Mauro Zanata, de Brasília
Valor Econômico
31/03/2010
A disputa de bastidores entre ruralistas e ambientalistas em torno da reforma das leis ambientais transformou-se ontem em forte pressão política contra empresas financiadoras de campanhas de parlamentares do agronegócio e de patrocinadores da ONG Fundação SOS Mata Atlântica.
A comissão especial do Código Florestal Brasileiro aprovou, a pedido do deputado Ivan Valente (Psol-SP), um convite a dirigentes de sete indústrias de alimentos, papel, celulose, siderurgia e mineração para cobrar explicações sobre as relações entre financiamento eleitoral e exploração de recursos naturais. “Vamos ouvir os representantes das empresas financiadoras de campanhas eleitorais que têm interesse direto no debate sobre as alterações no Código Florestal”, justificou o líder do PSol na Câmara.
A comissão autorizou, por unanimidade, a convocação de executivos da Bunge Alimentos, Sadia, Klabin, Aracruz e Votorantim Papel e Celulose (unidas recentemente na Fibria), além de dirigentes da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e da Caemi Mineração. “Conhecer a posição dessas empresas, algumas estrangeiras e outras com grande participação de capital estrangeiro, é essencial para o enriquecimento do nosso debate”, afirmou Ivan Valente, um dos principais líderes da oposição aos ruralistas.
Na realidade, a convocação é uma retaliação à bancada ruralista por causa de um convite, cuja aprovação foi ratificada ontem, para pressionar cinco empresas patrocinadoras da SOS Mata Atlântica. A organização ambientalista criou enorme constrangimento aos ruralistas por causa da campanha “Exterminadores do Futuro”, uma lista de parlamentares com maior influência nas negociações para as mudanças nas leis ambientais. A pedido do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), relator da reforma do Código Florestal, foram convidados dirigentes de Bradesco, Volkswagen, Coca-Cola, Colgate-Palmolive e American Express.
A iniciativa de Ivan Valente tem como alvo o deputado Aldo Rebelo, cujo papel de principal articulador das alterações no Código Florestal desagradou a ambientalistas. Coordenador da nova Frente Parlamentar Nacionalista, Rebelo é apontado como recebedor de recursos de empresas de capital estrangeiro. “Não recebi de multinacionais, mas de empresas brasileiras. É mais uma tentativa de intimidação”, diz Rebelo. “Há uma disputa entre o interesse nacional e uma aliança que quer imobilizar o país e seu desenvolvimento. Mas vamos cumprir nosso papel com o país”.
A radicalização dos debates e o clima de ameaças começa a preocupar os congressistas. Sobretudo porque envolve interesses empresariais às vésperas da campanha eleitoral. Até lideranças mais radicais passaram a defender um diálogo mais aberto entre os lados. O deputado Sarney Filho (PV-MA), coordenador da Frente Ambientalista, apelou ontem para a reconsideração de ambas as partes. “Talvez não fosse a hora de radicalizar esse debate. Precisamos de mais diálogo”, defendeu.
Mesmo assim, os ruralistas prometem novos capítulos nessa novela de retaliações e ameaças. O presidente da comissão especial do Código Florestal, deputado Moacir Micheletto (PMDB-PR), quer elevar a pressão sobre os ambientalistas e seus financiadores. “O Ivan Valente vai ter que provar que recebemos dinheiro dessas empresas. Isso é uma afronta ao Parlamento”, reclamou. O movimento dos ambientalistas, segundo ele, reflete a pressão sobre seus patrocinadores. “Podemos ter até fazer uma CPI para a SOS Mata Atlântica explicar como usa o dinheiro público em suas campanhas difamatórias. O Bradesco já veio conversar com a gente, mas é preciso que o Roberto Klabin [presidente da SOS Mata Atlântica] também venha explicar as coisas”.
Na próxima semana, a comissão especial do Código Florestal estabelecerá uma data para as audiências públicas com os dirigentes das empresas. Até lá, os bastidores devem ferver com as pressões empresariais.