O líder do PSOL, deputado Ivan Valente (SP), reagiu com indignação ao pedido de mais uma CPI para investigar o MST. Para ele, as sucessivas tentativas da bancada ruralista não é dirigida apenas ao MST, mas à reforma agrária que se busca realizar no país. O deputado Marco Maia (PT-RS), que presidiu a sessão do Congresso Nacional, realizada nesta quarta-feira (21), leu o requerimento de criação da CPI mista do MST. “Essa é a defesa da propriedade e não da vida”, destacou o parlamentar.
Esta é a segunda vez que a oposição tenta criar a CPMI. Na primeira tentativa, há cerca de um mês, os governistas conseguiram convencer 42 deputados a retirarem os nomes do requerimento e a CPMI foi arquivada.
O parlamentar socialista acusou os parlamentares que representam o agronegócio, associado a um setor da mídia conservadora, de recriar uma CPI mista, a exemplo do que ocorreu há quatro anos, mas não investigar nada. O deputado Domingos Dutra (PT-MA) reafirmou as palavras de Valente, dizendo que a CPI tem a função de tentar atingir o governo Lula e a candidatura da ministra Dilma Roussef.
Se a bancada ruralista quisesse promover um debate sério sobre a questão fundiária no país, proporia uma CPI para investigar a violência no campo, que já matou mais de duas mil lideranças e apenas 80 mandantes e pistoleiros foram julgados, lembrou Dutra.
“O crime organizado que atua no campo, financiado pelos latifundiários, matou João Batista, Margarida Alves, Chico Mendes, Irmão Dorothy e tantos outros”, diz o parlamentar, acrescentando que “se a bancada ruralista fosse séria deveria investigar danos ambientais que o latifúndio produz no Brasil e a violação dos direitos trabalhistas pelo agronegócio.”
Dívidas do agronegócio
Para os parlamentares, a CPI quer investir contra a reforma agrária e a democracia. “O que está acontecendo é a criação da CPI contra a reforma agrária no Brasil, a favor da monocultura, e para criminalizar o movimento social no nosso país”, disse Ivan Valente, para quem as investigações deveriam ser em outro sentido: para investigar as isenções milionários ao setor de exportação, sobre o adiamento e cancelamento das dívidas do agronegócio, um setor ultra privilegiado, sugeriu.
Valente diz que não precisa ser “lutador ou aliado do MST para dizer que ele tem razão”, citando o artigo do ex-ministro Luis Carlos Bresser Pereira, do PSDB, que diz que o MST talvez seja o movimento mais conhecido em defesa dos pobres desse país e que as terras da Cutrale são reivindicadas pela Incra (Instituto nacional de Colonização e Reforma Agrária) como terra griladas.
O parlamentar lembrou que a agricultura familiar é responsável por ¾ da mão de obra utilizada no campo e ocupa ¼ das áreas cultivadas. Por outro lado, meia dúzia de proprietários detém 98 milhões de hectares de terra.
De Brasília
Márcia Xavier
Matéria publicada no Portal Vermelho