Por Honório Oliveira – Membro do Diretório Nacional e integrante da Executiva Estadual do PSOL – RJ
Com a eclosão da crise econômica mundial em 2008 uma nova perspectiva se abriu para os que sonham com um mundo distinto. A crise do capitalismo parecia anunciar a possibilidade de um novo ciclo de transformações estruturais e a abertura de um novo tempo de protagonismo do movimento de massas em resposta à irracionalidade do sistema capitalista. Porém, diferentemente dos nossos prognósticos, os efeitos da crise não assumiram dimensão capaz de pôr as massas em movimento, no Brasil em especial o governo foi hábil e operou para que a crise não tivesse essa consequência. Embora não devamos negar a possibilidade de novas turbulências na cena econômica, o cenário aponta para uma relativa estabilidade da economia brasileira a curto e médio prazo. O Brasil é o destino de grandes investimentos internacionais, a Copa do Mundo e as Olimpíadas podem fazer com que país se consolide como um centro mundial de acumulação de capitais no próximo período. É obvio que essa possível estabilidade econômica não significa absoluta estabilidade política do regime, mas é inegável que quando a economia vai mal, consciências se aguçam, a capacidade de questionamento se eleva, a contestação e a busca por mudanças passam a fazer parte do cotidiano da população que muitas vezes escolhe a via da ação direta para promovê-las. Infelizmente esse não parece ser quadro que vamos enfrentar em 2010. É num cenário de enfraquecimento do movimento de massas e de aprovação estratosférica da figura de Lula que o PSOL vai entrar no embate eleitoral do ano que vem.
O PSOL se afirmou no último período como um projeto de busca por mudanças, se tornou o porta-voz de um setor de massas que não se referencia nem no PT nem no PSDB, tarefa gigantesca cumprida à duras penas graças a correta localização da corrupção como uma das maiores mazelas da política brasileira que no concreto, na vida das pessoas, se manifesta cotidianamente como mazela social no campo e na cidade.
É a partir da leitura de um quadro de refluxo, de grandes dificuldades, com a consciência do povo bastante atrasada e pacificada que devemos ter a capacidade de construir o perfil do nosso projeto em 2010, um projeto que seja capaz de dialogar com esse tipo de consciência, mas que ao mesmo tempo trate de agregar a essa consciência símbolos e caminhos. Isso significa que a opção por propaganda do socialismo e afirmação de uma anti-candidatura por parte do nosso partido em 2010 representa um erro histórico. O PSOL deve compreender-se como parte do povo e de nossa classe, não pode cometer o desvio de fazer política com inspiração filosófica idealista, pois grande parte do povo brasileiro vive em situação de miserabilidade material e intelectual. Seria um golpe no que significa o sentido de existência do PSOL que desde o início se formou para combater a traição do PT buscando ganhar influência de massas, pois sem isso a construção de uma alternativa socialista no Brasil e no mundo não ocorrerá. Ou o PSOL busca influenciar milhões ou será um partido de fraseologia revolucionária apenas, é essa fraseologia a essência de uma anti-candidatura. Fazer propaganda do socialismo sem luta social é vocação de outros partidos, o PSOL não possui essa vocação, importantes lutas democráticas e transicionais devem ter o PSOL na linha de frente, a construção do socialismo em abstrato não pode ser bandeira de quem quer acumular forças para combater a burguesia mais dirigente da América Latina.
As eleições de 2010 talvez sejam a mais difícil prova que o jovem PSOL enfrentará, o cenário que se aproxima tem tudo para ser bastante distinto do que enfrentamos em 2006. No ano anterior às eleições de 2006 o país passava por uma das mais graves crises institucionais que o Brasil já viveu, o escândalo do mensalão abriu espaço para o protagonismo do PSOL e para sua principal figura, Heloísa Helena. Esse episódio abriu um novo ciclo de rupturas importantes no Partido dos Trabalhadores e como resposta do povo aos que combateram implacavelmente os podres negócios do PT e dos políticos corruptos teve um grande triunfo eleitoral, 7 milhões de votos para um partido que tinha apenas um ano de legalidade. Esse ano no escândalo Sarney, Heloísa fez falta no Senado, o cenário eleitoral poderia ser completamente diferente com Heloísa atuando contra Sarney e sua tropa, mas a história não se faz “ses”.
Hoje quadros e dirigentes do Brasil inteiro sabem que Heloísa não concorrerá à presidência, sabem também que o debate fundamental no interior do partido e com parte da sociedade que tem o PSOL como referência é se teremos candidatura própria ou se apoiaremos Marina Silva. Se a decisão fosse tomada por setores do povo que seguem o PSOL e Heloísa a resposta seria uma esmagadora maioria a favor da candidatura Marina. É obvio que esse não pode ser nosso método de decisão e muito menos de análise, mas isso se explica porque apesar de toda caracterização que possamos ter de Marina Silva e do PV, a simbologia desta candidatura para o povo é a da novidade, da luta pelo meio ambiente, da honestidade e da ética, ou seja, a possibilidade da formação de um movimento de cidadania em torno desses eixos e em torno da campanha de Marina Silva existe e certamente arregimentará grande parte dos simpáticos ao PSOL. Podemos ser uma fração socialista por dentro desse processo inclusive apontando suas contradições, independentes, influenciando os setores da juventude e do povo que participará dele, ou podemos ser o inteiro, sozinhos com nós mesmos, disputando com o PSTU – que possivelmente lançará Zé Maria – quem consegue os votos e vence os debates na vanguarda, sem influenciar nem um pouco a elaboração e a construção no imaginário popular de um projeto nacional.
É claro que contradições enormes existem na tática de apoio à Marina, os contornos iniciais de sua candidatura todos nós conhecemos, temos que travar a luta por novos rumos, mas ao mesmo tempo apostar que a candidatura de Marina também será o que o povo fizer dela, e definitivamente o povo não acha que a candidatura Marina Silva seja de direita. Portanto ao PSOL cabe a decisão de viver um processo que pode ser vivo, rico em contradições, mas ao mesmo tempo símbolo de esperança no futuro da humanidade – pois é isso que significa a luta ambiental para o povo – ou falar de construção do socialismo enquanto Estado e burguesia massacram os que lutam pelas mais básicas reformas.
Honório Oliveira – Membro do Diretório Nacional e integrante da Executiva Estadual do PSOL – RJ