Prensa Latina
Que é mudança climática?
O termo mudança climática se refere às variações das condições climáticas do planeta durante períodos relativamente prolongados.
De fato, o clima da Terra nunca foi estável e, dependendo de múltiplos fatores naturais – cuja inter-relação precisa é ainda tema de investigação dos cientistas -, as temperaturas médias globais ascenderam ou descenderam com certa periodicidade durante milhões de anos.
Atualmente, quando se menciona o termo, refere-se quase exclusivamente às aceleradas variações climáticas dos últimos anos, provocadas pela atividade humana.
A Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática do Rio de Janeiro – 1992 – utilizou o termo nesse sentido: "Por mudança climática se entende uma mudança do clima atribuída direta ou indiretamente à atividade humana que altera a composição da atmosfera mundial e que se soma à variação natural do clima observada durante períodos de tempo comparáveis".
Que é esquentamento global?
Com frequência empregado como sinônimo de mudança climática, o esquentamento global é o atual incremento das temperaturas atmosféricas médias de todo o planeta. Por exemplo, durante os últimos 100 anos (entre 1906 e 2005), a temperatura média do planeta se incrementou em 0,74 graus Celsius.
O fenômeno é provocado pela intensificação do efeito estufa, por causa da acumulação de gases na atmosfera que alteram o balanço radiativo do planeta.
Que é efeito estufa?
O efeito estufa é o fenômeno de blindagem térmica produzido de forma natural pela atmosfera.
Os gases do efeito estufa bloqueiam parte da radiação infravermelha emitida pela superfície terrestre para o espaço. Justamente o desequilíbrio (térmico) entre a radiação eletromagnética que nosso planeta recebe do Sol e a que regressa de novo ao cosmos é o que permite que existam condições propicias para a vida na Terra.
Se não existisse a atmosfera, o planeta experimentaria bruscas flutuações climáticas, entre 80 graus Celsius de dia e -130 graus Celsius de noite. A temperatura média seria de -18 graus Celsius em vez dos atuais 15 graus Celsius.
Já em 1820, Jean-Baptiste-Joseph Fourier explicou como a atmosfera é mais permeável à radiação solar incidente que à infravermelha, de maneira que pode conservar calor.
Anos mais tarde, John Tyndall identificou as moléculas responsáveis por dito efeito, particularmente do CO2 e do vapor de água.
Por sua parte, Svante Arrhenius mostrou como, ao multiplicar por dois a concentração de CO2, podiam se produzir significativas mudanças na temperatura terrestre.
Quais são as causas da intensificação atual?
Entre as causas naturais da variação do efeito estufa se contam as grandes erupções vulcânicas, os ciclos de atividade solar ou mudanças na concentração atmosférica de vapor de água, entre outros.
Não obstante, todos os dados indicam que o fator determinante no presente aumento das temperaturas globais é a mudança na composição atmosférica causado pelo homem mediante a emissão de gases, subproduto de atividades industriais e agropecuárias durante os últimos 150 anos.
Desde a época pré-industrial (1750), as concentrações atmosféricas de CO2 se elevaram de 280 ppm (partes por milhão) para 380 na atualidade.
Em conjunto, essa cifra ascende a 430 ppm, se se leva em conta o equivalente em CO2 de todos os gases de efeito estufa produzidos pela humanidade.
Quais são os principais gases do efeito estufa?
– Dióxido de carbono CO2: É gerado em sua maior parte pela combustão de combustíveis fósseis (petróleo, carvão), assim como – indiretamente – pela diminuição dos bosques, principais absorvedores de CO2, destruídos para obter mais terras para a agricultura e para a extração de madeira.
– Metano CH4: Gerado pela extração de combustíveis fósseis, pela criação de gado, pelo cultivo de arroz, pela queima de biomassa.
– Oxido nitroso N2O: Gerado nos processos industriais, assim como pelo emprego de fertilizantes industriais e pelo desflorestamento.
– Diferentes gases que contêm flúor (hidrofluorocarbonos – usados em refrigeração -, perfluorocarbonos – produção de alumínio – e na indústria eletrônica)
O CO2, produzido pela combustão de combustíveis fósseis, contribui para o esquentamento global em 56,6%. O gerado pelo desflorestamento, em 17,3%. O metano CH4, em 14,3%. O óxido nitroso N2O, em 7,9%.
Que futuro nos espera?
Com maior ou menor intensidade, a mudança climática já afeta negativamente a toda a humanidade, e continuará afetando – dependendo do tipo de ações que se adotem – quanto ao acesso à água potável, a produção de alimentos, a saúde, a estabilidade dos ecossistemas, entre outros.
Mas, ainda que seus futuros – e mais intensos – efeitos se sentirão em todo o planeta, será a população dos países mais pobres a que suportará os maiores impactos devido a uma menor capacidade de mitigar as mudanças e de se adaptar a elas.
Se não se adotarem ações efetivas – segundo o principio de responsabilidades compartidas, mas diferenciadas -, a concentração atmosférica de CO2 poderá duplicar-se com respeito aos níveis pré-industriais em 2035, o que implica a curto prazo um incremento das temperaturas médias de uns 2 graus Celsius.
A médio e longo prazo, esse aumento poderia alcançar os 5 graus Celsius, aproximadamente a mesma diferença existente entre as temperaturas da última era glacial e a presente.
Essas alterações climáticas globais trariam como consequência uma mudança na geografia física do planeta.
Por exemplo, poderiam provocar um aumento do nível dos mares de pelo menos entre 15 e 95 centímetros para o fim do século, pelo descongelamento das massas de gelo árticas e antárticas, incluindo as da Groenlândia.
O desaparecimento dos gelos de muitos pontos glaciais de outras regiões ameaçará diretamente com a escassez de água a um sexto da população mundial, particularmente na Índia, na China e na região andina sul-americana.
Doenças atualmente consideradas tropicais poderão afetar uma maior parte da população mundial.
Só 2 graus Celsius de incremento pode levar à extinção de até 40 por cento de todas as espécies animais ou vegetais do planeta. As águas oceânicas ficarão ácidas como resultado do incremento das concentrações atmosféricas de CO2 e isso terá sérias consequências adversas sobre toda a vida marinha.
Em geral, é quase certo que se incrementem os eventos meteorológicos extremos como secas, inundações e ciclones; com consequências letais para milhões de seres humanos.
Que se pode fazer a respeito?
O único caminho para minimizar os efeitos negativos que inevitavelmente se enfrentarão é cortar o mais possível – e o quanto antes – as emissões globais de gases do efeito estufa, pois os danos ambientais não conhecem fronteiras políticas.
Para isso, é imprescindível a cooperação internacional segundo o principio de responsabilidades compartidas, mas diferenciadas.
Torna-se imprescindível a adoção de políticas enérgicas e a criação de novas tecnologias tanto na geração e no uso da energia elétrica como no setor do transporte.
A combinação das vontades políticas e dos avanços técnicos devem permitir, d
e inicio, deter o aumento das emissões desses gases e, a médio prazo, reduzi-las ou inclusive eliminá-las.
Nesse aspecto se destaca o desenvolvimento e o emprego de fontes renováveis de energia naqueles lugares em que seja possível e economicamente fatível.
Outras labores incluem trabalhos de reflorestamento para aumentar global e localmente a biomassa capaz de capturar CO2 e a implantação de estratégias com um menor impacto ambiental no uso das terras.
Impõe-se, ademais, a adoção de planos de adaptação às mudanças climáticas que se aproximam, e já são sofridas, de maneira que seu impacto direto ou indireto sobre a vida das pessoas seja mínimo.
Que é o protocolo de Kioto?
Até o momento, o melhor instrumento vinculante internacional que se logrou para frear o esquentamento global é o Protocolo de Kioto, alcançado em 1997 pela esmagadora maioria da comunidade internacional. Entrou em vigor em 2005.
Estabelece compromissos para reduzir em 5% as emissões com respeito aos niveis de 1990 no período 2008-2012.
Sua entrada em vigor é até o momento o maior logro alcançado na cooperação internacional para o combate à mudança climática.
Estados Unidos, o país que mais contamina o planeta, não aderiu. Tampouco aderiram Canadá, Austrália e Nova Zelândia. Japão ainda falta ratificá-lo.
Nestes momentos, a comunidade internacional enfrenta o desafio de lograr um novo acordo que o substitua. Esse deverá ter em conta a diversidade de interesses resultantes de realidades diferentes, principalmente entre as nações mais ricas e desenvolvidas – que emitem mais gases de efeito estufa e onde habita a minoria da população mundial -, e os países menos desenvolvidos.
Quem são os principais responsáveis pelo esquentamento global?
Toda vez que as tecnologias desenvolvidas até o presente vinculam necessariamente o crescimento econômico a uma maior atividade industrial geradora de gases de efeito estufa, são os países industrializados – com apenas 20% da população mundial – os responsáveis por 60% das emissões anuais de CO2.
Globalmente, o emissor mais importante é Estados Unidos, que produz mais de 20% do total mundial.
As emissões de países com economias emergentes, mesmo tendo crescido durante os últimos anos, ainda se encontram longe de alcançar a dos países mais ricos.
Tradução: Sergio Granja
Fonte: Prensa Latina