Por Vitor Castro
“Minha relação com o fotografado é bem intensa, é muito forte”. Não que dê para resumir o trabalho fotográfico de João Roberto Ripper, mas esta frase demonstra o diferencial em seu trabalho de mais de 36 anos como fotógrafo documental. Um pequeno apanhado de seu trabalho está reunido no livro Imagens Humanas, que será lançando no próximo dia 1º de dezembro, no Rio de Janeiro. O livro, que reúne 195 fotografias selecionadas de um acervo de mais de 150 mil imagens, será lançado no Instituto Moreira Salles, às 19h, e conta ainda com um debate com o autor.
Trabalhando com temáticas como trabalho escravo e infantil, índios, favelas, conflitos de terra, trabalhadores rurais, quilombolas, seringueiros, ribeirinhos e vazanteiros, o fotógrafo acredita que o importante na fotografia documental é que as imagens, sendo de denúncia ou de enaltecimento, “devem passar uma situação de querer bem para a pessoa fotografada, uma situação de identidade”. Ripper explica essa relação: “Documentar não é olhar. Não adianta documentar sem tentar ajudar, é preciso pensar em transformar a história”.
Sobre sua relação com as pessoas fotografadas, Ripper diz que se cobra sempre em dar um retorno, seja levando as imagens impressas, realizando projeções ou até mesmo doando o material documentado para entidades que trabalham com os grupos fotografados. Ripper comenta que é muito comum retornar a um lugar fotografado: “as temáticas não se esgotam, nem os problemas. Entendo que a informação tenha que ser feita até que a coisa seja mudada. Minha visão jornalística é de parcialidade, de interferir”. O livro também é uma forma de retorno às pessoas que foram fotografas por Ripper ao longo de sua trajetória. Os direitos autorais serão integralmente doados para o Fórum de Direitos Humanos de Santo Antônio de Jesus, na Bahia.
Idealizador e coordenador do projeto Imagens do Povo, do Observatório de Favelas, Ripper tem lutado ao longo de sua trajetória por uma nova forma de comunicação. Para ele, a comunicação deve ser entendida como um direito humano fundamental. “Todos têm o direito de investigar a informação que desejam e de usar qualquer meio para divulgá-la”, acrescenta. A comunicação, para ele, “tem grande responsabilidade pela não divulgação do belo nas áreas de população menos possuídas e isso tem incentivado o processo de violência e de isolamento de moradores de favelas, índios, trabalhadores rurais e quilombolas”.
O fotógrafo argumenta que as denúncias são importantes, “mas quando se joga todo o peso para cima dos erros, temos um processo de criminalização. A informação, e principalmente a imagem, quando não é mostrada, não existe na formação do pensamento da sociedade”. Sua principal preocupação hoje é em lutar para popularizar a comunicação, como está na Declaração Universal dos Direitos do Homem. Em seu artigo 19, a Declaração diz que todos têm o direito à informação e à comunicação. “A Declaração é o documento que melhor mostra o caminho para melhorias no mundo e ao mesmo tempo o mais desrespeitando”, afirma.
Fonte: Observatório de Favelas