Por Raul Marcelo – deputado estadual do PSOL/SP
Há momentos em que uma decisão altera o curso dos acontecimentos. Foi assim quando militantes da esquerda socialista iniciaram a coleta de assinaturas que culminou na fundação do nosso PSOL. Um acerto importantíssimo, que, junto com a Frente de Esquerda em 2006, deu unidade e esperança a milhões de jovens e trabalhadores em todo o Brasil que sonham com Justiça na acepção profunda da palavra – ideal difícil num país marcado historicamente por injustiças colossais.
Uma nova decisão terá que ser tomada nos próximos meses pelo PSOL, que está estruturado nas principais cidades, tem milhares de filiados e militantes, mas ainda está construindo sua identidade no ideário popular. A questão posta é se o PSOL deve ter candidatura própria nas eleições de 2010 ou apoiar a candidatura da senadora Marina Silva, do PV, à Presidência da República. O pressuposto para uma decisão fundamental como esta é refletir sobre os motivos que levaram à construção do PSOL.
Iniciamos esta caminhada com o objetivo claro de impedir que a hegemonia política construída pela burguesia brasileira e internacional sobre o modelo de desenvolvimento do Brasil se transformasse num consenso, mantido pelo PT, o PSDB e seus aliados.
Esta é a grande questão colocada para o Brasil: frear a possibilidade do consenso. E, num segundo momento, avançar na construção de outra hegemonia política, assentada num modelo de desenvolvimento onde os recursos sejam destinados aos gastos sociais e às grandes necessidades do nosso povo.
O atual modelo de desenvolvimento do Brasil, que atende prioritariamente aos interesses da fração do capital portador de juros, promove a maior drenagem de recursos do orçamento público da história, por meio da dívida pública. Em livro publicado recentemente, sob o título “A economia política do Governo Lula”, os professores Luiz Filgueiras e Reinaldo Gonçalves mostram que FHC e Lula repassaram ao capital financeiro mais de R$ 1 trilhão em juros da dívida. De 1995 a 2006, os superávits primários acumulados foram de R$ 489 bilhões e a dívida pública total aumentou em mais de R$ 900 bilhões.
No ano passado, 31% do orçamento executado da União foi gasto na rolagem da dívida, enquanto míseros 4,8% foram para a saúde. Neste ano, a previsão é de que a dívida pública bata em R$ 1,5 trilhão.
A luta pela superação deste modelo foi o motivo que nos levou a cerrar fileiras junto ao PSOL, tendo clara a necessidade de superar o metabolismo do capital na sua atual fase de avanço da barbárie e ameaça à vida pela degradação ambiental. Ou seja, caminhar rumo ao socialismo, revigorado pelas experiências do século XX e atualizado com as questões do nosso tempo.
Pois bem, o que pensam o PV e, mais objetivamente, a senadora Marina Silva, a respeito destas questões? O PV apóia o governo Lula, ocupando o Ministério da Cultura. Os “verdes” também compõem o governo do presidenciável José Serra (PSDB) no Estado de São Paulo, onde chefiam a Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social, e o prefeito Kassab (ex-PFL) na cidade de São Paulo, ocupando a Secretaria do Meio Ambiente. Marina foi ministra do Meio Ambiente de Lula durante sete anos, e permaneceu após a lei dos transgênicos. E não esconde o acordo com a atual política econômica, como evidenciou na entrevista ao periódico Clarín – ao qual declarou que “o Brasil teve avanços significativos com o Plano Real na época do FHC e a distribuição de renda também avançou sob o comando do presidente Lula".
Florestan Fernandes certa vez disse que é fundamental para um militante socialista sempre dizer a verdade ao povo. E a candidatura da Marina é um grande engodo. Pregará a mudança defendendo a manutenção da política econômica e defenderá a preservação ambiental com a manutenção do metabolismo do capital.
O PSOL deve apresentar candidatura própria em 2010. O companheiro Plínio de Arruda Sampaio – militante histórico da esquerda, vinculado aos movimentos sociais e referência nas comunidades eclesiais de base da Igreja Católica – pode desempenhar esta tarefa. Como fez em 2006, como candidato ao Governo do Estado de São Paulo, obtendo mais de meio milhão de votos. O que foi fundamental para eleger dois deputados estaduais (eu e o companheiro Carlos Giannazi) e manter o mandato de deputado federal do nosso camarada Ivan Valente. É possível ampliar este resultado dizendo o que o Brasil precisa ouvir: que o modelo neoliberal apenas atende aos interesses do capital; que PT, PSDB e PV representam os de cima; e que mudar o Brasil de verdade só é possível rompendo com a estrutura econômica e política em curso.
Com esta mensagem, convido todos os militantes do PSOL no Estado de São Paulo a se somarem à defesa da candidatura própria de nosso partido nas eleições do ano que vem.
Nesta sexta-feira (4 de dezembro), às 19 horas, realizaremos uma plenária pela candidatura própria do PSOL nas próximas eleições com toda a militância que defende que o Partido preserve seu perfil e sua independência de classe. Participe: será no auditório do Sinsprev (rua Antio de Godoy, 88 – 2º andar, São Paulo, SP).
Deputado Estadual Raul Marcelo (PSOL/SP)