com a ruptura no seu tempo. A repercussão de massas das rupturas do PSOL com o PT foi gerada por uma combinação entre análises teóricas acertadas da conjuntura e ações práticas temporais adequadas, que possibilitaram saltos reais na luta revolucionária do país. Esse acúmulo consolidou a liderança nacional de Heloísa Helena, que ficou atrás apenas de Lula e do PSDB na reeleição do filho do Brasil. Se pensarmos o músculo separado de seus efeitos, então o negamos – o que mesmo Nietzshe disse. De que nos vale repetir Marx se não conseguimos aplicar a teoria e incidir na realidade?
Acertos políticos táticos e teóricos possibilitaram ao PSOL ser hoje o único setor da esquerda socialista revolucionária com representação parlamentar nacional, estadual e municipal na democracia burguesa brasileira, combinada com presença significativa nos movimentos sociais, sindicais, rurais e populares, além da intelectualidade, movimentos estudantil e cultural, vanguardas e setores médios da sociedade. Sem capitular nem pelegar. São elos de intervenção da mesma política socialista revolucionária que se entrelaçam no jovem e forte PSOL nos 27 estados e distrito federal do Brasil. A política defendida por Martiniano Cavalcante representa bem essa característica de construção coletiva prática e de diálogo do PSOL no Brasil, representada nos quatro maiores setores da direção nacional.
O PSOL é um partido de esquerda respeitado e reconhecido na sociedade brasileira pela ética, seriedade e coerência, que dialoga com diversos setores, não apenas com parcelas deles. Com Heloísa Helena no senado federal em 2010, o PSOL terá sua líder nacional de volta ao centro do debate nacional novamente, uma figura de massas com peso popular no Brasil maior que Ciro Gomes, Aécio Neves e Marina Silva. Será um trunfo de ouro para o PSOL no Brasil ter Heloísa novamente no Senado por oito anos. É fundamental ao PSOL que seu candidato a presidente da República tenha compromisso, responsabilidade e total harmonia com esse acúmulo de capital do partido no país, que representa o sentimento implícito da ampla maioria da direção e da base do partido.
Essa busca de novos caminhos que a tática leninista e a direção do PSOL possibilitam é bastante perigosa, é certo. São caminhos complexos, inovadores e impostos pela dinâmica conjuntural, porém respaldados teoricamente. São também bastante tentadores para os que não possuem firmeza revolucionária. Corre-se até mesmo o risco de dançar o boi-bumbá maranhense, como disse Babá em artigo recente ao se referir a tentativa correta de atrair Marina Silva à estrada dos socialistas. A imensa maioria da esquerda acaba dançando mesmo – vide o stalinismo. Todavia, o PSOL não corre e jamais correu esse risco, fruto do equilíbrio de sua direção. Isso faz a unidade e o partido forte.
Esse ponto concreto da armação política do PSOL para 2010 não pode deixar dúvidas em ninguém – o que Babá, e Plínio por tabela, por fim disseminam. Está claro que a correta resolução desse conflito analítico é capaz de esclarecer as diferenças entre, de um lado, repetições mecanicistas atemporais e oportunistas de Marx e, de outro, exercícios analíticos dialéticos concretos de táticas marxistas leninistas reais e contemporâneas. A habilidade de conduzir esse conjunto de complexidades táticas e teóricas permite uma intervenção nacional e fornece a capilaridade política e social que faz do PSOL um partido respeitado em todo o Brasil. A ampla maioria da direção e da base do PSOL, que aprovaram o início e o fim do diálogo com Marina e a aproximação eleitoral com o PV no RS e com o PSB no AP, demonstram possuir essa compreensão de alguma forma. Martiniano é o único dos três comprometido com essa lógica.
Antes de analisar o movimento tático do PSOL para 2010 é necessário termos os dados reais. Para isso, devemos ter acordo quanto à realidade: primeiramente, a tática de abrir diálogo com Marina foi decidida por voto de cerca de 80% dos membros da Executiva Nacional do PSOL, jamais uma tentativa de “um setor da direção” ou iniciativa isolada de Heloísa Helena, como disse Babá no artigo “PSOL rejeita ser tripa do Boi-Bumbá maranhense”. Essa informação é chave para o debate. Os setores partidários de Plínio e Babá estiveram entre os 20% restantes.
Com relação ao artigo de Babá, o segundo fato real é que a decisão unânime da Executiva em encerrar o diálogo com Marina foi proposta e fruto de análises dos mesmos setores que formularam a tática de aproximação com Marina (MES, MTL/Poder Popular, APS, ENLACE e independentes). Foi motivada pela relação estabelecida com a senadora acreana no processo de diálogo e pela aliança desenhada pelo PV no RJ, ou seja, jamais a “militância do PSOL” impôs nenhuma “derrota sumária” à tática eleitoral de “parte da direção”, como disse Babá, mesmo porque ainda não existiu tal fórum partidário – ocorrerá em abril. O fato simples e real é que a mesma direção nacional do PSOL que definiu pela tática de conversar com Marina foi a própria que decidiu encerrar o diálogo, ambos movimentos motivados pelo mesmo raciocínio analítico tático, que talvez tenha sido um típico movimento leninista.
Parece claro que a candidatura com o perfil que melhor representa esse raciocínio maduro da imensa maioria do PSOL é Martiniano Cavalcante, visto que, a unidade política e a proximidade analítica entre Babá e Plínio demonstram que ambos estão localizados em outro patamar de compreensão e amadurecimento político partidário concreto ou subjetivo. Sabemos todos que Lênin alertou para o esquerdismo, nossa doença infantil congênita. Também nos chamou atenção ao oportunismo.
O PSOL é um partido socialista responsável e coerente. A tática de aproximação com Marina e a imposição dos limites no diálogo, conduzidos conjuntamente por MES, MTL, APS, ENLACE e Independentes na Executiva Nacional, deixam isso evidente. Essa realidade destoa da tentativa de consolidar uma idéia diferente desse processo, através do discurso comum das pré candidaturas Plínio e Babá, o que é admitido por este em seu artigo. Isso embola todo o meio campo. Por outro lado, Martiniano joga livre pelas pontas e é o candidato que possui compromisso com a construção coletiva das táticas e com a unidade e coerência do conjunto do PSOL. Apesar de possuir características completamente distintas entre si, a unidade política e eleitoral do PSOL com o PV em Porto Alegre e a aliança eleitoral com o PSB em Macapá não significaram nenh
uma traição, como fazem crer o discurso “radical” de Babá e Plínio. Foram positivas e mantiveram a coerência do partido, algo que aparentemente apenas Martiniano compreende.
As análises acertadas que o PSOL vem fazendo no decorrer do período de sua existência tem proporcionado ao partido manter um bom patamar de diálogo com a população, apesar das claras dificuldades em romper a falsa polarização PT/PSDB e o bloqueio da mídia. Martiniano Cavalcante é o candidato capaz de conduzir o PSOL nacionalmente em 2010 com a leveza teórica necessária, a indispensável poesia revolucionária, a exigida coerência tática e a indispensável solidez programática, sem deixar de lado a necessária dureza marxista que a disputa entre as classes sociais exige de um revolucionário num processo eleitoral contra Dilma, Serra e Marina.
A curta história de coerência, a identidade do PSOL, bem como a responsabilidade dos setores que conduzem o partido nos distintos lugares do Brasil e que tem compromisso político com a população, seja no Amapá, no Sul, Rio, Acre, Ceará, Alagoas, São Paulo, Bahia, Rondônia, Minas ou Goiás, indicam que Martiniano Cavalcante é o candidato adequado a Presidente da República em 2010, que fará todos crerem que depois do PSOL a política brasileira nunca mais será a mesma. Avançará.
Kenzo Jucá/ sociólogo; especialista em Desenvolvimento e Direito Ambiental; mestrando em Política e Gestão Ambiental e assessor técnico da Bancada do PSOL na Câmara dos Deputados.