Barbara Vallejos
Na última quarta-feira, 10/02, o Comitê Contra a Criminalização dos Movimentos Sociais reuniu-se na sala dos estudantes da Faculdade de Direito da USP em São Paulo. O tema do debate era a prisão de 9 membros do MST em represália ao ato político que a mídia chamou “invasão da fazenda da Cutrale”. A manifestação exigiu a libertação dos trabalhadores ligados ao MST presos em 26 de janeiro, em Iaras, no interior do Estado. Eu estive presente em representação do DCE da USP,
entidade que acabamos de vencer, após uma eleição acirrada contra a juventude de direita e contra o PSTU e suas práticas aparelhistas.
Plínio foi convidado para a mesa de abertura. Em sua intervenção, que se seguiu à de Gilmar Mauro, liderança do MST, Plínio ressaltou a ousadia do movimento. Saudou os lutadores presentes, falou da importância de resistir e da importância do socialismo. Não falou, porém, de nenhum culpado pelos fatos que não fosse uma distante e abstrata “burguesia”. Seguiu sua fala destacando a ousadia do movimento ao ter derrubado os sete mil pés de laranja. Disse que, quando questionado sobre o ocorrido, ele respondia: “O MST errou. Deveria ter derrubado 70 mil”. O que me deixou mais chocada foi ouvir ainda a declaração: “Antes, os
velhos precisavam impor limites aos jovens. Vejam só… Hoje, Plininho me coloca limites e pede para que eu não dê declarações tão radicais. Mas mesmo assim,digo: deveriam ter derrubado 70 mil!”.
Após as intervenções da mesa, entidades e parlamentares presentes no plenário puderam manifestar-se. Infelizmente, não houve fala do PSOL fazendo críticas mais contundentes ao governo do Estado e ao governo Federal. Plínio falou em socialismo, os parlamentares do PT também falaram e, diferentemente da essência dos fatos, na aparência estivemos muito assemelhados. Os defensores de Lula postularam o PT como a verdadeira ala esquerda socialista de São Paulo,fortalecendo a polarização com o PSDB. Jamil Murad (PCdoB) ressaltou os avanços
da era Lula e da grandeza de suas políticas sociais. Ao fim de seu discurso, apertou com alegria a mão de nossas figuras públicas. A única crítica dirigida ao governo federal e às concessões que esse faz a bancada ruralista foi lançada por uma parlamentar do PT.
Com esse episódio, fica clara a dificuldade que teremos em defender um candidato que tem como objetivo “chocar a opinião pública”, agindo à revelia do debate construído por seu partido e pelos lutadores sociais no diálogo com a sociedade, que deixou claro não estar disposto conquistar o coração daqueles que já não acreditam que seja possível um mundo justo e sem desigualdades, tampouco a traduzir nossos ideiais para a população como um todo, nem mesmo está disposto a construir um programa com a política acumulada por todos os setores do partido.
Não me parece trivial a declaração de que não ouviria os conselhos de Plininho. Tal disposição poderá fazer retroceder o trabalho aberto por todos esses anos de intervenção partidária do PSOL.
Enquanto militante do PSOL, a sensação que tive é que o caráter de partido construído desde sua fundação foi ferido. Não apenas no que diz respeito ao diálogo com as massas e ao caráter amplo do partido. Foi ferida a formulação do PSOL enquanto partido capaz de escancarar a falsa polarização entre PT e PSDB.
O embate de projetos não foi pautado por aquele que se pretende o maior
porta-voz de nossa organização. Enquanto o discurso for de propaganda do
socialismo, sem atacar os opositores reais de nosso projeto, Plínio seguirá sendo o admirado candidato dos sonhos e das utopias, mas será incapaz de postular o PSOL como uma alternativa REAL de transformação. Por isso, no debate, a intervenção de Plínio foi incapaz de impedir que a posição petista saísse como vitoriosa.
Para que o PSOL não perca o acúmulo histórico pelo qual militamos diariamente, além de buscar simplesmente uma personalidade reconhecida entre a intelectualidade e por alguns setores da vanguarda – o que é muito importante –, devemos ter um candidato que não tenha receio de dialogar com amplos setores, expressando nossa política de revolucionária em formas concretas e palpáveis para o povo, elevando sua consciência através da intervenção na realidade.
É fundamental que a candidatura à presidência do PSOL consiga tratar das
demandas reais do povo, polarizando com as opções conservadoras que falsamente se apresentam como adversárias, mas que representam a mesma política: a velha direita demo-tucana e o nefasto petismo que segue iludindo o povo e anestesiando os movimentos sociais.
Não faremos isso se nos apresentarmos, de forma infantil, como iluminados capazes de tratar do socialismo, “chocando a opinião pública”. Conseguiremos dar cabo de nossas tarefas chocando-nos com o lulismo e com a política que dialogue com o movimento de massas. Definitivamente, a nossa opção não pode ser a de contentar-nos com o papel de consciência crítica e radicalizada do PT. A missão
do PSOL é maior. Hoje, o nome capaz de empunhar nossas bandeiras de luta por terra, justiça e igualdade é Martiniano Cavalcante!
Barbara Vallejos é diretora do DCE da USP