Do jornal Valor Econômico de hoje. Do DEM, PSDB ao PT. A matéria relembra nomes que estiveram ou estão envolvidos em escândalos de corrupção, mas mesmo assim podem obter vitórias eleitorais em 2010.
Cristiane Agostine e Raymundo Costa, de Brasília
25/01/2010 – Jornal Valor Econômico
As eleições de 2010 podem representar a volta por cima de governadores, deputados e senadores transformados em verdadeiros zumbis da política na sucessão de escândalos que envolveu a última legislatura. Não importa o partido: a maioria tem chances reais de voltar sacramentada pelo voto em outubro. A exceção, pelo menos nesta eleição, é o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, que se desligou do DEM no desdobramento da Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal. Arruda é o protagonista do show de horrores em que transformou a política de uma cidade que nasceu para ser moderna, mas que às vésperas dos seus 50 anos, exibe os piores vícios da classe.
Além dos políticos com bolsas, meias e cuecas recheadas de dinheiro, estarão na mira do eleitor em outubro pesos-pesados dos mais diversos partidos. Da lista constam o ex-presidente do Senado e atual líder do PMDB, Renan Calheiros (AL); o ex-governador do Maranhão Jackson Lago (PDT-MA) – que perdeu o mandato para a senadora Roseana Sarney por uma decisão da Justiça Eleitoral -; o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) pela acusação de montar o "mensalão mineiro"; o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), por conta dos "aloprados"; e o grupo político do senador José Sarney, especificamente a governadora Roseana, que deve tentar mais um mandato em 2010.
Renan Calheiros passará pelo primeiro teste eleitoral após a crise que o derrubou da presidência do Senado, em 2007. O pemedebista foi acusado de ter despesas pessoais pagas por um lobista e desgastou-se em um processo político que durou mais de seis meses, que o levou a renunciar ao cargo para não ter o mandato cassado. O episódio ainda sobrevive nas páginas de um livro publicado pela jornalista com a qual o senador teve um filho fora do casamento. Até a eleição para a Mesa do Senado, em fevereiro de 2009, Renan vagava, como um "zumbi", pelos corredores da Casa, expressão usada pelos congressistas quando se referem aos colegas caídos em desgraça política.
Aliado de primeira hora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Alagoas, único Estado em que o atual governador de São Paulo, José Serra (PSDB), ganhou as eleições de 2002, Renan manteve, no entanto, os bons contatos e a influência sobre a bancada do PMDB, a maior do Senado. Em pouco tempo retomou o poder e prestígio político, tornando-se credor da eleição de Sarney à presidência do Senado; articulou a eleição do ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTB-AL) para a presidência da Comissão de Infraestrutura do Senado – que acompanha as obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC); e ajudou a sepultar a CPI da Petrobras. Renan mostrou-se fiel a Lula e fez com que a bancada do PMDB, da qual voltou a ser líder após renunciar à presidência da Casa, aprovasse os principais projetos de interesse do governo.
A fidelidade a Lula o ajudará na eleição de outubro. O presidente será um dos seus principais apoiadores e articula com o ex-governador Ronaldo Lessa (PDT) para que ele dispute o governo do Estado, deixando uma das cadeiras do Senado para facilitar a reeleição de Renan. Em recentes pesquisas eleitorais, o pemedebista aparece em terceiro nas intenções de voto para o Senado, atrás da vereadora Heloísa Helena (P-SOL) e de Lessa. A articulação de Lula garantiria a ele a segunda vaga do Senado. Lessa, no entanto, poderá ser sacrificado na disputa por Alagoas, ao enfrentar o governador Teotonio Vilela (PSDB) e Fernando Collor.
Há outra opção sendo articulada nos bastidores, para levar os governistas a ficar com as duas vagas do Senado. Por essa via o candidato ao governo seria o prefeito de Maceió, Cícero Almeida (PP), e a coligação para o Senado teria além de Renan e Lessa, Eduardo Bonfim (PCdoB) e Benedito de Lira (PP). O ex-presidente Fernando Collor também avalia a hipótese de se lançar candidato ao Estado por esse campo.
Seja com Cícero ou Collor, é dado como certo que Renan ficaria com uma das vagas e um dos outros três – talvez Lessa – disputaria a segunda cadeira com Heloísa Helena. A peleja em Alagoas tem tudo para ser acirrada: Teotonio Vilela será candidato à reeleição, tem a máquina nas mãos e o senador João Tenório (PSDB) como candidato a mais um mandato.
A família Sarney, envolvida na crise seguinte a de Renan no Senado, ainda não sentiu no Maranhão os reflexos do desgaste político de 2009. O grupo político pretende manter o controle sobre o Estado e apoiará a reeleição da governadora Roseana Sarney (PMDB). A filha de Sarney aparece em primeiro lugar nas pesquisas de opinião e a família pretende eleger, também, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, para o Senado.
Sarney foi alvo de denúncias de irregularidades durante todo o ano passado, desde sua eleição para a presidência do Senado. Entre as acusações está a contratação de parentes por meio de atos secretos. Durante a crise, ele teve apoio do presidente Lula, que deverá ser retribuída durante a campanha de 2010. A campanha de Roseana deverá ser o principal palanque no Estado para a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), candidata à sucessão de Lula. Na base governista, disputará também o deputado Flávio Dino (PCdoB), derrotado no segundo turno em 2008, quando concorreu à Prefeitura de São Luis. Dino aparece em segundo lugar nas pesquisas e deve ter apoio do PT.
A disputa pelo governo do Maranhão trará outro político envolvido em denúncias desde a última eleição nacional: Jackson Lago (PDT), eleito em 2006 e cassado em 2009, na segunda metade de seu governo. Lago deverá reeditar a disputa de 2006, com Roseana, quando derrotou a pemedebista e derrubou, ainda que por pouco tempo, a hegemonia sarneysista de 40 anos no Estado. O pedetista deverá ter ao seu lado o PSDB, partido que contou com seu apoio nas disputas de 2008.
A eleição de 2010 também será um teste para o ex-presidente do PSDB Eduardo Azeredo. No ano passado o STF aceitou a denúncia contra o tucano no caso que ficou conhecido como "mensalão mineiro". Os ministros do STF concluíram que o Ministério Público deve aprofundar as investigações para apurar o desvio de pelo menos R$ 3,5 milhões dos cofres de Minas Gerais para a campanha à reeleição de Azeredo ao governo local, em 1998. Como forma de manter-se na vida pública e ter foro privilegiado, o ex-governador de Minas e senador disputará uma vaga na Câmara dos Deputados. Para Azeredo, "nunca houve mensalão em Minas". O tucano diz que foi vítima dos vícios da estrutura eleitoral brasileira. "É um problema das eleições. Quem está na vida pública está sujeito a esse tipo de problema."
Azeredo escolheu disputar a Câmara para não ficar sem mandato. No Senado, o PSDB deverá lançar o governador de Minas, Aécio Neves. A hipótese de Aécio ser vice na chapa presidencial, com José Serra, é remota, segundo Azeredo, que na quinta-feira conversou com o governador sobre a montagem da chapa tucana no Estado. A outra vaga de Minas no Senado poderá ficar com o vice-presidente José Alencar. Há ainda a possibilidade de o ministro Hélio Costa (Comunicações) também disputar o Senado, pelo PMDB.
Alvejado pelo caso dos "aloprados", o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) tentará um novo mandato com uma candidatura bem mais tranquila do que foi há quatro anos, quando concorreu ao governo de São Paulo. O caso dos "aloprados" envolveu integrantes de sua campanha na suposta compra de documentos com denúncias
contra José Serra, rival de Mercadante na disputa, e contra Geraldo Alckmin, candidato à Presidência em 2006. O episódio derrubou o coordenador de comunicação da campanha de Mercadante, Hamilton Lacerda. Caiu também da coordenação geral da campanha do presidente Lula o presidente do PT, Ricardo Berzoini – que neste ano deverá tentar mais um mandato como deputado federal.
Dos envolvidos em escândalos, o único que deverá ficar de fora de cargo eletivo em 2011 é o governador José Roberto Arruda, pois não está filiado a partido. Em dezembro, Arruda saiu do DEM, no auge do escândalo do "mensalão do DEM", um suposto esquema de corrupção, com desvio de recursos para pagamento de aliados em troca de apoio. Arruda planeja voltar à cena política em 2014. Nesta eleição, no entanto, deve disputar o governo estadual seu vice, Paulo Octavio (DEM).