Por Rodrigo Ávila – da assessoira da liderança do PSOL na Câmara dos Deputados
A ONU está propondo a anulação da dívida externa do Haiti com organismos financeiros como o Banco Mundial. A ONU ainda critica o recente empréstimo do FMI, que começará a ser pago daqui a cinco anos e que contribuirá para promover mais uma onda de endividamento do país.
Diante desse fato, cabe ressaltar que o Haiti é um país que foi historicamente saqueado pelos países do Norte. Ainda no início do século XIX, o Haiti foi obrigado, depois de um bloqueio econômico de dez anos imposto pela França, a assumir e pagar uma dívida externa de 150 milhões de francos-ouro (equivalentes a cerca de US$ 22 bilhões em valores atuais) em compensação à França pela “perda de escravos” que se rebelaram e se libertaram da escravidão em 1804.
A partir do século XIX, o Haiti passou a sofrer invasões dos EUA, que chegaram a saquear reservas do Banco Central haitiano, a pretexto de “cobrar a dívida externa”. Ditaduras militares haitianas – como as dos Duvalier – foram financiadas com empréstimos externos, a exemplo de vários outros países latino-americanos, sem a devida transparência da respectiva contrapartida, tornando-se a nova forma de colonialismo.
Em 1994, o retorno do presidente eleito Jean Bertrand Aristide, que havia sido deposto em 1991 num golpe de Estado, foi vinculado a uma articulação na qual ele deveria se submeter fielmente às políticas recomendadas pelo FMI – Fundo Monetário Internacional, listadas no denominado “Consenso de Washington”. O Haiti abriu suas fronteiras para produtos subsidiados pelos países do Norte, se convertendo em importador de alimentos, num processo de destruição da economia local, a fim de gerar grande contingente de desempregados e, assim, mão-de-obra barata e sem direitos trabalhistas, beneficiando as multinacionais.
Em suma: é preciso auditar e anular a dívida haitiana, e reparar todos os danos causados a esse país pelas políticas equivocadas impostas pelas instituições financeiras multilaterais.