Por Andrés Soliz Rada
O Brasil, ao se tornar um credor do FMI e aumentar sua crença no Banco Mundial (BM) tem se associado com as nações opressoras sufocando as nações oprimidas. O FMI e o Banco Mundial, organizam, controlam e observam a ordem do mundo imposta por grandes potências. Eles são a parte informal do governo dos EUA e eficazes sentinelas do Consenso de Washington, instaurado para quebrar a URSS. São, junto com a Organização Mundial do Comércio (OMC), os “fiéis cães de guarda” do imperialismo (Atilio Boron).
A atual crise econômica mundial, com suas monstruosas quebras de bancos, aumentaram o medo (medo ainda latente) de um descontrolado colapso financeiro. Nesse cenário, os poderosos de sempre abrem as portas para um país emergente como o Brasil, a fim de corrigir fissuras no sistema. Não é verdade, como disse Lula, que seu país agora vai ditar as regras para o FMI e o Banco Mundial. O investimento mencionado não altera o equilíbrio de poder dentro de ambas as instituições, em que os EUA mantém o seu poder de veto.
A verdade, porém, é que Brasília tem reforçado a sua influência na América Latina, e ambos os EUA e a União Européia tem preferido compartilhar seu poderio com o Brasil, como fizeram com a China na OMC. É melhor distribuir a mais valia da periferia, em troca de prolongar o domínio imperial. Antes de se conhecer a decisão do Brasil, o presidente Correa acusou que o FMI pretende causar uma convulsão social na Nicarágua, já que a solução para o pedido de crédito de $ 90 milhões foi condicionada à eliminação completa dos subsídios, congelamento de salários e pensões aos aposentados. Como sempre, se exige o controle da inflação, ajuste fiscal, recessão econômica, liberalização comercial e financeira, a privatização de serviços básicos e recursos naturais, garantia ilimitada para os investimentos estrangeiros e o enfraquecimento dos Estados nacionais.
Quando Lula disse que a partir de agora o FMI e o Bando Mundial irão alterar as regras para proteger o meio ambiente e ajudar os países pobres, exibe uma hipocrisia sem limites. Lembremos que Lula já privatizou um terço da Amazônia e vende grandes volumes de etanol para aos EUA. Seu apoio ao FMI e ao Banco Mundial aumentará a interferência transnacional no Mercosul e impedirá que o Banco do Sul posso implantar o seu potencial. E tudo em nome do povo dedicado do Brasil.
Decisão de Lula coincide com a declaração de nove governos da ALBA, que avançam na sua integração soberana e na criação de uma moeda comum. A realidade mostra que a integração latino-americana não poderá ser feita com o Brasil, senão contra seu governo e outros centros de poder mundial. Paradoxalmente, a Bolívia pedirá ao Banco Mundial dez bilhões de dólares para sua industrialização. A mesma quantidade que o Brasil vai transferir para o FMI para diminuir as preocupações industriais.
O FMI prometeu imediato apoio para o golpista Carmona que derrubou Chávez por algumas horas em 2002. Dezenas de fóruns foram organizados por Cuba contra a dívida externa sob a égide do FMI e do Banco Mundial. Correa e Ortega relataram novos ataques. Por que a ALBA é omissa na decisão de Lula? Fidel Castro manifestou a sua satisfação pela nomeação do Rio de Janeiro para sediar os Jogos Olímpicos em 2016. Ele também elogiou o poder militar e industrial da China. É importante que a agora ele se pronuncie sobre a nova relação do Brasil com o FMI e o Banco Mundial e sobre os métodos utilizados pela China para controlar os recursos naturais na África, que não têm nada a invejar aos utilizados pelas multinacionais ocidentais.
Andrez Soliz Rada é ex-ministro de hidrocarbonetos da Bolívia, o ministro da nacionalização. Foi retirado do cargo por pressão do governo brasileiro sobre o governo boliviano.
Tradução: Carolina de Oliveira