No blog do Rodrigo Vianna, sobre os impasses da Conferência de Comunicação. Um interessante relato dos bastidores e da pressão do governo sobre a CUT e a Fenaj para que essas entidades, com peso nas decisões da coordenação da Confecom, cedessem à chantagem dos empresários. Confira:
publicada terça, 15/12/2009 às 09:33 e atualizado terça, 15/12/2009 às 10:09 | 10 Comentários
Como informei aqui, a abertura da Confecom – em Brasília – atrasou em mais de duas horas porque, nos bastidores, o "grupo Bandeirantes" ameaçava sair da conferência, se a comissão organizadora não aceitasse mudar regrasde votação para dar aos empresários direito de veto em algumas questões – http://www.rodrigovianna.com.br/radar-da-midia/bandeirantes-ameacou-melar-a-confecom.
Tarde da noite de segunda, fiquei sabendo que entidades como a CUT e o FNDC (Fórum Nacional de Democratização da Comunicação) tiveram uma postura subserviente e dúbia – favorecendo a chantagem empresarial.
Tentarei ser breve: na manhã de segunda, a Band exigiu a tal mudança de regras; na comissão organizadora, movimentos sociais votaram em bloco contra as mudanças. A Band aí ameaçou sair da Confecom. Sabem o que o governo Lula fez? Pressionou movimentos sociais a aceitar as mudanças. Aí, em nova reunião à tarde, CUT (apoiada pela FENAJ – a federação sindical dos jornalistas), FNDC e outros mudaram seus votos na comissão – cedendo aos "apelos" do governo e da Band.
Foi uma vergonha.
Os dirigentes que tomaram essas decisões vão pagar o preço por elas. Entre o governo aliado à Band e os movimentos sociais, dirigentes da CUT preferiram ficar com com a postura "chapa-branca".
Pra se ter uma idéia do estrago, muita gente ontem à noite ameaçava abandonar a Confecom depois dessa manobra vergonhosa.
Mas aí também seria um exagero. É preciso entender quem é o inimigo principal. O editorial da "Globo" contra a Confecom (leia mais aqui – ) e a chantagem da Band mostram quem é o adversário principal.
O presidente Lula fez um discurso morno na cerimônia de abertura. "Lamentou" que alguns atores ("Globo") tenham preferido se ausentar. Mas perdeu a chance de fazer um discurso histórico, na linha do que marcou o lançamento do pré-sal.
Lula teme os donos dos meios de comunicação. Foi ele que deu a ordem para que a Band fosse atendida em tudo. Lula não gosta de confronto. Se, com quase 80% de aprovação, ele não enfrenta nem a Band, imaginem se vai encarar Globo e outros…
É uma escolha.
Equivocada, na humilde opinião deste "escrevinhador".
A campanha de 2006 foi fichinha perto do que essa turma vai aprontar em 2010. Lula acha que, com essas concessões, vai domar a serpente. Devia era cortar a cabeça da cascavel. Mas ele tem medo.
Ontem, aqui em Brasília, isso ficou claro.
Não sei porque, mas uma vez mais pensei em Leonel Brizola. Ele não temia o confronto. Ainda mais quando sabia que do outro lado está um adversário que, na primeira chance, tentará eliminá-lo.
Lula acha que negocia com os donos da imprensa. Essa gente não negocia. A mentalidade dessa gente é a de fazendeiros da República Velha. A Confecom podia ser uma Revolução de 30. Mas Lula não vai amarrar os cavalos no obelisco de Brasília.
Não. Lula tem medo. É uma pena.
Ainda assim, com muita negociação e maturidade (o que não quer dizer subserviência), acho possível que a Confecom sinalize algumas mudanças importantes nas Comunicações.
O povo dos movimentos sociais tá disposto a encarar a briga. Se Lula fez um discurso morno, a platéia estava quente.
Hélio Costa (ministro que, aliado à Globo, torpedeou a Confecom) foi vaiado feito gente grande. "Helio Costa, que papelão, o empresário é o teu patrão", era o grito da galera enquanto ele discursava.
Um governo que tem Helio Costa como ministro deve ser tratado como um governo em disputa. Não como um governo para o qual se abaixa a cabeça – como fez a CUT.
A CUT também tem medo. Medo do Lula. É uma pena!