Os trabalhadores rurais da Usina Campestre, localizada na cidade de Penápolis (SP), foram brutalmente reprimidos pela Polícia Militar e por seguranças da empresa, na terça-feira (22/12), por realizarem um protesto para reivindicar o pagamento de salários atrasados. A empresa, que durante todo o ano atrasou os pagamentos e conhecidamente não garante as mínimas condições de trabalho, acionou a tropa de choque – que por sua vez agiu de maneira truculenta, reprimindo os trabalhadores com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha.
Só no ano passado, foram 14 usinas paulistas autuadas por haver irregularidades trabalhistas. Alojamentos e transportes em péssimo estado, falta de banheiros para os funcionários, salários atrasados e falta de equipamentos de segurança são problemas comumente encontrados nas usinas daqueles que o presidente Lula chamou de heróis. Mesmo com todas essas irregularidades, os usineiros seguem recebendo créditos e incentivos fiscais dos governos federal e estadual.
A usina Campestre, que pertence a grupo empresarial Companhia açucareira de Penápolis e quem comandou a repressão de ontem contra os trabalhadores, não é diferente das demais usinas. Desde 2002, há denúncias de irregularidades trabalhistas na empresa. Em agosto de 2009, os trabalhadores entraram em greve para garantir que a empresa fornecesse diariamente o preço da cana (como é garantido por Lei), que pode interferir nos salários dos trabalhadores e que era negada pela Campestre.
Durante esse episódio, a empresa também acionou a polícia para reprimir os trabalhadores que exerciam seu direito legítimo de greve. Nessa época, um relatório feito pela Pastoral do migrante, em conjunto com os próprios trabalhadores, apontou as seguintes irregularidades na usina:
1- Os trabalhadores vieram sem registro
2- Em ônibus clandestino – passando fome
3- Tiveram que pagar as suas passagens e comida na viagem
4- Chegaram dia 19 de abril, trabalharam 15 dias sem registro e depois ficaram com as carteiras retidas na empresa – alguns até hoje
5- Muito deles ficaram dormindo no chão por um bom tempo. Só quando houve uma ameaça de denúncia arrumaram algumas camas, sendo algumas velhas e quebradas
6- Pagam aluguel até das geladeiras velhas, caindo os pedaços
7- Pagam o aluguel da casa que o gato alugou, luz, água, comida, gás
8- As casas são velhas os banheiros sem luz e higiene, os trabalhadores têm que tomar banho frio e no escuro
9- A empresa não fornece o preço da cana de manhã, só depois de cortada – ninguém fica sabendo realmente quanto cortou naquele dia, e durante o dia os preços são diferentes.
Os donos do grupo Companhia açucareira de Penápolis (da qual faz parte a usina Campestre), além de não pagarem os trabalhadores e não respeitarem a legislação trabalhista, também estão sendo indiciados pela Polícia Federal por fazerem parte de um grande esquema de sonegação de impostos e fraudes na previdência. Estima-se que o esquema chegou a sonegar R$ 2 bilhões nos últimos cinco anos. Ou seja, enquanto o povo trabalha quase 170 dias do ano apenas para pagar tributos, essa patronal usineira repressora lucra como nunca, através da ultraexploração que sofrem os trabalhadores e da sonegação fiscal. Agora também se soma à longa ficha suja dessa patronal antioperária os crimes de formação de quadrilha, falsificação de duplicatas, emissão de notas frias e falsidade ideológica.
Fonte: Página da LER-QI