A manhã de quarta-feira em Brasília foi marcada por cenas de intensa violência da Polícia Militar sobre manifestantes de realizavam um ato público contra a corrupção em frente ao Palácio do Buriti, sede do governo do Distrito Federal. Participaram do protesto cerca de 1,5 mil pessoas que cobraram a saída do governador José Roberto Arruda, do vice Paulo Octávio e dos deputados distritais envolvidos em esquema de pagamento de propinas.
As agressões começaram já no final do protesto, quando sobraram no local cerca de 150 pessoas, conforme conta Alexandre Varela, dirigente do PSOL de Goiás, presente no episódio. “Alguns militantes bloquearam a avenida, a PM chegou e houve uma negociação. Concordamos em sair e quando caminhávamos pelo canteiro central da via, em direção à rodoviária, a Tropa de Choque veio com tudo”, conta.
Varela, ressalta que em momento algum houve agressão dos manifestantes aos polícias que somavam cerca de 600 homens. “Não existem imagens que provam esses ataques à PM. O que se vê é o contrário. Agora, depois de apanharem, algumas pessoas reagiram para se defender”, explica.
Ele relata que a Tropa de Choque chegou de forma truculenta, preparada para um massacre, para evitar a manifestação de qualquer maneira. “ Já haviam tolerado a ocupação da Câmara Legislativa do DF e estavam ofendidos. Decidiram se vingar naquele momento”, acredita o dirigente.
O ato em frente ao Palácio do Buriti foi organizado por diversos movimentos sociais, e sindicatos e o Sindicato dos Servidores Públicos (Sindser). Camisetas pretas e bandeiras foram utilizadas pelos manifestantes, que também distribuíram adesivos “Fora Arruda e P.O.” a motoristas que passavam no Eixo Monumental
O presidente do PSOL do DF, Antônio Carlos de Andrade, o Toninho, discursou e disse que a unidade da população brasiliense conseguirá derrubar “toda a quadrilha que se alojou no Distrito Federal”. Para ele, não somente o governador e o vice deveriam ser trancafiados na Penitenciária da Papuda, mas também os empresários e parlamentares envolvidos.
Toninho, afirmou ainda que o partido teve presença importante na mobilização e na ocupação da Câmara Legislativa do DF e no protesto de quarta-feira. “ É preciso ampliarmos a mobilização entre o povo, considerando que o poder legislativo local não vai votar o impeachment do governador, já que a maioria dos deputados distritais estão na folha de pagamentos de propinas da corrupção” disse. Para ele, só o povo nas ruas, com suas organizações representativas mobilizadas e em luta, poderão alterar a correlação de forças existente. Toninho ressalta que o PSOL-DF tomou várias iniciativas para as mobilizações, como a edição de panfletos, adesivos para automóveis, camisetas, etc.
“Partiu do governador e do coronel da Polícia Militar espancar a militância. Esse aparato deveria ser utilizado contra os corruptos e ladrões e não contra trabalhadores. O povo do Distrito Federal é honesto e está muito revoltado diante das ações da polícia”, conclui Toninho.
O líder do PSOL na Câmara Federal, deputado Ivan Valente, afirmou durante a manifestação que este é o escândalo mais bem documentado da história, mas alertou sobre a existência de articulação para impedir a saída ou o impeachment de Arruda e Paulo Octávio. Segundo ele, a corrupção na política só terminará quando houver financiamento público exclusivo de campanha, impedindo que montadoras de veículos e empreiteiras façam doações. “Agora, é preciso varrer o Arruda e toda a sua gangue do DF”.
A deputada Luciana Genro parabenizou o grupo de manifestantes que permaneceu por cinco dias na Câmara Legislativa do DF, cobrando a ética na política do Poder Executivo e do Legislativo. “Vamos protestar até que Arruda e sua corja saiam do governo”, afirmou.
O povo não teme a violência. A luta continua
O Movimento Contra a Corrupção – integrado pelo PSOL, CUT, Intersindical, CGTB, Conlutas, PT, PC do B, PSB, PCB, PSTU, PT do B, Partido da Pátria Livre, PDT, UNE, DCE da UNB, DCE da Católica, CUFA, entre outras organizações – realizará no sábado, 12 de dezembro, às 9h, uma carreata que sairá do Estádio Mané Garrincha e irá até a residência oficial do governador. Nesta quinta-feita à tarde, 10, a coordenação do Movimento realizará uma reunião para definir outras ações e estratégias de luta.
A OAB/DF e as demais entidades integrantes do movimento Brasília Limpa convocam toda a sociedade a utilizarem a cor branca nesta quinta-feira. Pode ser uma roupa, uma fita na antena do carro ou um pano pendurado na janela. O gesto será entendido como um protesto contra a corrupção e o desvio de dinheiro público.
Às 13h será realizado, na Praça Zumbi dos Palmares, no Conic, em Brasília, um encontro da Assembleia Popular para discutir o próximos passos a serem tomados. O grupo foi formado durante a ocupação da Câmara Legislativa do DF, na semana passada, e reúne pessoas e organizações diversas.
Corrupção no Rio Grande do Sul
Após quatro meses licenciada, a deputada federal do PSOL, Luciana Genro, retomou suas atividades na Câmara Federal na quarta-feira, 9 de dezembro. Em discurso no plenário ela lembrou que na data celebrava-se o Dia Mundial de Luta contra a Corrupção e citou as mobilizações contra a corrupção no Distrito Federal, do governo de José Roberto Arruda, e também no Rio Grande do Sul, do governo de Yeda Crusius.
Segundo ela, na terça-feira, 8, ela, o Presidente do PSOL do Rio Grande do Sul, Roberto Robaina, e o Vereador Pedro Ruas, fizeram em Porto Alegre mais uma denúncia de corrupção no Governo Yeda Crusius. “Há mais uma casa suspeita na família Crusius e informações que comprovam indiscutivelmente a existência de caixa dois na campanha eleitoral de 2006 da Governadora. Essas informações, aliás, foram trazidas e confirmadas pelo próprio Vice-Governador”, afirma a deputada.
Ana Maria Barbour