Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, e todo(a)s o(a)s que assistem a esta sessão ou nela trabalham:
O ex-jogador de futebol Tostão, que, entre outros feitos, integrou a seleção campeã da Copa do Mundo de 70, escreveu artigo sobre a possibilidade de o Governo Federal premiar, com cerca de R$ 400 mil, cada um dos campeões do mundo, pelo Brasil, em todas as Copas.
Ao revelar sua recusa ao prêmio extemporâneo, Tostão, o médico e colunista esportivo Eduardo Gonçalves, mostra que, assim como foi bom de bola, continua bom de cuca. Exemplo não sópara alguns craques dos esportes, tão bem remunerados e, em geral, tão fúteis, mas também para quem está na vida pública e não resiste a uma mordomia, para não falar dos que aí estão sempre motivados a implementar corrupção.
Segue o depoimento de Tostão, que tem um valor incalculável: a publicização da atitude de uma pessoa íntegra! Que os anais da Câmara dos Deputados, tão repletos de loas aos grandes atletas, registrem também os gestos grandiosos dos grandes cidadãos.
“Prêmios e Homenagens”
Na semana passada, ao chegar de férias, soube, sem ainda saber detalhes, que o governo federal vai premiar, com um pouco mais de R$ 400 mil.
Não há razão para isso. Podem tirar meu nome da lista, mesmo sabendo que preciso trabalhar durante anos para ganhar essa quantia.
O governo não pode distribuir dinheiro público. Se fosse assim, os campeões de outros esportes teriam o mesmo direito. E os atletas que não foram campeões do mundo, mas que lutaram da mesma forma? Além disso, todos os campeõesforam premiados pelos títulos. Após a Copa de 1970, recebemos um bom dinheiro, de acordo com os valores de referência da época.
O que precisa ser feito pelo governo, CBF e clubes por onde atuaram esses atletas é ajudar os que passam por grandes dificuldades, além de criar e aprimorar leis de proteção aos jogadores e suas famílias, como pensões e aposentadorias.
É necessário ainda preparar os atletas em atividade para o futuro, para terem condições técnicas e emocionais de exercer outras atividades.
A vida é curta, e a dos atletas, mais ainda.
Alguns vão lembrar e criticar que recebi, junto com os campeões de 1970, um carro Fusca da prefeitura de São Paulo. Na época, o prefeito era Paulo Maluf. Se tivesse a consciência que tenho hoje, não aceitaria.
Tinha 23 anos, estava eufórico e achava que era uma grande homenagem.
Ainda bem que a justiça obrigou o prefeito a devolver aos cofres públicos, com o próprio dinheiro, o valor para a compra dos carros.
Não foi o único erro que cometi na vida. Sou apenas um cidadão que tenta ser justo e correto. É minha obrigação.”
Artigo publicado no Jornal do Brasil, de 11 de outubro de 2009 , e em vários outros jornais do país.
Agradeço a atenção.