Por Luciana Genro e Roberto Robaina
Temos defendido a resolução da Executiva Nacional do partido de abrir negociações para explorar as possibilidades de aliança com a candidatura de Marina Silva. Tal posição foi aprovada por 13 dos 17 membros da Executiva Nacional e também tem recebido o apoio de nossa bancada, dos deputados Ivan Valente, Chico Alencar e do senador Nery, além de Heloísa Helena. Este apoio, por óbvio, não anula a existência de uma oposição interna a esta política. De nossa parte é uma obrigação colocar com clareza, por escrito, o que cada um pensa. Centralmente, quereremos neste texto apresentar duas considerações: a) sobre a natureza da candidatura de Marina, por um lado; b) por outro lado continuar insistindo nas questões que nos parecem condições indispensáveis para que o partido de fato possa apoiar seu nome.
Sobre o conteúdo da candidatura, precisamos descartar um posicionamento que começa a surgir no interior do partido cujo conteúdo consideramos muito grave, qual seja: acreditar que a candidatura de Dilma tem estado à esquerda de Marina. Este é um posicionamento totalmente equivocado que no fundo sinaliza uma capitulação ao PT. É correto dizer que o atual discurso de Marina é politicamente muito ruim, podendo ser considerado como de capitulação aos programas capitalistas. Esta, aliás, é uma das razões pelas quais a Executiva Nacional tem insistido na necessidade de Marina discutir com o PSOL os pontos de uma política econômica realmente popular como uma das questões chaves para avançar num acordo. Mas perceber os erros de Marina não pode ter como desdobramento capitular para o PT. É isso que está por trás da caracterização de que Dilma está à esquerda de Marina.
Tal posição comete o grave erro de considerar possível que uma posição como a de Dilma, representativa dos interesses do capital monopolista, possa ser de esquerda. O capital nunca é de esquerda. Os representantes dominantes do capital são expressões da política conservadora, reprodutora do domínio dos capitalistas e da exploração feroz dos trabalhadores. Isso é o que representa a candidatura Dilma. Uma candidatura representativa de uma burguesia reacionária que atua para aumentar seu poder econômico na América Latina e que impulsiona o governo Lula a cumprir um papel de bombeiro num continente em lutas. Considerar diferente disso é abandonar as definições de classe.
Tendo claro esta caracterização, que se completa com a definição unânime no PSOL de que a candidatura do PSDB é a expressão da velha direita, não passando de um outro bloco que disputa o poder burguês, então podemos tentar definir a candidatura de Marina. E nesta definição vale levar em conta que nada pode ser caracterizado isoladamente. Tudo tem que ser visto como uma relação. E em relação às candidaturas de Dilma e de Serra (ou Aécio), a candidatura de Marina pode ter um papel progressista.
Quando ela rompeu com o PT, sua ruptura foi progressista, como muito bem assinalou o documento votado na Executiva Nacional apresentado pela APS e o Enlace e apoiado pelo MES e Poder Popular. A questão é se o caráter progressista de sua candidatura se manterá em sua campanha ou irá se diluindo. Nosso posicionamento é que o PSOL lute para que se confirme, para que se desenvolva, porque é a única chance real de que nas eleições de 2010 exista um pólo (já que Heloisa não disputará) que seja um contraponto à polarização burguesa conservadora. Esta aposta para dar certo não tem como cair do céu, mas precisa de luta, de esforço e de unidade do partido para que seja realizada como o maior êxito possível. Podemos testar esta política porque Marina, diferentemente de Dilma e Serra, não é um a candidatura que represente os projetos/aparatos burgueses que disputam o poder no Brasil. Trata-se de uma candidatura marginal do ponto de vista burguês, que aglutina um movimento policlassista, mas que não está instrumentalizado por nenhum dos blocos fundamentais do capital. Por isso esta candidatura pode ter o PSOL como aliado. E com o PSOL de aliado, com a presença forte de Heloisa na campanha de Marina, o conteúdo da campanha adquire um perfil opositor como denunciou o ex-ministro José Dirceu.
Mas para que a aliança realmente se concretize temos que vencer algumas barreiras. Em outros textos temos colocado algumas delas. Hoje queremos destacar uma a mais, um ponto que a Executiva Nacional do PSOL deve formalizar em sua plataforma de negociação que ainda não foi incluído: trata-se de aliança com o PSC. De nossa parte defendemos que a candidatura de Marina não tenha aliança com o PSC sob pena de não ter a aliança com o PSOL. Todos sabem que o PV é um partido que tem políticas pró-burguesas. Sabemos também que há políticos neste partido cujas identidades são opostas ao PSOL. Mas é a figura honesta de Marina a que eventualmente – caso se feche o acordo – apoiaremos, e o PV, mesmo carregando um grave histórico de problemas, é um partido pequeno burguês que não pode ser considerado como legenda de aluguel (embora seja muitas vezes instrumentalizado pela burguesia), cujo símbolo programático, a defesa da natureza e da ecologia, é fundamental para os socialistas e para a humanidade enquanto um todo. Já o PSC é uma legenda burguesa de aluguel, cujo principal nome atualmente é o Joaquim Roriz, contra o qual o PSOL entrou com representações no Conselho de Ética no senado. Apresentamos esta proposta de veto a qualquer aliança com o PSC porque na semana que vem a comissão PSOL se reunirá com o PV e nos parece que terá que formalizar esta questão.
Como conclusão, acreditamos que o PSOL deve unir esforços para construir esta candidatura independente, que seja um contraponto ao PT e ao PSDB. O nome de Marina pode ser este contraponto. Se o partido estiver unido em torno desta tática há condições de avançar neste sentido e com o tempo deslocar com mais clareza a campanha para este conteúdo. Mas é preciso determinação e audácia. Feito estes esforços de modo real, não formalmente, sim com real vontade, com consciência desta necessidade, se não tivermos êxito, o partido apresentará seu candidatura própria, mas tendo a certeza que fez todos os esforços, se utilizando das armas possíveis, com todas as suas contradições e fraquezas, para tentar combater a polarização conservadora.
Luciana Genro é deputada federal pelo PSOL/RS e Roberto Robaina é presidente do PSOL/RS e membro da Executiva Nacional do PSOL
Publicado originalmente no site da deputada Luciana Genro em 29/11/09